Expansão do mercado de cafés especiais abre oportunidades para ‘novos’ profissionais

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A expansão do mercado de cafés especiais no Brasil tem contribuído para o surgimento de novos postos de trabalho. A cada ano, mais pessoas buscam qualificação para conquistar uma vaga no setor. Profissionais como baristas e torradores de café são exemplos de trabalhadores que têm ganhado campo com o aumento da produção e do consumo de cafés diferenciados.

Segundo pesquisas de especialistas do setor, enquanto o consumo do café tradicional tem crescido cerca de 2% ao ano, o dos cafés gourmet crescem em média 13%. As mesmas pesquisas apontam que os cafés com custo superior a R$ 12 nas embalagens de 500 gramas tiveram crescimento ainda maior, cerca de 31,1% entre os anos de 2015 e 2016.

O crescimento do mercado tem feito profissionais de áreas pouco convencionais “ganharem” o mundo. Um exemplo disso é Robson Rodrigues Ribeiro, que há seis anos é mestre de torra da Cooperativa Regional dos Cafeicultores do Vale do Rio Verde (Cocarive), de Carmo de Minas (MG). Em setembro deste ano, o profissional se sagrou o 1º campeão brasileiro de torra de café, em evento inédito realizado em Curitiba (PR).

“Devido ao serviço diário, você tenta fazer o melhor possível nas torras. A gente foi para o campeonato para participar, ninguém tinha noção de como ia funcionar, pois foi a primeira vez no Brasil”, conta Ribeiro.

Mestre de torra de cooperativa de Carmo de Minas se sagrou 1º campeão brasileiro de torra (Foto: Lucas soares / G1)

Com o título, agora ele irá representar o Brasil no World Coffe Roasting Championship, o campeonato mundial da categoria, que irá acontecer em Guangzhou, na China. O que começou como uma brincadeira, virou coisa bem séria. Antes dele ir pra China, o profissional ainda fará um treinamento em uma empresa parceira na Alemanha.

“Nunca tinha imaginado (viajar tanto por causa da torra do café). Até começou na brincadeira, eu falando com meu chefe para me mandar, para ver no que ia dar. E deu certo”, comemora o mestre de torra.

Segundo mestre de torra, processo é feito para extrair a máxima qualidade do grão (Foto: Lucas Soares / G1)

Com a autoridade de quem entende do assunto, Ribeiro fala sobre a importância da torra no processo de produção.

“A torra é feita para procurar a melhor qualidade, o melhor potencial que o café possa apresentar. Cada tipo de torra vai apresentar um jeito diferente na xícara, onde você pode melhorar o café ou estragar, piorar. Depois (o grão) vai para a classificação. A torra é essencial”, conta o campeão brasileiro.

Barista
Outro profissional que vem ganhando campo com o mercado de cafés especiais é o barista. É ele o responsável por fazer a ponte entre toda a cadeia de produção até o consumidor final.

“O barista é o alquimista do preparo. Ele tem que entender desde o processo produtivo até aquele café chegar na mão dele, do processo de torra, prova, análise clínica. Ele não precisa ser especialista em cada processo, mas ele tem que ter uma visão e entendimento no que aquele processo interfere na qualidade do café. Quando chega na nossa mão, a gente tem a impressão de que está pegando um diamante, para lapidar ele, para o consumidor ter a melhor experiência possível”, diz o barista Gabriel da Cruz Guimarães, que também é gerente de uma cafeteria voltada para cafés especiais em São Lourenço.

Barista é o “alquimista do café”, diz profissional há 7 anos no mercado em São Lourenço (Foto: Lucas Soares / G1)

Guimarães conta que começou no ramo há sete anos e que, desde então, percebe que o mercado está em franca expansão.

“Desde quando eu comecei, eu enxergo que deu uma guinada. O mercado vem evoluindo, as pessoas estão se interessando mais por café melhores e nosso papel como barista é trazer mais educação para a xícara. O café especial começou a expandir no Brasil no ano 2000, tem 16, 17 anos, é tudo muito recente. É um mercado muito promissor e acredito que a profissão vá ser valorizada assim como nos países nórdicos, onde hoje o barista é visto de forma diferente. Para você trabalhar com café, tem que gostar de café ou senão aprener a gostar. Envolve um pouco desse romantismo, dessa paixão, para que a coisa venha a fluir”, conta o barista.

Cada vez mais especialização
Para especialistas do setor, a tendência é que o mercado de cafés especiais possa crescer ainda mais nos próximos anos. Com isso, mais vagas se abrirão para profissionais qualificados na área.

“Hoje para você produzir o café você não precisa só de solo, clima, altitude. Uma parte muito importante é o manejo do café. Após a colheita, se não tiver pessoas que tenham conhecimentos práticos e técnicos para se processar um café especial tanto em terreiros, secadores, até que esse produto esteja pronto, seco, para enviar para o armazém, você já começa a queimar etapas. Todas as etapas no café especial têm que ter profissionais gabaritados”, diz o gerente de exportação da Cocarive, Wellington Carlos Pereira.

Mercado de cafés especiais tendem a expandir cada vez mais, dizem especialistas (Foto: Lucas Soares / G1)

Para o presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Adolfo Ferreira, a projeção otimista e a abertura de vagas para profissionais especializados em cafés especiais se explica na melhora do paladar do brasileiro.

“O Brasil ainda tem um consumo muito grande do cafezinho, o café mais baixo, mas dia a dia essa geração mais nova está procurando as cafeterias. Os cafés especiais chamam muito público e as pessoas estão aprendendo a tomar. O café é um produto que não depende da crise. O Brasil pode estar em crise, mas o mercado de consumo não cai”, diz o presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSC), Adolfo Ferreira.

Fonte: G1 Sul de Minas (Por Lucas Soares)

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