Emoção ajuda consumidor a medir qualidade do café, aponta pesquisa

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Pesquisa mostra que brasileiros preferem café tradicional (Foto: Henrique Maruyama/ Arte G1)
Pesquisa mostra que brasileiros preferem café tradicional (Foto: Henrique Maruyama/ Arte G1)

Uma pesquisa desenvolvida pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, em Campinas (SP), mostra que as emoções ajudam o consumidor a medir a qualidade do café. O estudo demonstrou também que os brasileiros preferem o sabor tradicional da bebida do que as versões consideradas “gourmet”.

“É um prazer essa pausa para o café, porque é muito bom tomar um café. O café lembra a casa dos meus pais, a minha infância. Eu gosto é de café tradicional”, afirma a dona de casa Eulália Soares de Oliveira.

Mesma opinião tem o comerciante português Manuel Fernandes, que mora há 20 anos no Brasil.

Ele conta que antes, por influencia europeia, bebia muito café expresso, mas agora se rendeu ao sabor brasileiro. “Eu bebo café toda hora que paro. É um momento que relaxa bastante. Eu prefiro o tradicional […] Lá em Portugal a gente só bebia café expresso, muito difícil chegar no comércio e ter um café de coador, mas aqui eu prefiro tomar um café tradicional, de coador. Eu acostumei com o café daqui”, conta.

Pausa para um café é vista como momento de relaxamento (Foto: Roberta Steganha/ G1)
Pausa para um café é vista como momento de relaxamento (Foto: Roberta Steganha/ G1)

Emoção e hábito
Segundo a pesquisadora Emilia Ricardi, responsável pelo estudo, os brasileiros preferem o café tradicional porque o hábito influencia na escolha. “O brasileiro prefere o tradicional, que é o que ele está habituado, então, preferência está atrelada ao hábito”, afirma.

Mas, são as emoções que ajudam a qualificar a sensação proporcionada pelo café. Por isso, durante o estudo de mestrado, 60 consumidores elencaram palavras selecionadas pela pesquisadora para definir a experiência gerada pela bebida.

Foram testadas sete amostras de marcas líderes de café no país, entre os tipos tradicional (encontrado em supermercados), superior e gourmet, que têm essa classificação de acordo com a nota que recebem em degustação e tipo de grão utilizado.

“Eu apresentei o café e perguntei se a pessoa gostou ou desgostou, depois ela tinha uma lista de emoções e selecionava todas as emoções que quisesse para dizer o que ela estava sentindo […] E a nossa conclusão é de que as emoções ajudam a qualificar, porque as pessoas sempre acabam relacionando o que elas gostaram com o positivo e o que elas não gostaram com o negativo”, explica.

Segundo Emília, as palavras mais utilizadas pelos consumidores para descreverem o café que mais gostaram estavam relacionadas com energia e bem-estar como aquecido, acordado, satisfeito, bem e disposto.

É exatamente assim que a técnica de áudio Lua Gatinoni diz que se sente ao tomar um bom café. “Eu tomo café pra tudo, mas na minha cabeça, eu acho que depois que eu tomar um café eu vou funcionar melhor”, relata.

Pesquisa pediu para consumidores descreverem experiência (Foto: Emília Ricardi/ Arquivo pessoal)
Pesquisa pediu para consumidores descreverem experiência (Foto: Emília Ricardi/ Arquivo pessoal)

Saudade
Mas, um outro termo também chamou a atenção da pesquisadora. “Uma das palavras que foi elencada pelo consumidor brasileiro para falar de café foi saudade, provavelmente, porque está relacionada com a família, ao convívio”, explica.

A dentista aposentada Suzete Silveira Alves concorda e diz que o café lembra seu tempo de estudante. “Eu acho uma delícia tomar café. O café me lembra desde que eu era estudante. Em casa, às vezes, eu tomo café de máquina, mas gosto de café de coador, tradicional”, conta.

Segundo Emília, os estudos que relacionam emoções à experiência de consumo têm sido uma tendência na ciência sensorial, já que a medição dos sentimentos ajuda conectar a área com o marketing e o desenvolvimento de novos produtos.

Pausa para café em estabelecimento tradicional no Centro de Campinas (Foto: Roberta Steganha/ G1)
Pausa para café em estabelecimento tradicional no Centro de Campinas (Foto: Roberta Steganha/ G1)

Tradição
Para Henrique Bitencourt Vaz, sócio de uma das cafeterias mais antigas de Campinas, o café tradicional ainda é o mais mais pedido pelo consumidor. “O tradicional, o café de coador, sempre continua. Desde 1998 a gente colocou a máquina de expresso, mas o tradicional, que é o que existe aqui desde 1952, que é que mais sai”, conta.
O café de coador ainda é o carro-chefe, seja só cafezinho ou café com leite”
Henrique Bitencourt Vaz, sócio de cafeteria

Ele revela que atualmente, o expresso, que é um café mais forte, corresponde apenas a 10% das 30 mil bebidas que vende por mês. “O café de coador ainda é o carro-chefe, seja só cafezinho ou café com leite”, explica.
Vaz lembra também que o hábito influencia na escolha dos clientes. “Uma pesquisa nossa mostrou que 80% dos clientes veem todos os dias e muitos mais de uma vez por dia. Tem um senhor aqui que acho que ele vem desde 1952 todos os dias e espera acabar a passada de café do bule, para lavar o bule, escaldar na água quente, para passar um café novo, só aí ele quer. É a mania (hábito) dele”, destaca.

Café de coador ainda é principal produto de estabelecimento (Foto: Roberta Steganha/ G1)
Café de coador ainda é principal produto de estabelecimento (Foto: Roberta Steganha/ G1)

Questionado sobre os sentimentos despertados pelo café, ele explica que sempre, durante uma conversa no caixa ou na hora de pedir, os clientes contam as sensações proporcionadas pela bebida. “Eles vem no caixa e dizem que chegou o momento de relaxar. Várias pessoas comentam, de ser um momento para relaxar mesmo. Tem toda essa parte emocional mesmo, de vir tomar um café, bater um papo e de um relax”, conclui.

Fonte: G1 Campinas e Região (Por Roberta Steganha)

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