O EFEITO DO ROBUSTA SOBRE O ARÁBICA

Os ânimos voltaram a inflamar na zona do Euro, inicialmente por uma falta de consenso entre o FMI e a União Européia sobre a Grécia, seguido por protestos de sindicatos na Espanha, Portugal e Grécia, e finalmente pela confirmação de que a região está novamente em recessão – pela 2ª vez em quatro anos.

O ataque de Israel à faixa de Gaza – que matou um dos principais comandantes do Hamas –, o revide (550 mísseis lançados contra Israel) e a convocação de reservistas, também deixou os mercados nervosos.

Os principais índices de bolsas encerraram a semana com perdas de mais de 2%, enquanto as commodities sofreram quedas dos grãos e alta das relacionadas à energia.

O café voltou a cair dos dois lados do atlântico, com baixa de US$ 3.44 por saca em Nova Iorque e US$ 4.50 em Londres.

A leve recuperação do “C” na segunda-feira (provavelmente em função do posicionamento dos fundos) não encontrou suporte, e na sequência voltamos a ver preços negociando a patamares de 11 de junho de 2010 – justamente quando o movimento de alta que mais tempo durou na história do arábica estava começando.

Os altistas estão de cabelo em pé apostando talvez na formação técnica que pode indicar um fundo provisório, ou nos efeitos de longo prazo que as cotações abaixo do custo de produção de várias origens trarão ao mercado.

O fato é que da mesma forma que as cotações há dois anos refletiam uma falta de interesse no incremento de produção, queda de estoques, e demanda resistente à crise, a manutenção da alta por um tempo prolongado resultou em aumento de produção mundial, além de esclarecer que a suposta resiliência ao consumo nada mais foi do que um maior uso do robusta em detrimento do arábica – juntamente com safras recordes para a variedade no Vietnã e mesmo no Brasil.

Sim, estamos soando como disco arranhado, sempre repetindo o tema (mas com variações).

Desta forma se olharmos para o mercado Londrino, e para a remuneração aos produtores desta variedade de café, a indicação é de uma continuação do potencial de crescimento na produção (Índia e Indonésia também estão confirmando safras maiores).

Em poucas palavras: acho que ainda há mais movimentos de baixa pela frente.

E se alguém ainda tem dúvida do que isto implicará ao mercado nova iorquino, basta trazer à memória que um dos fatores responsáveis pelo contrato (na época negociado na NYBOT) cair para US$ 41.50 centavos por libra, foi seu “primo” da LIFFE “valer” nada menos do que US$ 20.70 por saca.

A próxima pergunta seria quanto tempo mais durará este ciclo de baixa, pois o remédio para preços baixos nada mais é do que o próprio preço baixo. Isto vai depender da resposta dos produtores em diminuir o trato cultural, e da consequente revisão negativa de safras futuras. O problema é que dada a natureza do ciclo do café (mais longo) há um “atraso” em refletir tanto mazelas como bonanças.

Para complicar um pouco mais, ou no caso ajudar os baixistas, a desvalorização do Real brasileiro acaba por baixar o “teto” que supostamente poderia dar mais fôlego às recuperações – e alguns analistas sugeriram que o governo brasileiro tem como objetivo deixa-lo “flutuar” para 2.30.

O Brasil deve aproveitar as oportunidades que virão via cobertura de posição (recorde de novo) vendida dos fundos.

Devida ao feriado de Ação de Graças não haverá comentário na próxima semana.

Uma excelente semana e muito bons negócios a todos.

* Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

Fonte: Archer Consulting

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