Dólar e juros sobem com fuga de capital

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A volatilidade deu o tom nos mercados de câmbio e juros futuros novamente ontem, levando o Banco Central (BC) e o Tesouro Nacional a atuarem para conter a instabilidade e prover liquidez aos investidores. A movimentação nos mercados internacionais foi marcada ainda pela reação ao discurso do presidente do Fed (banco central dos EUA), Ben Bernanke, na quarta-feira. A mensagem de que a economia americana está em recuperação, abrindo espaço para o início de redução dos estímulos monetários ainda neste ano, provocou uma fuga de capitais de mercados emergentes. Como reflexo disso, houve novas altas do dólar e dos juros futuros.

O dólar fechou com apreciação de 1,71%, cotado a R$ 2,258, maior patamar desde 1º de abril de 2009. A alta apenas não foi maior porque o Banco Central (BC) interveio e realizou dois leilões para tentar conter a disparada da moeda americana. A autoridade monetária vendeu US$ 2,986 bilhões por meio de contratos de swap cambial (que equivalem a uma venda de dólares no mercado futuro).

Além disso, o BC ofertou até US$ 3 bilhões por meio de venda de dólares com o compromisso de recompra para os prazos de 2 de setembro e 1º de outubro. Na primeira operação, com recompra em setembro, o BC vendeu dólares a uma taxa de corte de R$ 2,2905. Já na segunda operação, com recompra em outubro, a taxa de corte foi de R$ 2,3034. Em dezembro do ano passado, o BC vendeu US$ 5,466 bilhões por meio deste tipo de operação. O leilão de venda de dólar com o compromisso de recompra funciona como um empréstimo, em que o BC oferta a moeda com valor definido da recompra, sem impacto para as reservas internacionais.

Para o diretor de câmbio do Banco Rendimento, Carlos Eduardo de Andrade, o BC decidiu retomar os leilões de venda de dólar com compromisso de recompra porque notou uma disfuncionalidade entre as taxas de câmbio praticadas nos mercados de dólar à vista e futuro, fruto da demanda muito maior por moeda no à vista. "O que estava acontecendo é que, mesmo com todos os swaps já ofertados, quem precisava de moeda à vista não tinha a demanda suprida. Os bancos estavam segurando os dólares."

Para João Medeiros, diretor da Pioneer Corretora, apesar de haver um aumento da procura por "hedge" (proteção) por parte das empresas, não há falta expressiva de dólares no mercado à vista. O fluxo cambial em junho, até o dia 14, estava negativo em US$ 69 milhões. Medeiros lembra, no entanto, que os bancos encerraram maio com posição comprada em US$ 5,408 bilhões no mercado à vista.

O movimento de fortalecimento da moeda americana é global e provoca depreciação de todas as divisas emergentes. Ontem, até que o real não foi tão mal. A depreciação da moeda brasileira foi menor que a de muitos de seus pares na América Latina. Para Ítalo Lombardi, economista para a América Latina do banco Standard Chartered, o movimento provavelmente é uma correção dos em relação ao fechamento de quarta-feira.

A alta do dólar joga gasolina na fogueira das expectativas inflacionárias. Isso, por si só, já seria suficiente para impulsionar as taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) na BM&F. A arrancada de ontem, contudo, tem como pano de fundo a mudança estrutural das taxas de juros ao redor do mundo. Esse movimento é desencadeado pela elevação do rendimento dos títulos públicos americano (Treasuries), que servem de parâmetro para negócios de renda fixa. Toda a relação entre risco e retorno dos ativos globais está em transformação. Títulos públicos de países emergentes, em tese mais arriscados, têm que pagar prêmios mais elevados.

Nesse movimento, os títulos públicos brasileiros perdem valor. Gestores buscam mitigar essas perdas com apostas pós-fixadas na BM&F, o que impulsiona as taxas dos DIs. E cada rodada de alta leva a outra, em uma espiral de zeragem de posições prefixadas, sobretudo nos contratos mais longos. O contrato DI para janeiro de 2017 fechou a 11,63% (ante 11,50%). Já o DI para janeiro de 2021 terminou a 11,97% (ante 11,63%).

As altas não foram maiores porque o Tesouro realizou leilões extraordinárias de recompra de papéis prefixados e atrelados à inflação. A demanda não foi forte. Da oferta de 4 milhões de papéis prefixados, o Tesouro comprou pouco mais de 1 milhão. Dos 2 milhões de papéis atrelados à inflação, resgatou 239 mil. A demanda modesta sinaliza que não há problema de liquidez generalizada. A atuação contínua do Tesouro, que também fará leilões extraordinários hoje, é benéfica, segundo especialistas, já que ajuda a acalmar o mercado, ao fornecer parâmetros de preços aos títulos públicos.

Por ora, é impossível saber em que nível os juros futuros vão se acomodar. Também não é possível tomar as taxas como parâmetro seguro do que se espera para o ciclo de alta da Selic em curso no Brasil. Dada a disparada do dólar, porém, a perspectiva é de que o Banco Central (BC) tenha que agir de forma mais enérgica para evitar contaminação das expectativas inflacionárias, o que significa apertar mais o torniquete monetário.

Fonte: Valor Econômico

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