MERCADO DE CAFÉ TEVE TRÊS FATOS MARCANTES NESTE ANO

Fim de ano é um período em que proliferam as retrospectivas. Indicaria três fatos como os mais relevantes no mercado de café em 2010:

1) Mudança na dinâmica dos preços do café no mercado mundial.

Embora o aumento das cotações seja parte da dinâmica de qualquer commodity, o comportamento dos preços do café em 2010 apresentou um componente inusitado, de particular relevância.

Pela primeira vez na história, a alta não resulta de um problema climático grave, mas sim da frágil relação entre a oferta e a demanda, devido ao consumo crescente.

Os preços estão nos patamares de 1998, época em que o mercado, já debilitado pelos baixos estoques decorrentes das geadas de 1994, sofreu forte restrição devido à seca que acometeu as lavouras brasileiras.

Hoje a situação é bem diferente: de acordo com a OIC, a demanda cresce em média 2,4% desde 2000 e, apesar da crise internacional, estima-se que o mundo consumiu 2 milhões de sacas a mais de café em 2010 ante 2009.

2) Aceitação do café brasileiro na ICE Futures.

Não importa que a principal motivação tenha sido a oferta apertada. O fato é que, depois de duas safras consecutivas de fraca produção dos cafés suaves, finalmente a ICE decidiu incluir o café arábica brasileiro na lista de produtos negociáveis na Bolsa de Futuros.

A decisão, obtida após anos de negociação, melhora a liquidez na ICE Futures, além de atestar a qualidade do produto brasileiro.

3) Instrução normativa 16, do Ministério da Agricultura.

Assinada no dia 24 de maio de 2010, Dia Nacional do Café, a instrução define exigências de percentual máximo de impurezas, unidade e padrão básico de sabor, aroma e fragrância do café torrado.

Esses critérios serão avaliados por um classificador credenciado pelo ministério, que emitirá um laudo técnico e fornecerá um certificado.

Trata-se de uma medida controversa, devido ao questionamento natural sobre a capacidade da atual estrutura do ministério de classificar o produto e punir os transgressores.

Esses três eventos indicam novas perspectivas para o futuro. Os produtores brasileiros finalmente terão a chance de colher os frutos de investimentos em qualidade.

* Sylvia Saes é professora do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Fonte: Folha de São Paulo

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