É impraticável o uso de monitoramento, de índices de infecção, para controle da ferrugem do cafeeiro

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O uso de índices de folhas infectadas, como base para o controle da ferrugem do cafeeiro, tem sido demonstrado ineficiente em diversos trabalhos de pesquisa e, por isso, não tem sido adotado, na prática, o monitoramento da doença visando à indicação dos tratamentos fungicidas.

Para o manejo e controle de pragas e doenças de plantas, o acompanhamento da sua evolução, através de amostragens, é uma ferramenta muito útil, para racionalizar o uso de defensivos, visando seu emprego apenas quando necessário, nas condições de evitar danos econômicos.

Na cultura de café tem sido usados índices de ataque para sinalizar o inicio de controle da broca dos frutos e para o bicho mineiro, embora, sempre, considerando as condições ambientais e a problemática de cada região e, ainda, as características dos produtos inseticidas utilizados.

Para as doenças do cafeeiro, em especial para a ferrugem, foram feitas diversas tentativas de definição de índices iniciais de controle, baseados em percentagem de folhas infectadas e, ainda, foram estudadas alternativas de uso de variáveis climáticas, para sinalização do inicio de controle. No entanto, conforme já afirmado anteriormente, os estudos, até o momento, não mostraram resultados positivos.

As principais razões para as dificuldades na utilização de índices de infecção pela ferrugem, em folhas de cafeeiros, como indicadores para a aplicação de fungicidas, são as seguintes –

⦁ A infecção que é observada visualmente, pela presença de pústulas nas folhas, quase sempre não é a real, pois, como o período de incubação do fungo é longo (30-60 dias) muita infecção já existente internamente nas folhas, ainda não aparece na forma de pústulas, externamente.

⦁ Os fungicidas utilizados, mesmo os sistêmicos (triazóis), não apresentam bom efeito curativo, na atualidade, com problemas crescentes de resistência do fungo a eles. Assim, as formulações mais comuns, envolvendo triazóis mais estrobilurinas, tem sido indicadas de forma mais preventiva, com baixos índices de infecção e com recomendações de épocas baseadas em calendário.

⦁ A indicação de produtos e épocas de tratamento fungicida são comuns, para a ferrugem e a cercosporiose, então não seria adequado separar sistemas que priorizem uma doença, em detrimento da outra.

⦁ A evolução da ferrugem e, também, da cercosporiose está muito ligada à susceptibilidade da planta, muito vinculada à carga pendente e relacionada com a época de granação dos frutos, quando as reservas são transferidas das folhas para eles e, assim, as folhas ficando mais susceptíveis à infecção. Esse período é bem conhecido e dependente da época de floração.

⦁ Por último, a existência de vasta experiência, da pesquisa e da prática, já definiu bem a época de controle, com aplicações em curto período, de nov-dez a março abril, onde coincidem as condições adequadas de clima (temperatura e umidade), de susceptibilidade dos cafeeiros e de disponibilidade de inóculo da ferrugem, coincidindo, também, o controle da cercosporiose, e, ainda, o período de aplicação de micro-nutrientes, assim integrando controles e correções, de forma bem eficiente e econômica.

Na tabela 1 pode-se observar um exemplo de resultados de pesquisa com uso de índices de infecção em relação às épocas de aplicações de fungicidas em comparação com épocas conforme calendário. Verifica-se que na época de ocorrência da ferrugem e de susceptibilidade das plantas (de nov/dez a abril), o emprego de 3 aplicações se mostra eficiente, independentemente do índice de infecção. Apenas no caso de uso de dose muito elevada do produto, embora fora do registro, é possível usar 2 aplicações. Verifica-se que em todas as situações da doença a proteção com fungicidas no período final do controle é mais importante do que o seu inicio.

Fonte: Fundação Procafé (J.B. Matiello, S.R de Almeida, Lucas Bartelega e Rodrigo N. Paiva – Engs Agrs Fundação Procafé)