Dólar sobe quase 2% com mau humor local

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O dólar dá um salto ante o real nesta terça-feira, avançando quase 2% e para níveis não vistos desde meados de setembro. A forte alta, que impõe ao real hoje o posto de moeda com pior desempenho em relação ao dólar, decorre de uma nova rodada de deterioração nas expectativas para a economia brasileira, que na visão de investidores continuará crescendo pouco em meio a uma inflação elevada e política fiscal expansionista. Tal avaliação já leva profissionais da área cambial a considerar que o dólar chegar aos R$ 2,30 é uma questão de tempo.

Por ora, contudo, não se prevê um reforço no programa de intervenção do Banco Central. No entanto, fica cada vez mais consolidada a aposta de que a autoridade monetária precisará estender as ofertas diárias de liquidez para 2014. “O ideal é que o BC mantenha tudo como está. Num momento como o de agora, em que os nervos estão à flor da pele, é melhor evitar surpresas”, diz o profissional da área de derivativos de uma corretora. “Mas o BC está sozinho nesse barco. O restante da equipe econômica conduz esse país como se estivesse num carrinho de bate-bate. E, para piorar, acham que estão completamente certos. Isso é que assusta”, diz.

Às 12h45, o dólar comercial subia 1,73%, para R$ 2,2840, bem perto da máxima do dia, de R$ 2,2890, maior nível desde 12 de setembro, dia em que a cotação chegou a R$ 2,2900. O dólar para dezembro saltava 1,59%, para R$ 2,2970, máxima do dia.

Todo esse desconforto já ditou uma disparada de cerca de 6% do dólar ante em pouco mais de duas semanas, com a moeda saindo de cerca de R$ 2,15 para quase R$ 2,29. Esse movimento não é muito distante da alta de 7,22% registrada entre os dias 12 e 21 de agosto, período em que o dólar saltou de R$ 2,30 para R$ 2,45, no auge do mau humor neste ano com o Brasil.

A forte alta de hoje foi reflexo durante de toda a manhã de “pesadas” saídas de recursos, como classificou o especialista em câmbio da Icap Corretora, Ítalo Abucater. “Está tendo saída tanto de local quanto de estrangeiro. Conforme as compras foram se acentuando, o mercado foi ‘stopando’, o que puxou o dólar ainda mais para cima”, diz ele.

“O casado está bem comprador, indicando que tem um ‘flow’ negativo no spot”, diz o operador de câmbio de um banco estrangeiro, referindo-se ao diferencial em pontos que se subtrai do dólar futuro para se chegar à cotação no spot.

O mercado até chegou a reduzir as compras de dólares após o Banco Central novamente colocar todo o lote de 10 mil contratos de swap cambial tradicional, “injetando” no mercado futuro quase US$ 500 milhões. Mas o alívio teve vida curta, e o mercado voltou a comprar dólares com força. De forma geral, a percepção não só de que a economia brasileira segue atrás de seus pares como não há no horizonte sinais de melhora consistente vem azedando o humor dos agentes desde a semana passada, quando a divulgação do déficit fiscal recorde do setor público consolidado de setembro assustou investidore s.

“A política fiscal deteriorada compromete o conceito do país e há reflexos que podem inclusive cust ar uma redução conceitual de ‘rating’ por parte das empresas especializadas, e coloca em pauta o risco de perda do ‘investment grade’, o que poderia precipitar saída abrupta de recursos externos aqui alocados por impedimentos normativos dos fundos de investimentos estrangeiros”, diz o economista-chefe da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Moura Nehme.

Segundo Nehme, há razões “de sobra” para se acreditar que o mercado de câmbio vinha convivendo com uma “irrealidade” quando o dólar estava cotado em torno de R$ 2,17,  no fim do mês passado. “A rigor, só há fatores adversos nos números das contas externas brasileiras e baixas perspectivas de recomposição ainda este ano, e que justificam plenamente a projeção mínima de preço em torno de R$ 2,30 ao final do ano.”

A última vez que o dólar foi cotado em R$ 2,30 foi em 11 de setembro. Nesse dia, a taxa de câmbio chegou a ser negociada a R $ 2,308.

A disparada do dólar aqui é impulsionada ainda pela aceleração dos ganhos da moeda no exterior. A título de comparação, o dólar subia 0,98% ante o peso mexicano, 0,70% em relação à lira turca e 1,07% contra o rand sul-africano. O mau humor geral ocorre em meio a mais um dia de alta nos yields dos Treasuries e ocorre dias antes da divulgação de dados sobre o PIB e emprego nos Estados Unidos, que podem esclarecer as perspectivas quanto à redução de liquidez pelo Federal Reserve.

Fonte: Valor Econômico

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