Mudança climática: produção de café pode cair 60%

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A emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, como o gás carbônico (CO2), está provocando o aquecimento global. Isso altera os sistemas climáticos globais e pode trazer tempestades e ondas de calor extremas inesperadas. O polêmico tema das mudanças climáticas, que já é debatido há muitos anos por especialistas, também vai chacoalhar o campo.

A ciência terá que correr contra o tempo para estudar os possíveis efeitos do aquecimento global e minimizar os problemas para a agricultura e a pecuária. “A mudança na temperatura irá mudar o comportamento da semente na lavoura. Há um alto nível de incerteza com relação ao que vai acontecer”, afirmou o pesquisador Henk Hilhorst, da Wageningen University, uma universidade pública holandesa.

Hilhorst fez um alerta durante o XX Congresso Brasileiro de Sementes, em Foz do Iguaçu. Ele contou que as previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) indicam um futuro terrível para a agricultura e citou como exemplo a cultura do café. “O aumento de três graus centígrados na temperatura e um decréscimo de 15% da queda pluviométrica, principalmente em Minas Gerais e São Paulo, podem reduzir a área da produção de café. Baseado em modelos preditivos, para o Brasil, projeta-se que em 2050 haverá uma redução de 60% da produção de café, o que é uma redução tremenda”, afirmou o pesquisador em apresentação no congresso de sementes.

A agricultura deve se adaptar

A mudança climática não poupará ninguém. Segundo o pesquisador, as previsões também indicam queda na produção de café em países produtores da América Central e Ásia. No entanto, para os brasileiros o prejuízo pode ser maior. “Como todos sabemos, o Brasil é o principal produtor de café do mundo. Isso, claro, é desastroso para a indústria da cafeicultura”, afirmou Hilhorst.

De acordo com o pesquisador, a ciência precisa investigar o tema para lidar com a mudança climática. “Temos que saber o que fazer, como podemos mudar a agricultura para que ela seja adaptável a essas novas condições. A agricultura começa com semente, então a minha tarefa é ver o que acontece com as sementes como resultado da mudança climática”, afirmou Hilhorst.

Sementes

Estudos com 14 mil espécies de plantas indicaram que as mudanças são visíveis em diferentes zonas climáticas do mundo, especialmente em florestas tropicais próximas ao Equador. “Vemos um aumento do número de espécies que têm algum tipo de dormência. Num ambiente mais variável, as espécies usam a dormência para sobreviver. Isso é algo importante que devemos saber”, afirmou Hilhorst.

O pesquisador explicou que a mudança climática já influencia na dormência das sementes. Além disso, a temperatura e a umidade impactam no desenvolvimento, germinação, emergência das sementes e o desenvolvimento das mudas. “Depois temos o impacto na formação do banco de sementes no solo”, disse ele. “Estamos enfrentando interações bem complexas. Tudo isso em conjunto pode influenciar mais ou menos o tamanho das populações [de plantas].”

Ele também alertou para a distribuição das sementes, que muitas vezes ocorre com a ajuda de animais, como as formigas. A mudança climática pode atrasar a dispersão das sementes, por exemplo, e quando isso ocorrer, os animais podem não estar disponíveis. Com isso, as sementes não serão dispersadas. Ou seja, a mudança climática pode alterar o sincronismo de processos importantes do campo. “Os animais também estão sujeitos às mudanças climáticas. Se não houver um sincronismo com a flora, isso será um problema sério. Isso pode alterar os índices de distribuição [de sementes] de algumas espécies.”

* A jornalista viajou para participar do Congresso Brasileiro de Sementes a convite da Bayer.

Fonte: Farming Brasil (Por Darlene Santiago)

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