Grão cru atinge melhor preço em 50 anos

Imprimir

Os diversos recordes registrados pelo café este ano estão colocando o Brasil em posição de destaque ainda maior no cenário internacional. Maior produtor mundial, o país contabilizou no ano passado 48,1 milhões de sacas de 60 quilos, das quais 33 milhões foram destinadas ao mercado externo.

Em 2011, ano de ciclo de baixa para a safra, a redução dos estoques somou-se a fatores como o aumento do consumo e a queda da safra colombiana, que perdeu entre 2 milhões e 3 milhões de sacas em três anos, para fazer o preço do café em grão cru alcançar o melhor patamar dos últimos 50 anos e bater na casa dos R$ 520 a saca – o dobro do registrado pouco mais de 12 meses atrás.

“Esse conjunto de fatores, somados ao dólar valorizado, fez os preços subirem a níveis inimagináveis há um ano”, diz Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e presidente executivo do Sindicato da Indústria do Café do Estado de São Paulo.

No mercado externo, o preço do café arábica era de US$ 1,30 no ano passado. Em 2011, chegou a US$ 3 – e tende a continuar alto. O Brasil está ganhando produtividade e qualidade. Antes ausente, o café brasileiro hoje compõe 50% dos blends da rede mundial Starbucks. Agora vai ser servido na rede de Alain Ducasse, ícone da gastronomia mundial. O privilégio pertence ao café Jacu, da fazenda Camocim, na região de Pedra Azul (ES), e exemplifica a sofisticação alcançada pelo produto nacional.

De alto valor agregado, com preço que supera R$ 5 mil a saca, resulta de grãos consumidos e defecados pelo jacu, pássaro típico da Mata Atlântica. “Queremos mostrar que o Brasil produz o melhor café do mundo”, explicou Henrique Sloper, proprietário da Camocim e integrante da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês).

O esforço se justifica. O segmento não chega a 3% do mercado mundial, mas cresce entre 7% e 10% ao ano.

O subsegmento de cafés orgânicos tem expansão anual de 20% e plus de mais de 100 pontos na bolsa de Nova York, onde chega a 350 pontos. Segundo dados da certificadora UTZ, o Brasil hoje também é líder global em volume de cafés certificados, com 1 milhão de sacas em 2010, 38% do total mundial. “A certificação rende em média US$ 10 de prêmio”, diz Vanduir Antonio Caixeta, gerente comercial do Alto Cafezal, grupo que congrega trade e 12 fazendas em Patrocínio (MG), das quais duas já são certificadas e mais duas estão em preparação.

O comportamento do grupo reflete a profissionalização do produtor e o desempenho atual do café brasileiro, com mais foco em produtividade do que em expansão. Além de investimentos voltados ao aperfeiçoamento de tratos culturais, irrigação, campo experimental para identificar espécies mais resistentes, o Alto Cafezal gastou mais de R$ 5 milhões em um armazém com capacidade para 300 mil sacas e processamento diário de 3 mil.

“O pessoal tem se capacitado da porteira para dentro e para fora”, diz Caixeta. Isso significa entender mais de mercado, comercialização, câmbio. O grupo, que embarca entre 100 mil e 120 mil sacas ao ano, faz hedge em café e em dólar para lidar com possíveis oscilações. A produção própria soma 2,2 mil hectares, com média de 80 mil sacas anuais e projeto de nos próximos quatro anos chegar a 3 mil hectares e 100 mil sacas por ano.

Os planos levam em conta a manutenção dos preços mesmo com cenário financeiro incerto. “O otimismo vem do equilíbrio entre produção e demanda, com ganhos de produtividade, custos de produção mais competitivos e melhoria no perfil qualitativo”, concorda Guilherme Braga, diretor executivo do Conselho de Exportadores do Café do Brasil (Cecafé). Mas ele lembra que os preços melhoraram também para os países concorrentes do Brasil – e, nos próximos anos, a expansão da produção pode ser um fator de pressão. “O desafio é continuar o processo de melhoria. O mundo está disposto a comprar café diferenciado e pagar por isso”, afirma Braga.

Segundo ele, o cenário atual reflete a característica de altas e baixas do café, cujo pico de valorização no final dos anos 90 foi seguido de forte queda nos preços entre 2001 e 2002, quando a saca chegou a ficar abaixo de US$ 40. O resultado foi o ajuste na produção mundial, com os países reduzindo rapidamente sua oferta. “Os preços hoje são o dobro dos de 2007, mas sujeitos a grande volatilidade, mesmo sem alteração substancial nos fundamentos”, alega.

Braga observa que commodities, principalmente café, estão valorizadas, sobem e descem de acordo com a tendência de aplicação de fundos que buscam liquidez e são sujeitas a oscilações. Nos últimos três meses, com o vaivémda crise, os preços chegaram a US$ 2,95 e caíram a US$ 2,30, sem registro de aumento de produção ou de queda no consumo. Em meados de setembro, o movimento de alta e baixa se repetiu com novas notícias a respeito do mau desempenho econômico grego. “Não houve modificação nos fundamentos”, aponta o diretor  do Cecafé.

Fonte: Valor Econômico

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *