Fungo “la roya” golpeia América Central e já gera perdas de US$ 600 milhões

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Angel Molina está lutando para preservar seu estilo de vida. Nas colinas de Sierra de Montecillos, em Honduras, sua plantação de café de 15 hectares foi atingida por um fungo conhecido como "la roya", ou ferrugem do café, que tem efeitos devastadores.

Molina vem combatendo o "la roya" da maneira mais eficiente: arrancando os pés de cafés e plantando novas mudas, que não produzirão antes de três anos. E ele não está sozinho. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a América Central está sofrendo "a mais grave infestação" dos últimos 30 anos. "Trata-se de um desastre regional", diz Robério Silva, diretor-executivo da Organização Internacional do Café (ICO, na sigla em inglês). "A ferrugem não é apenas uma doença do café, é uma doença econômica".

O fungo já se espalhou por metade da região, destruindo cerca de 20% da safra 2012/13. O café não é mais aquela commodity que nos anos 1970 e 1980 podia tanto arruinar o agricultor como torná-lo rico, mas as quebras de safra, avaliadas em US$ 600 milhões segundo o BID, são significativas para Nicarágua, Honduras, Guatemala, El Salvador e Costa Rica. E o pior: os comerciantes de café acreditam que a América Central vai perder uma parte muito maior de sua safra de arábica, de alta qualidade, em 2013/14, quando o verdadeiro impacto da praga se tornar aparente.

As consequências de perdas tão grandes poderão ser devastadoras para a economia rural da América Central, justo no momento em que o crescimento da região perde força. Os cafeicultores estão tendo que lidar tanto com danos provocados pela "la roya", como com a queda dos preços do café, no momento no patamar mais baixo em muitos anos.

A América Central é conhecida por seu café arábica de alta qualidade, usado por grupos varejistas como a Starbucks. A região responde por quase um quinto da produção mundial do arábica, estimada em 18 milhões de sacas.

No passado, essa grande fatia amortecia muito do impacto da ferrugem, porque os preços subiam com a queda da produção. Mas desta vez, o Brasil está com uma safra abundante, pela segunda vez consecutiva, mantendo o mercado abastecido. Os preços do arábica caíram este mês para US$ 1,17 a libra-peso, o menor patamar em quatro anos. "É uma coisa terrível para os cafeicultores de Honduras e El Salvador", afirma o presidente de uma das cinco maiores tradings do mundo.

Autoridades e economistas estão preocupados com a perda de empregos nas áreas rurais. O setor é um dos que mais empregam na região, sustentando mais de 2 milhões de pessoas. Em 2012/13, cerca de 400 mil empregos foram perdidos para a ferrugem, elevando a pressão migratória sobre os EUA, para onde os desempregados tendem a seguir na busca por trabalho. As demissões deverão crescer em 2013/14.

Edgar Carrillo, diretor de projetos da cooperativa Caruchil, através da qual Molina vende seu café, diz que os plantadores vão procurar emprego nas cidades, onde o desemprego já está elevado.

Para muitos especialistas, a disseminação da ferrugem parece estar relacionada às mudanças climáticas. A região teve vários anos de temperaturas e chuvas acima do normal. A umidade e o calor, juntamente com o envelhecimento dos cafeeiros e a falta de cuidados, favorecem a proliferação do fungo. Mas em comparação a surtos anteriores, desta vez a praga está atingindo altitudes maiores, áreas que nunca foram afetadas.

A experiência da Colômbia, que também produz arábica, mostra que o combate ao fungo não será rápido ou barato. O país foi atingido pela "la roya" há cinco anos, e a produção caiu a patamares não vistos desde o começo da década de 1970.

A produção colombiana de café só começou a ser retomada agora, depois que a associação que defende os interesses do setor, com o apoio do governo, gastou US$ 1,4 bilhão fornecendo mudas resistentes ao fungo, fertilizantes e instrução. Os governos da América Central provavelmente não conseguirão financiar um esforço parecido por conta própria, e os pequenos produtores da região não têm acesso a financiamentos para suportar o período de paralisação entre a retirada dos pés doentes e a primeira safra dos novos pés.

Na Caruchil, Molina e seus colegas admitem que o problema vai além da redução do número de pés de cafés. "Quando há um problema com o café, é um problema para o país inteiro", lamenta.

Valor Econômico
Por Emiko Terazono | Financial Times

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