OPERADORES APANHAM NA ALTA E NA BAIXA

As bolsas de ações oscilaram forte na semana, inicialmente reagindo negativamente à movimentação de militares russos na fronteira leste da Ucrânia e também às retaliações de Moscou contras os países que impuseram sanções à Rússia, e na sexta-feira recuperando levemente das mínimas depois que uma agência de notícias informou que o Kremlin vai se esforçar para mediar conversas entre os rebeldes separatistas e o governo ucraniano.

Os conflitos por ora não estancaram, incluindo na Faixa de Gaza, e agora com bombardeios americanos no Curdistão, Iraque, para tentar impedir a tomada pelos Sunitas da principal cidade da região, Arbil.

Os riscos geopolíticos provocaram queda entre 1.5% e 5% nos principais índices acionários europeus, enquanto os indicadores americanos ficaram virtualmente inalterados. Papéis seguros, como os títulos da dívida alemã, holandesa, e finlandesa, chegaram a ser negociados a juros negativos – sinal de uma corrida para a proteção do dinheiro de investidores.

As commodities em sua maioria caíram, com o café em Nova Iorque perdendo mais do que todos os outros componentes do CRB, com queda de 5.07%, ou US$ 15.21 por saca.

É verdade que o movimento de baixa foi mais “ordenado” do que o de alta da semana anterior, ajudando a enganar os mais otimistas que apostaram em uma recuperação mais rápida do arábica, dadas as alarmantes notícias que continuaram a circular nos noticiários.

Também o fluxo de negócios no físico nas origens (que tem café para negociar), refletiu em vendas no terminal, e a decepção de alguns produtores que estavam aguardando níveis de bolsa mais elevados se transformou em um volume de vendas dos contratos futuros que não encontrou o equivalente em compras.

O desmoronamento dos preços, entretanto, teve como componente mais pesado o fechamento negativo da semana retrasada, mencionado no meu comentário anterior, e a resposta de operadores que se baseiam na análise técnica (preponderantemente de leitura dos gráficos) que fez com que os fundos e especuladores de curto prazo devolvessem um pouco de suas compras e adicionassem alguns shorts.

Para completar, o vencimento das opções da série de setembro, que expirou na sexta-feira, contribuiu para a pressão de venda, pois na correria dos rallies dos dias 31 de julho e 1 de agosto muitos venderam puts (opções de venda) dos strikes de 180, 185 e 190 para financiar recompra de calls (opções de compra) – ou seja, muitos apanharam, e feio, dos dois lados em meia dúzia de sessões.

Fundamentalmente os pontos altistas são basicamente os mesmos já há algum tempo, repetidos semanalmente, por exemplo, pelo CNC de que a safra brasileira atual é pequena (embora o mercado tenha participantes com uma percepção muito distinta), a aparência ruim da lavoura no Brasil em função da seca do começo do ano e da colheita que está sendo finalizada, e os problemas de produções futuras na principal origem.

Já os baixistas tiveram novas estatísticas para reforçar seus argumentos de que há café suficiente para atravessar uma safra menor no ano que vem. O CECAFÉ divulgou as exportações do mês de julho, com um total de 2,981,183 sacas, mantendo o volume de embarques nos últimos 12 meses no Brasil como o segundo maior da história. O IBGE revisou sua estimativa da safra 14/15 para 32.9 milhões de arábica e 12.6 milhões de conilon, totalizando 45.5 milhões de sacas – a diferença é que ninguém acredita que a produção de conilon seja menor do que 16 milhões de sacas, logo a produção total é percebida pela maioria como sendo de no mínimo 48.5 milhões de sacas.

Outro fator que tranquiliza os consumidores é o incremento dos estoques nos destinos. No Japão os inventários estão em 3,091,317 milhões de sacas, acima dos 2,76 milhões de um ano atrás. Os certificados da LIFFE voltaram para o mesmo patamar de 2014, ou 1,368,328 milhões de sacas. O incremento também tem acontecido nos Estados Unidos e na Europa, mais uma vez um reflexo natural das exportações maiores de diversas origens que venderam as altas desde fevereiro e março. Um pequeno contraponto é a queda dos certificados do “C”, que voltam para os níveis de outubro de 2002, mas mesmo assim o montante é de 2,424,739 sacas.

Para finalizar tem a questão da demanda que está morta e que explica o motivo dos diferenciais não firmarem para embarques até o final do ano, fazendo a leitura dos torradores internacionais de que o problema que tanto se fala de déficit mundial não é retratado na prática, pelo menos não até agora – sem falar da arbitragem de London x Nova Iorque que está em US$ 100.00 centavos por libra.

O monitoramento das chuvas começa a ser intensificado e há os que não se preocupam contanto que as precipitações não passem de outubro, e os que dizem que precisa chover já no começo de setembro.

Eu acho que se daqui a duas semanas o prognóstico mantiver expectativas de tempo seco a agitação do terminal será grande, e o mercado futuro pode voltar a subir forte. Se por outro lado o período das águas começar em setembro, e for regular, haverá uma nova onda de vendas que derrubará as cotações.

O contrato da ICE precisa segurar acima de US$ 180 centavos para não mergulhar novamente para (o que diante das incertezas acredito ser) o piso em Nova Iorque = US$ 170 centavos.

Não haverá comentário na próxima semana, pois tenho que anualmente obrigatoriamente ficar cinco dias úteis completamente desconectado de e-mails e de qualquer coisa relacionada ao mercado.

Boas semanas e muito bons negócios a todos.

* Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

Fonte: Archer Consulting

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