Em meio à alta de preço, cresce consumo de café

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A alta dos preços do café em grão no mercado brasileiro ¬ repassada ao varejo parcialmente pela indústria torrefadora ¬ não impediu o aumento da demanda pela bebida no país. Nos 12 meses encerrados em outubro passado, o consumo subiu 3,4%, o que indica uma demanda doméstica de 21,2 milhões de sacas de café em grão no período. Em igual intervalo um ano antes, o consumo foi de 20,5 milhões de sacas. Os números são de pesquisa realizada pela Euromonitor sob encomenda para a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

A principal explicação para o avanço do consumo a despeito da alta dos preços da matéria¬prima ¬ sem precedentes no caso da espécie conilon ¬ é que o café é, em geral, uma bebida barata, observa Nathan Herszkowicz, diretor¬executivo da Abic. “Isso ajudou a sustentar o consumo”, diz. Mas o crescimento de demanda por cafés de maior qualidade, principalmente entre consumidores mais jovens, também contribuiu para o avanço, segundo ele.

A própria crise econômica no Brasil é um dos motivos para o aumento da demanda doméstica, uma vez que estimulou o consumo de café dentro do lar ao mesmo tempo em que há indícios de redução do consumo da bebida fora de casa. A pesquisa da Euromonitor foi feita com 450 empresas produtoras de café no país, associadas da Abic.

O crescimento do consumo é, sem dúvida, um dado positivo para a indústria de café do país, mas não há comemoração no setor. Isso porque os preços da matéria¬prima estão nas alturas, há escassez de oferta de conilon usado nos blends e as torrefações só têm conseguido repassar parcialmente os custos mais elevados. Nesse cenário, a rentabilidade do setor, normalmente entre 5% e 8%, zerou para algumas empresas, de acordo com fontes do setor.

Enquanto a cotação do conilon subiu 43,5% no período de 12 meses encerrados em outubro, para o consumidor a alta do café torrado em moído em igual período foi de quase 23%, conforme o índice de custo de vida do Dieese.

Crescimento de demanda por cafés de maior qualidade contribuiu para a alta do consumo, segundo Nathan Herszkowicz, diretor¬executivo da Abic. (Foto: Jornal Pires Rural)
Crescimento de demanda por cafés de maior qualidade contribuiu para a alta do consumo, segundo Nathan Herszkowicz, diretor¬executivo da Abic. (Foto: Jornal Pires Rural)

“A indústria está defasada em relação aos custos do café em grão”, afirma Nathan Herszkowicz. Segundo ele, a grande responsável pelo maior preço do café ao consumidor é a matéria¬prima mais cara. A estimativa é que a alta do conilon e do arábica e também de outros custos da indústria tenham gerado um elevação de cerca de 22% nos custos de produção do setor nos últimos 12 meses. A indústria afirma que tem conseguido repassar a alta apenas parcialmente e está negociando novos reajustes com o varejo.

A quebra da safra 2016/17 de café conilon do Espírito Santo, em decorrência de seguidos períodos de seca, levou à falta de produto no mercado e à disparada dos preços. “As empresas não conseguem comprar. O mercado não tem oferta”, afirma Herszkowicz.

Diante disso, as torrefadoras têm sido obrigadas a mudar os blends do café. Antes da crise de oferta de conilon, a espécie era utilizada em um percentual de 50% para 50% da espécie arábica pelas torrefadoras, em média. Agora, segundo o executivo, o percentual de conilon está abaixo de 20%. E há empresas que já deixaram de utilizá¬lo nos blends.

Normalmente, o conilon é usado nos blends de café em pó para dar robustez ao produto final, intensificar o sabor e corrigir a acidez do arábica. Além disso, o conilon também permite um maior rendimento no preparo.

De acordo com Thiago Cazarini, da Cazarini Trading, como há menos conilon no mercado, as empresas “estão sendo forçadas a mudar para o arábica”. As torrefadoras, explicou, estão adquirindo café arábica de qualidade inferior para substituir o conilon nos blends. Com a disparada dos preços desse grão, alguns tipos de arábica estão mais baratos, um quadro inédito.

O café arábica de consumo interno duro, por exemplo, fechou outubro cotado a R$ 490 a saca, enquanto o conilon bica corrida tipo 7 encerrou o mês a R$ 531 por saca, conforme dados compilados pela Abic.

Nesse cenário de escassez do conilon e de necessidade de substituição, os produtores de arábica têm buscado elevar os preços do grão, segundo Cazarini. E têm tido sucesso. Em 12 meses, o arábica de mercado interno subiu quase 30%, conforme dados compilados pela Abic.

Para Tiago Ferreira, especialista em café da FCStone, a necessidade de substituir o conilon por arábica nos blends pelas torrefadoras brasileiras deve persistir em 2017 e até mesmo em 2018.

A razão é que o Espírito Santo, maior produtor de conilon do país, deve voltar a ter problemas na próximas safra, a 2017/18, depois de já ter registrado quebra no ciclo atual, em decorrência da seca no Estado. A Conab estima que a produção brasileira de conilon em 2016/17 deve somar 8,35 milhões de sacas, 25,3% abaixo do colhido na safra 2015/16. No Espírito Santo, a produção deve recuar 30,7%, para 5,380 milhões de sacas.

Fonte: Valor Econômico (Por Alda do Amaral Rocha) via ABIC

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