FLORADA DOS CAFEEIROS EM TEMPOS QUENTES

A cultura de café arábica no Brasil está zoneada, pelo aspecto térmico, em regiões aptas, sendo as que possuem temperatura média anual na faixa de 19ºC a 22ºC. Acima desse nível, as regiões são consideradas aptas para cultivo do café robusta.

Nos últimos 15 anos, foi desenvolvido outro padrão de cafeicultura, com o cultivo de variedades arábica mesmo em regiões mais quentes, com temperatura média de 23ºC a 24,5ºC, só que com apoio na irrigação sistemática e com cuidados especiais. Essa cafeicultura ocupa diversos projetos empresarias de lavouras, em sua maioria com irrigação sob pivô-lepa na região Norte de Minas, com o maior polo em Pirapora, onde vem sendo obtidos bons índices de produtividade.

Num período de 30-40 dias de déficit, seguido de irrigações concentradas, constatou-se que o estresse hídrico resultava em floração abundante e igualada. Nos dois últimos anos, em 2014/15, novamente surgiu o problema de indução de diferencial hídrico como fator responsável pela boa floração e frutificação da lavoura.

No ano agrícola de 2014/15, as lavouras de café da região de Pirapora tiveram dificuldades na produção, resultado de floradas pequenas e muito parceladas. A irrigação vinha normal até agosto e, com uma pequena chuva, de cerca de 5 mm em seguida, houve uma pequena abertura de flores. Diante disso, foi decidida a continuidade da irrigação, visando a salvação dessa florada e, ainda, a recuperação vegetativa dos cafeeiros. O que aconteceu depois foram as pequenas floradas sucessivas.

Em 2015/16, tomou-se a decisão de, a partir de agosto de 2015, cortar a irrigação. Isso induziria um diferencial hídrico que seria devido ao estresse das plantas, seguido da retomada, cerca de 30-40 dias após, da irrigação. O resultado desse diferencial hídrico induzido foram floradas abundantes e concentradas no inicio de setembro/15, fenômeno que se repetiu em três grandes projetos de cafeicultura na região de Pirapora, mostrando o efeito benéfico da indução.

Os cuidados necessários na formação do diferencial hídrico nas regiões quentes é fazer um estresse controlado, adequado a cada tipo de lavoura, observando a condição das plantas. Áreas de lavouras mais jovens, com sistema radicular menor e menos profundo, se estressam em tempo mais curto. Deve-se fazer o estresse com o retorno da irrigação mais cedo, ainda com temperaturas mais baixas, favorecendo a floração.

O estresse deve ser acompanhado pelos dados de evapotranspiração, sendo o estresse ideal o que acumula cerca de 100-150 mm no período. Assim, em anos mais quentes, como o atual, o período se torna mais curto. Finalmente, como a retomada da irrigação deve ter a função de abertura concentrada da floração, ela deve ser precedida de testes localizados de colocação de água, para aferir a época ideal. Além disso, na retomada, em ocorrendo em período de baixa umidade, as áreas devem receber irrigação no pivô de forma abundante, no sistema de passa repassa.

* Cláudio Lara, José Braz Matiello, V. Josino e Reginaldo Araújo (Especial Força do Campo)

Fonte: Hoje Em Dia

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