Lideranças da cafeicultura querem valor justo para café natural brasileiro

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Representantes da cafeicultura se reuniram quinta-feira (15) no Centro do Comércio de Café de Minas Gerais – CCCMG – em Varginha para discutir o futuro do café brasileiro na bolsa internacional. Armando Matielli, diretor executivo da Associação Nacional dos Sindicatos das Regiões Produtoras de Café e Leite – Sincal – defende que a saída para valorização do produto no mercado é a comercialização na Bolsa de Valores e Mercadorias Futuras – BM&F – e ou na bolsa de Chicago. “Chicago é concorrente forte de Nova Iorque e tem interesse porque ainda não trabalha com café”.

Uma das propostas apresentadas pela Sincal às lideranças cafeeiras é o investimento em marketing. A intenção é fazer com que os agentes financeiros estrangeiros, bem como os consumidores, entendam que o café do Brasil é produzido de forma natural, sem lavagem e fermentação que são poluidores. “Os cafés lavados perdem grande parte de suas características após seis meses”, explica Matieli.

O cafeicultor brasileiro conserva as características intrínsecas do grão, deixando com que ele permaneça natural. Dessa forma, pode ser estocado por anos.

Guilherme Braga de Abreu Pires Filho, um dos diretores do Conselho dos Exportadores de Café – Cecafé – aponta que o problema é interno: marketing é bom, mas não vai resolver. “Quem faz o preço é o Brasil a partir de políticas de safra que tratem de um esquema financeiro que beneficie o produtor: se houver estoque, haverá alta do produto”.

Para ele, comercializar na bolsa de Nova Iorque é interessante porque o volume de negociações é alto, já existe o contrato e o café brasileiro é o único natural. “Se 70% do produto está sob a comercialização dos supermercados, o que vai mudar a visão dos consumidores internos é preço para gerar fidelidade”.

Archimedes Coli Neto, presidente do CCCMG, concorda com a importância da bolsa de Nova Iorque. “Ela tem uma liquidez muito grande. E no país tem que ser aproveitado também o Contrato de Produtor Rural – CPR – para venda futura”. Ele defende ainda a falta de uma política interna coerente para resolver o fluxo do produto e financiar o cafeicultor, porém mais de 60% do mercado cafeeiro está fora das cooperativas.

De acordo com Matielli, o cafeicultor tem perdido cerca de R$ 200 por saca. “Para mudar esta situação é necessário regular o fluxo, assegurando o produto, a fim de fazer estoque. Se o Brasil conseguir alcançar um crescimento mínimo de 2% ao ano, a dívida de R$ 10 milhões dos produtores rurais vai estar paga. Mas a cada safra, jogamos uma fora”.

José Edgard Pinto Paiva, presidente da Fundação Procafé e da Cooperativa Central de Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais – Coccamig – expõe que o produtor, ao fazer o estoque, carrega toda a responsabilidade. Os incentivos de impostos que o governo oferece, o lucro fica todo com o mercado estrangeiro. “Tem que haver um direcionamento e envolver todos os segmentos da cafeicultura para chegar a um denominador comum”.

 Fotos: Luiz Valeriano/Asscom CCCMG

Fato é que o produtor tem recebido somente 0,5% do lucro rendido ao mercado estrangeiro. E para mudar a situação, ele tem que ter garantias, renda para manter sua safra estocada até conseguir preço justo. Em contrapartida, um dos incentivos que deveria auxiliar é o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira – Funcafé.

Mas acontece que o recurso tem demorado e muito para chegar às mãos do produtor rural. Arnaldo Bottrel Reis, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Varginha e vice-presidente da Sincal – assegura que o dinheiro já está à disposição. “São os bancos que não quiseram pegar o recurso para forçarem o produtor a fazer empréstimos a juros de mais de 6% ao ano”.

Ao passo que bancos como o do Brasil não são obrigados a participar do programa, existem outros que querem entrar e financiar a agricultura. Enquanto o dinheiro demora a chegar às mãos dos cafeicultores, os mesmos, obrigatoriamente, vão abastecendo os mercados interno e externo com o produto a preço abaixo do justo.

Marcos Mendes, diretor comercial da Cooperativa de Cafeicultores da Zona de Varginha – Minasul – conta que ano passado R$ 60 milhões foram repassados aos produtores. Segundo ele, este ano a instituição tem buscado resposta quanto ao Funcafé desde maio deste ano. “Como até hoje não tivemos acesso ao recurso, estamos atendendo os cooperados com dinheiro próprio da cooperativa”.

Segundo Renato Paiva, diretor financeiro da Credivar, o produtor tem que passar credibilidade ao agente financeiro, para que recursos sejam liberados com mais facilidade. Os bancos não vão entender como um risco financiar o produtor, a partir do momento que ele oferecer garantias.

Ao que tudo indica, o produtor rural apenas tem perdido, uma vez que a bolsa de Nova Iorque representa 19 países e não representa bem o Brasil. Minas Gerais é responsável por 70% da produção de café do Brasil. Produto natural de ótima qualidade, mas que concorre com os cafés lavados de países como Colômbia na mesma bolsa.

O país detém de 50% da produção de café no mercado mundial. E mesmo assim, nos últimos 16 anos, a saca foi valorizada em apenas 34%. De acordo com Matielli, se for levado em consideração o avanço dos custos de produção, dentre eles preço de insumos e salário mínimo, a saca de 60 quilos do café deveria ser vendida a cerca de R$ 1100.

Outras sugestões são ao investimento na certificação do café, criação de um selo de café natural certificado e montar uma fundação do café para trabalhar este atestado, juntamente com a orientação do produtor rural.

De acordo com Arnaldo, o projeto apresentado foi criado pela Sincal, mas hoje é ele é da cafeicultura brasileira. E está sujeito à mudanças que qualquer setor cafeeiro queira fazer; sempre com foco na valorização de toda a cadeia.

* Luana Lara

Fonte: Assessoria de Comunicação do Sindicato dos Produtores Rurais de Varginha

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