Indústria vê espaço para novas altas com demanda acima da oferta

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O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Américo Sato, disse que, apesar de os preços do café registrarem níveis históricos, a commodity foi uma das que apresentaram menor oscilação, o que apontaria para a possibilidade de novas altas. Considerando o período avaliado pela Abic, de 1994 a 2010, os preços do café torrado e moído subiram 46% em São Paulo e 51% em Minas Gerais, enquanto o leite apresenta alta de 279% no período, o óleo 196%, o arroz 158% e o café cru 156%. No mesmo período, os custos da indústria foram diretamente afetados pelas altas do óleo diesel (507%), gasolina (373%), energia elétrica (463%), salário mínimo (733%), cesta básica (266%) e inflação (276%).

"Os preços na verdade estão achatados. E isso se deve principalmente a uma concentração das empresas beneficiadoras e ao aumento do poder de compra do varejo", comentou em palestra durante o VI Seminário Internacional do Café, que acontece até amanhã no Rio de Janeiro. A tendência, acredita ele, é de que o preço volte a ter novas altas contínuas nos próximos dois anos, com a safra ainda menor do que o desejado. Em 2013, com a entrada de novas áreas plantadas deverá ocorrer o chamou de "equilíbrio" da equação oferta versus demanda.

Para o consultor econômico da MacQuarie, John Welch, a pressão do crescimento da demanda sobre uma oferta menor – que deve permanecer durante os próximos dois anos – tende a influenciar diretamente o preço no mercado internacional. E o cenário econômico no Brasil é um dos principais responsáveis por esta alta. Isso porque, segundo ele, o Brasil está em rota de crescimento do consumo acelerado. "O Brasil precisa de uma poupança maior do que a que existe hoje e precisa criar incentivos para que esta poupança exista. Mas, ao contrário, faz a aposta arriscada de queda da inflação no segundo semestre", disse.

Um exemplo do ritmo acelerado do crescimento do consumo é que, ao contrário das crises anteriores, quando havia um elevado estoque de fertilizantes – o que sinalizava que o produtor estava poupando porque não sabia do futuro incerto da demanda – a atual crise foi insuficiente para manter estes estoques de fertilizantes elevados. "Muito pelo contrário, já há sinais de falta de fertilizantes, o que deve puxar o seu preço para cima", disse.

Para o analista Luiz Otávio Araripe, da Valorização Café, a recente alta de preços tem suas peculiaridades. Primeiramente ela é a única que não foi estimulada por uma grande quebra de safra provocada por geada ou seca. "Os preços vêm subindo ininterruptamente, o que indica que há algo maior por trás", comentou, exemplificando que esta é uma típica crise de demanda maior do que oferta. Para ele o ritmo de crescimento da produção não está acompanhando o ritmo de crescimento do consumo. Enquanto o primeiro estaria crescendo 1,5% ao ano o segundo cresce em média 2,5% ao ano. "E por mais que se ganhe em produtividade não há como ter grandes saltos nesta cultura, então estaríamos falando de uma melhora de 2% a 3% na produção, o que significa nada", comentou. Também em sua opinião, o equilíbrio do mercado só se dará a partir de 2013 quando novas áreas entrarem em produção.

Mas mesmo assim, destacou, o consumo per capita mundial ainda é muito pequeno, em torno de 1,2 quilo por ano. Se apenas os países produtores igualassem sua média de consumo per capita à média do Brasil, por exemplo, que é de 6 quilos per capita por ano a produção mundial teria que crescer sete vezes para dar conta deste consumo extraordinário.

Um bom exemplo de que o mercado acredita na perspectiva de aumento do consumo per capita, lembrou, é que as ações das principais empresas que compram esta commodity, como as americanas Starbucks, Peet´s e Caribou, estão em alta elevada há algum tempo, sem perspectivas de queda, "subindo acima do índice Dow Jones".

Fonte: Agência Estado

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