Leilões on-line ajudam preços do café a disparar

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Dan Shafer, diretor de operações da Crop to Cup Coffee Co, analisa grãos de café. (Foto: Andrew Hinderaker for The Wall Street Journal)

Dan Shafer, diretor de operações da importadora americana de café Crop to Cup Coffee Importers, tentava, este mês, comprar por meio de um leilão on-line quase uma tonelada de alguns dos grãos de café mais apreciados produzidos em pequenas propriedades no oeste de Ruanda.

“Não quero apresentar minha oferta agora, porque não quero fazer o preço subir”, disse ele, com os olhos grudados na tela do computador em seu apartamento de dois quartos em Nova York, que serve como escritório da empresa.

Após mais de duas horas, Shafer foi forçado a admitir a derrota em um dos dois lotes que estava disputando quando o preço ofertado chegou a US$ 8 por libra-peso, mais de quatro vezes o preço de referência mundial.

A vencedora foi uma empresa de café da Coreia do Sul. As companhias do leste da Ásia cada vez mais estão dominando os leilões eletrônicos, onde grande parte do café mais valioso do mundo é vendida.

Embora ainda menor que os mercados de café europeu e americano, o consumo em toda Ásia está crescendo rapidamente juntamente com o aumento da renda, pressionando ainda mais estoques já restritos e elevando os preços. Alguns participantes do mercado dizem que os compradores asiáticos estão mais dispostos a pagar preços exorbitantes pelos tipos mais raros de café, que são uma novidade nos países que tradicionalmente bebem mais chá, como Coreia do Sul e China.

A maior parte dos grãos de café é vendida a granel por produtores, cooperativas e empresas de trading. Apenas uma fração é vendida em leilões on-line. Mas a crescente demanda está ajudando a elevar o valor dos grãos, juntamente com a maior seca em décadas no Brasil, que afetou a oferta do principal produtor mundial. Os contratos futuros de café arábica, que são referência no mercado, dobraram de preço este ano, chegando a atingir US$ 2,20 por libra-peso. Isso forçou empresas como a Starbucks Corp. e a J.M. Smucker Co. a elevar os preços. O contrato futuro de café para entrega em dezembro fechou a US$ 1,923 por libra-peso ontem na bolsa americana de futuros Ice.

O café negociado em leilões — como aquele que Shaner participou — chega a ser vendido a US$ 30 por libra-peso em lojas e cafés. Embora os preços desses grãos tenham pouco efeito direto nos preços que a maioria do consumidores paga, a popularidade de grãos raros e de alto padrão está pressionando os principais torrefadores a comprar grãos melhores, dizem membros do setor cafeeiro.

“Acho que muitas vezes o café é sobrevalorizado” nos leilões, diz Adam McClellan, comprador de café para a Coffee Roasters, empresa do Estado americano do Oregon que opera 10 cafés nos EUA. Segundo ele, sua empresa tenta trabalhar diretamente com os produtores para comprar os grãos.

Isso foi uma mudança para a Stumptown Coffee Roasters. Em 2007, a empresa ficou tão interessada em um grão panamenho que pagou o valor recorde de US$ 130 por libra-peso pelo produto. Um ano depois, a fazenda que produziu o grão fez seu próprio leilão e vendeu os principais lotes a US$ 100 por libra-peso.

Em junho de 2012, uma empresa da Coreia do Sul comprou poucas libras-peso de uma variedade rara de café da Guatemala por um novo valor recorde de US$ 500 por libra, quase o mesmo preço da prata na época.

Aquela variedade, como a maioria dos outros grãos de preço elevado, é produzida em pés de café com baixa produtividade, que são mantidos em condições específicas para que seus frutos tenham uma combinação única de sabores. “O café neste nível não é mais commodity”, diz Maurício Galindo, diretor de operações da Organização Internacional do Café.

Os leilões “The Cup of Excellence” (algo como Taça da Excelência), dos quais Shafer participou, começaram em 1999 com várias variedades brasileiras. Os leilões têm como operador uma organização sem fins lucrativos chamada Alliance for Coffee Excellence, que afirma ter o objetivo de conseguir um preço melhor e reconhecimento para os produtores. Ela conta com 10 países. Alguns tipos de café se tornaram tão populares que os produtores começaram a realizar leilões individualmente.

Os participantes são identificados apenas por números quando eles começam a fazer seus lances pelos cafés. O leilão termina quando nenhuma oferta é realizada por três minutos.

Embora ofertas com três dígitos sejam raras, muitos torrefadores asiáticos estão dispostos a pagar preços elevados para oferecer o que há de melhor aos clientes.

Também estava atrás de grãos no leilão da Ruanda o coreano Seu Pil-hoon, torrefador e comprador de café verde para a Coffee Libre, operadora de café e torrefadora de Seul. Segundo ele, os consumidores na Coreia do Sul estão vivendo “uma séria mania de café” pelos melhores grãos, “não importa o preço”.

Seu integrou um grupo, junto com compradores japoneses, que fez o lance recorde de US$ 37,10 por libra-peso para o lote de grãos da Ruanda. Ele disse que o café vale o preço. “O que me levou a [ganhar] o lote foi um tipo de sentimento que um colecionador de arte deve ter: amor verdadeiro”, diz. Ele afirma que vende seus principais grãos por cerca de US$ 4 a xícara ou US$ 30 um pacote de 200 gramas. O negócio, de acordo com ele, oferece um “lucro pequeno”.

“Eu não sou um bom homem de negócios”, diz. “Apenas gosto de café e quero ser um mensageiro do bom café para o mercado sul coreano.”

Shafer não terminou o dia de mãos vazias. Ele acabou pagando US$ 7,10 por libra por outro lote em que estava interessado. “Não ajuda [o fato] que gosto de apostar”, diz.

Fonte: The Wall Street Journal (Leslie Josephs – colaborou Jonathan Cheng.)

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