Indústria brasileira de café solúvel fechou 2011 com faturamento de US$ 600 milhões
A indústria brasileira de café solúvel (instantâneo) fechou 2011 repetindo o desempenho do ano anterior e para 2012 a expectativa é de estagnação. A maior parte da produção (entre 80% e 90% das 3,2 milhões de sacas processadas anualmente) é destinada ao mercado externo e esse volume vem se mantendo nos últimos anos. O faturamento de US$ 600 milhões em 2011 só foi melhor do que em 2010 (cerca de US$ 550 milhões) por causa da elevação dos preços médios, impulsionados pelo aperto na oferta de matéria-prima. "O consumo e a produção de café solúvel cresce no mundo todo, menos no Brasil", diz o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Solúvel (Abics), Roberto Ferreira Paulo.
Estima-se que o consumo de café solúvel cresça a uma taxa de 3% ao ano, enquanto o setor de torrado e moído avança 1,5% ao ano. Justificativas não faltam para o fraco desempenho do setor. Um deles é a impossibilidade de a indústria importar café de outros países, como Vietnã, em operações de drawback (importação de matéria-prima para posterior exportação de produtor com maior valor agregado).
Atualmente, as cotações do café conilon (robusta), cultivado principalmente no Espírito Santo e o mais utilizado pela indústria de solúvel, estão em níveis históricos mais altos. A solução seria a importação de similar vietnamita, muito mais barato do que no Brasil. No entanto, sob alegação de risco de pragas e doenças, a legislação brasileira impede a entrada de cafés de outros países. Estima-se que dos 48 países produtores de solúvel, 32 são importadores da matéria-prima.
Ferreira Paulo pondera que o governo brasileiro é sensível às dificuldades dosetor. Segundo ele, o Programa Reintegra, para incentivar a exportação de produtos manufaturados, é um importante passo, mas insuficiente para estimular a indústria de solúvel. "Mercado no exterior existe, mas os preços do café estão muito elevados e algumas plantas até sinalizam com paralisação de atividades, dando férias coletivas aos trabalhadores", diz.
De acordo com a Abics, o câmbio também tem sido perverso para a indústria, reduzindo a competitividade na exportação. Mas Ferreira Paulo também cita problemas antigos que dificultam o avanço do setor, como a sobretaxa de 9% para todo solúvel brasileiro que entra na União Europeia e que mais nenhum outro país exportador paga, apenas o Brasil. "A União Europeia não quer colocar o assunto (exportação de solúvel) na pauta de um novo acordo com o Mercosul, mas existe expectativa de avanço", relata.
Ele acrescenta, ainda, que o País enfrenta concorrência desleal no mercado japonês. Desde 2010 o governo do Japão reduz em 25% a cada ano um imposto de importação de 8,8% para o solúvel, em favor de 10 países asiáticos e contrário a os interesses dos demais exportadores, como o Brasil. Para complicar, desde abril passado foi estabelecido um tributo de 15% sobre o extrato congelado de café que o Brasil exporta para o Japão, o qual é utilizado na produção da bebida em lata, inclusive gelada, muito consumida pelo japoneses. Para 2012, Ferreira Paulo projeta manutenção de elevados preços médios para o café. "O mercado pode continuar equilibrado, com a indústria brasileira de solúvel mantendo o faturamento de 2011", conclui.
Fonte: Revista Cafeicultura e Rede Peabirus