O café que traz benefícios ao meio ambiente

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São 22 anos de acompanhamento até agora. Nesse tempo, a Embrapa Monitoramento por Satélite vem ganhando mais informações com a análise da produtividade de plantações de café próximas à floresta amazônica. Financiado pelo Banco Mundial, a primeira fase do projeto avalia aspectos sócio-econômicos de um grupo de 460 propriedades rurais para entender as possibilidades de capitalização dos agricultores.

Com áreas de cerca de 50 hectares, os lotes próximos às reservas florestais em bloco iniciaram o plantio do café devido à baixa necessidade do nível de insumos. Dos 460 agricultores vindos das regiões Sul e Sudeste em 1986, hoje 213 continuam produzindo na área e o café representa 80% de suas rendas. De acordo com João Mangabeira, pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, a grande preocupação no início da pesquisa era a possibilidade de desmatamento das florestas, o que felizmente não ocorreu.

Percebemos que os cafeicultores recebiam benefícios ambientais das matas. Em 2008, com a parceria da USP e da Unicamp, partimos para a avaliação do microclima. Nos últimos 10 a 15, vinha ocorrendo forte veranico na época de floração, o que causava o abortamento das flores e perda de produtividade. Fizemos estatísticas com os produtores que estavam próximos ou distantes das florestas e vimos que os primeiros obtinham em torno de 20% a mais na colheita — comenta Mangabeira.

Feita uma terceira avaliação, a partir do contato e de perguntas aos agricultores e de dados multivariados, geoestatísticas, imagens de satélite de alta resolução e literatura especializada, foi verificado que os sistemas agroflorestais melhoram a fertilidade do solo, a captação de carbono, a qualidade da água e o sombreamento das plantações, nas quais as colheitas são manuais. João Mangabeira ressalta que o café agroflorestal é aplicável em todo o Brasil, mas que na Amazônia o cultivo é diferenciado por conta das reservas em bloco.

Com a quantificação da produção, devemos incentivar a agricultura aliada à floresta, por conta da relação benefício/custo. A produção da Amazônia é dificultada pela distância do mercado consumidor e pela diferença do Sudeste e Sul, no que diz respeito à tecnologia e de insumos e mecanização. Assim, é plantado o café conilon, usado para mistura, e não o arábico. Essa é a realidade local — pontua o pesquisador, completando que os cuidados com o solo são fundamentais e que a grande vantagem é que a cobertura florestal protege a terra das chuvas fortes que causam erosões. Ele cita o pequeno município de Machadinho do Oeste, nascido a partir de assentamento feito em 1982, como exemplo de sustentabilidade, já que as reservas foram mantidas e quase 70 cafeicultores estão em plena atividade.

Fonte: Portal Dia de Campo

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