Mais um ano de retração das vendas na área de mudas e sementes de café

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Mesmo que os preços do café estejam mais elevados neste ano do que em 2013, os produtores estão mais cautelosos para investir em suas lavouras, afirmam representantes do segmento. Termômetro dessa postura é o mercado de sementes e mudas (foto: divulgação/Valor), no qual as empresas estimam mais um ano de vendas decepcionantes.

Os mais animados dizem que a retração em relação a 2013, que já foi um ano fraco em algumas regiões, poderá ficar em 25%, mas os pessimistas esperam recuo de até 90%. O fato é que depois do boom observado em 2011 e 2012, reflexo das cotações recorde registradas há três anos, esse mercado ainda terá que esperar um pouco mais por dias melhores.

André Cunha, sócio-diretor da Monte Alegre Sementes, baseada na Alta Mogiana paulista e com atuação em todas as regiões produtoras do país, explica que normalmente as encomendas de mudas são feitas até o fim de junho, já que a produção demora seis meses.

Inicialmente, ele acreditava que a empresa pelo menos manteria o ritmo de 2013, quando as vendas somaram cerca de 3 milhões de mudas e de 7 a 10 toneladas de sementes. Mas a demanda registrada até agora está entre 60% e 70% do esperado.

É fato que a renovação de cafezais demanda investimentos elevados. Dependendo da região e do tamanho dos produtores, podem chegar a R$ 10 mil por hectare. Mas também é verdade que, apesar de os preços do café terem subido em 2014, muitos produtores negociaram sua safra antecipadamente a cotações mais baixas que as atuais, o que limita seu poder de compra.

Cunha observa que ainda não é possível avaliar se o clima adverso no início deste ano, durante o desenvolvimento dos grãos, trará algum problema na germinação das sementes de café que serão usadas para produzir as mudas a serem cultivadas no começo de 2015.

Bruno Belmiro, gerente comercial da Valoriza Agronegócio, que atua nas regiões do Alto Paranaíba e do Triângulo Mineiro, calcula que as vendas da empresa estão cerca de 25% menores que no ano passado, quando atingiram 3,2 milhões de mudas. Segundo ele, em abril de 2013 a companhia já tinha comercializado 100% do viveiro. Mas ele ainda acredita em alguma reação nos próximos meses.

Belmiro avalia que o produtor está descapitalizado e que, diante da grande especulação sobre a quebra de safra atual, resolveu não renovar suas plantações para aproveitar os preços mais atrativos. A substituição de plantas mais velhas por novas causa uma interrupção na produção em parte das lavouras por um determinado período, embora as plantas jovens sejam mais produtivas.

Clésio Aparecido Sacoman, do Viveiro Sacoman, que atende regiões mineiras, como o Cerrado, e Goiás, está entre os otimistas. Ele diz que, neste ano, suas vendas de mudas poderão até crescer um pouco na comparação com 2013, quando houve recuo de 60% em relação às 6 milhões de unidades comercializadas em 2012. Sacoman afirma que os cafeicultores estão amedrontados e que muitos "travaram" o preço do café em patamares de R$ 280 a R$ 290 a saca para entrega em agosto deste ano, ante os atuais R$ 400 (para o café de boa qualidade).

Alysson Fagundes, pesquisador da Fundação Procafé, reforça que a procura por sementes está de fato fraca este ano. A Procafé comercializa sementes em todo o país, mas tem maior atuação no Sul de Minas, a maior região produtora. Neste ano, as encomendas não chegaram a 200 quilos, ante uma média anual que atinge 2 mil.

O atual patamar das cotações do café, elevado por causa da seca que afetou a produção do país neste ano, poderá levar a mais investimentos nas lavouras em 2016, conforme Silas Brasileiro (foto: Ruy Baron/Valor), presidente do Conselho Nacional de Café (CNC). Segundo ele, hoje o produtor está aproveitando os preços melhores para saldar compromissos financeiros.

Celso Vegro, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), também estima que não haverá tanta demanda para novos plantios em 2014. No fim de 2011 e no início de 2012, houve incrementos de área de 5 mil hectares na Mogiana Paulista e de cerca de 25 mil hectares no Sul de Minas, como consequência dos preços recorde em 2011, lembra Vegro. Para ele, a procura por mudas deverá aumentar em agosto e setembro.

Valor Econômico / Carine Ferreira

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