Geada no Brasil ameaça elevar ainda mais preços do café

Imprimir
O maior exportador de café do mundo está enfrentando um dos climas mais frios em mais de 25 anos, reduzindo as perspectivas de fornecimento e ameaçando aumentar os preços da bebida.

As temperaturas nas principais regiões produtoras de café do Brasil caíram abaixo de zero Celsius por horas na terça-feira, com o sul de Minas Gerais registrando as mínimas desde 1994, de acordo com a Rural Clima. A previsão é que o frio continue na parte mais ao sul do país na quarta-feira, enquanto outra frente fria é esperada para 29 de julho. Os futuros em Nova York saltaram até 7,7%, para o maior nível desde 2016.

As geadas estão dando um segundo golpe nos cafeeiros do Brasil depois que uma forte seca deixou os campos ressecados e vem esgotando os reservatórios de água necessários para a irrigação. Além disso, a seca pode piorar, com previsões de um provável retorno dos padrões climáticos de La Niña que atrasam as chuvas na região. A série de infortúnios pode fazer com que os consumidores paguem preços mais altos nos cafés e supermercados.

A geada pode queimar folhas e galhos nas árvores, reduzindo o potencial produtivo para 2022. Isso é especialmente significativo porque os cafeeiros estão na baixa do ciclo de dois anos e deveriam produzir mais na próxima temporada. Muitos campos já foram podados no ano passado para produzir em 2022 e agora terão seu potencial de produção reduzido, disse Regis Ricco, diretor da RR Consultoria Rural em Minas Gerais. Algumas das árvores mais novas, de até quatro anos, podem precisar ser cortadas a até 50 centímetros do solo, disse ele.

“Depois da seca do ano passado, chuvas irregulares neste ano e duas geadas, o Brasil pode ter em 2022 o pior ciclo de alta produtividade em muitas décadas,” disse Ricco.

Levantamento feito pela mineira Cazarini Trading com exportadores e agrônomos indica que as duas últimas geadas estão comprometendo entre 1 milhão a 2 milhões de sacas de café na safra 2022-23.

Uma seca no início deste ano reduziu a produção de arábicas, o tipo de grão preferido da Starbucks. Nas áreas do norte de São Paulo e do Triângulo Mineiro, em Minas, a umidade do solo está em torno de 20%, bem abaixo dos 60% necessários para o desenvolvimento da cultura, segundo a Rural Clima. Também há sinais de produtividade menor nesta temporada para os grãos robusta do Brasil, usados por empresas como a Nestlé em suas marcas solúveis de Nescafé, que estão com maior demanda durante a pandemia.

A probabilidade de retorno de La Niña é de 45% entre agosto e outubro, 55% de setembro a novembro e 62% de outubro a dezembro, de acordo com o U.S. Climate Prediction Center. O Departamento de Agricultura dos EUA estima que os estoques no Brasil devem terminar a temporada no nível mais baixo desde 1960, enquanto os estoques de café verde dos EUA caíram 18% em relação ao ano anterior. Com toda a agitação, o retorno de La Niña “provavelmente injetaria um novo ímpeto nos preços”, disse Hernando de la Roche, vice-presidente sênior da StoneX Financial.

Os problemas climáticos aumentam os atrasos nos envios da Colômbia devido à agitação política e à elevação das taxas de frete, que dificultam a movimentação de grãos ao redor do mundo. Muitos compradores estão adiando negócios em meio à volatilidade dos custos e à preocupação de que a Covid-19 e suas variantes mantenham a demanda abaixo dos níveis pré-pandêmicos, disse Marco Figueiredo, comerciante e sócio da Ally Coffee, comerciante e importador da Flórida.

A safra atual de arábica já é decepcionante. A seca prejudicou o grão, tornando-o menor ou oco. Como resultado, os agricultores precisam de 600 litros de grãos para encher um saco de 60 quilos, em vez dos habituais 450 a 500 litros, disse Judy Ganes, uma consultora que cobre o mercado há mais de três décadas e acaba de voltar de um tour pelas plantações no Brasil.

Mesmo com uma grande parte da colheita de café concluída pelos fazendeiros, os compradores estão tendo dificuldade em encontrar grãos no mercado spot, disse Ricco, que vê a produção de arábica este ano em cerca de metade do total do ano passado.

Daniel Daianas Ribeiro, agricultor de 42 anos que cultiva cerca de 2.000 hectares de café em São Paulo e no Paraná com seu grupo familiar, reduziu sua estimativa de safra em 25% a 30% desde o início da colheita em maio. “A recente geada piorou tudo, pois matou parte dos poucos galhos que cresciam”, disse ele.

Fonte: Bloomberg (Por Fabiana Batista e Marvin G. Perez, com foto de Janaina Magalhães)