IAC observa aumento de chuvas extremas em Campinas e períodos de estiagem prolongados

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Uma base de dados de 121 anos permite que as análises climáticas sejam mais seguras e que os pesquisadores possam comparar as informações atuais com períodos anteriores. O Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, possui 106 estações meteorológicas automáticas no Estado de São Paulo e tem uma das bases de dados mais antigas do País. Com essas informações, que datam de 1890, os pesquisadores do Instituto podem afirmar que desde a década de 80 é recorrente o atraso na época de início das chuvas, o que prejudica, principalmente, a florada do café, refletindo na produtividade dos cafezais e na qualidade dos grãos. A safra de 2012, por exemplo, pode ter redução de até 20% devido ao período de seca, frio e desfolha das plantas. Os estudos do IAC permitiram observar também que de 2000 a 2009 ocorreram três eventos de chuvas extremas por ano em Campinas – acima de 50 mm – enquanto entre 1990 e 2000 foram dois. A mesma situação ocorreu na década de 20, quando foram registrados, em média, cinco eventos de chuvas extremas, o que mostra que as mudanças climáticas podem não ter como causa apenas o aquecimento global e sim a ciclicidade do tempo. Em 2012, o IAC registrou um evento de chuva extrema em Campinas, em 16 de janeiro. Na ocasião choveu 61 mm. Em julho deste ano, o IAC completa 125 anos de pesquisas agrícolas ininterruptas. O Instituto foi responsável por iniciar a climatologia agrícola brasileira no século XIX e mantém serviços de orientação agrometeorológicas que auxiliam os produtores rurais.

Normalmente, o período das chuvas no Brasil se inicia no começo de outubro e termina em março. A partir da década de 80, porém, os pesquisadores do IAC observaram que o período de estiagem se estendeu para até o fim de outubro e começo de novembro. “As chuvas são importantes para a agricultura porque o plantio começa a partir da primeira chuva. Esse atraso das chuvas pode causar prejuízos para várias culturas, sendo uma delas o café provocando floradas tardias, prejudicando as fases de enchimento dos grãos e de maturação”, afirma Marcelo Bento de Paes Camargo, pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

O café, normalmente, começa a florescer no início de setembro e tem a florada principal até o começo de outubro. De acordo com Camargo, nos últimos cinquenta anos, os principais atrasos na florada ocorreram em 1964, 1994 e 2007. Nas ocasiões, além do atraso, a safra foi prejudicada, principalmente, pela falta de chuva. “As plantas ficaram debilitadas, as folhas caíram e o pegamento da floração foi muito baixo. A safra de 64, por exemplo, foi de 0, a de 94 – em que houve seca e geada – diminuiu a produção em até 60% e a de 2007, a quebra chegou a 30%”, afirma o pesquisador do IAC.

Segundo Camargo, 2011 foi um ano frio, tanto no inverno como na primavera, o que prejudicou o enchimento dos grãos de café. “Os grãos estão menores e a seca de agosto e setembro provocou a desfolha da planta além do normal, provocando queda dos frutos. Este problema ocorreu em todo o Estado de São Paulo e também no Sul de Minas Gerais. O problema climático de atraso no início das chuvas altera a função da seca e até agora podemos estimar uma perda de 20% da produtividade do café, e sem contar a qualidade do produto final”, explica.

O café passa por seis fases até ser colhido. A primeira é a vegetação e formação das gemas foliares, a segunda, de indução e maturação das gemas florais, seguida da florada, chumbinho e expansão dos frutos. A quarta fase é a da granação, seguida da maturação dos frutos e, por fim, o repouso e a senescência dos ramos terciários e quaternários. Segundo Camargo, o atraso de uma das fases vai prejudicar a seguinte, pois cada uma delas precisa de uma condição climática diferente para melhor produtividade e qualidade da bebida.

“As cooperativas estão preocupadas com a próxima safra porque tivemos uma seca em fevereiro, que afetou a fase vegetativa da planta, e depois, uma em agosto até outubro, a qual atrasou a florada e causou a desfolha. Não se sabe o quanto o café perderá de qualidade se em 2012 ocorrer muita chuva, devido ao tamanho dos grãos. Até agora há a estimativa de 20% de perda da produtividade, mas esse número poderá ser maior”, explica Camargo.

O produtor tem como alternativa para melhorar as condições de sua lavoura a utilização da irrigação ou da arborização. “Ele pode usar a irrigação para minimizar os efeitos da seca”, afirma Camargo.

A utilização de árvores nos cafezais é outra opção para deixar o clima mais ameno e diminuir a intensidade dos ventos. “Com utilização das árvores – de porte alto – o produtor acaba perdendo um pouco da área de cultivo, mas melhora a qualidade do seu cafezal”, diz.

Em tese, a utilização de árvores nos cafezais pode reduzir em até 3 ºC a temperatura ambiente e com a diminuição da ocorrência de ventos há menos problemas fitossanitários que afetam as plantas localizadas em altitude mais elevada.

Chuvas extremas – De acordo com o pesquisador do IAC, Gabriel Constantino Blain, somado aos problemas da estiagem, há ainda a elevação dos eventos de chuvas extremas – precipitações pluviais superiores a 50 mm. “Ao mesmo tempo em que estamos enfrentando um atraso na retomada da estação agrícola chuvosa, ou seja, estamos tendo mais problemas com a seca agrícola, observamos também, especialmente nos meses de dezembro a janeiro, de 1985 para cá, graves problemas com as chuvas extremas”, afirma o pesquisador do IAC.

Com esse acúmulo de água, o solo fica encharcado e pode ocorrer deslizamentos de terra em alguns pontos críticos, além de inundações. “Hoje em dia, não se pode separar o evento extremo de precipitação do crescimento desordenado das cidades que impermeabilizam o solo”, afirma Blain.

De 2000 a 2009, ocorreram em média três eventos por ano de chuvas extremas em Campinas, enquanto na década de 90 foram dois. Essa quantidade de dias com chuvas fora do comum se assemelha aos índices da década de 1920, quando ocorreram, em média, cinco chuvas extremas por ano.

O IAC trabalha com hipóteses para o aumento da quantidade de chuvas intensas e a semelhança dela com a década de 20. Segundo Blain, uma possível explicação são os fenômenos climáticos como o El Niño, a oscilação decadal do oceano Pacífico e também o aquecimento global. “Pode não ser ainda uma mudança de clima. O clima voltou a um padrão que apresentava há 90 anos. Retornou a um período de elevada variância, ou seja, de frequência de eventos de chuvas extremas”, afirma.

De acordo com o pesquisador, não se pode desconsiderar as causas naturais do meio ambiente, porque é difícil pensar em aquecimento global na década de 20. A pesquisa trabalha apenas com hipóteses e levará algum tempo ainda para se ter certeza das causas do aumento das precipitações extremas e a demora para início das chuvas. “O sistema atmosférico é chamado de caótico e é difícil atribuir a causa de uma alteração a apenas um fator”, explica.

A média anual de chuva em Campinas varia entre 1500 e 2 mil milímetros. De acordo com o pesquisador do IAC, a quantidade de chuva continua a mesma desde a década de 20, mas em menor quantidade de dias, mudando a distribuição temporal. “A chuva diária, antes tinha em média 10 mm, hoje, com o desvio de padrão, pode chegar até a 40 mm e depois ficar longos períodos sem chover”, afirma.

A explicação é que a precipitação pluvial, diferentemente da temperatura, sofre com a falta de memória. “Se hoje estiver muito quente, amanhã possivelmente também estará. Os valores elevados de temperatura tendem a agrupar-se temporalmente. No caso das chuvas, esse fato não acontece. Hoje pode chover muito e amanhã não chover nada”, explica Blain.

Os dados gerados nas 106 estações meteorológicas automáticas do IAC contribuem com o universo urbano ao orientar os trabalhos preventivos das unidades de Defesa Civil paulista. Os órgãos utilizam as informações em ações preventivas em períodos de seca e de chuvas, respectivamente, para evitar queimadas e desmoronamentos.

Eles são também utilizados para registrar, avaliar e transferir informações sobre chuvas e outros dados climáticos necessários para os agricultores adequarem o manejo das culturas com menor desperdício de produtos, melhor aproveitamento para as lavouras e menor impacto ambiental. A climatologia agrícola brasileira iniciou-se no IAC no século XIX e mantém serviços de orientação agrometeorológica que auxiliam produtores no manejo dos campos, envolvendo aspectos de controle fitossanitário e aplicação de defensivos.

Fonte: IAC – www.iac.sp.gov.br

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