Dólar baixo ameaça renda do produtor rural, diz Faeg

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O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, fez um apelo ao governo federal para que adote medidas que estanque a valorização do real frente ao dólar. Segundo ele, o desequilíbrio cambial reduz drasticamente a competitividade da agricultura brasileira nos mercados internacionais e traz de volta a expectativa de nova queda na renda do produtor.

José Mário admite que a valorização do real tem importante impacto nos custos de produção, com redução significativa dos preços dos insumos importados, principalmente fertilizantes. Ele pondera, entretanto, que em condições normais de mercado, toda essa redução nos custos de produção é anulada com folga pelos efeitos da sobrevalorização da moeda nacional nos preços das commodities agrícolas nacionais.

Para o presidente da Faeg, o setor agrícola vive um momento de preços relativamente bons, graças a uma conjuntura internacional favorável. Entre outros fatores, ele cita os baixos estoques mundiais das principais commodities, aumento da demanda em países com a China e problemas climáticos, com estiagens ou excesso de chuvas em diversos países.

"Mas não temos dúvidas de que tudo isso é uma bolha de mercado e mais cedo ou mais tarde o equilíbrio terá de ser restabelecido", diz José Mário. E segundo ele, se essa normalização das cotações internacionais ocorrer sem que a relação cambial no Brasil também se ajuste, o cenário para o produtor nacional será dos mais preocupantes.

Custos
Estudo técnico da Faeg não deixa dúvida de que os custos de produção caem significativamente em função do desarranjo cambial. De janeiro a dezembro de 2009, por exemplo, quando o real valorizou-se 26,24% frente ao dólar, os preços médios dos fertilizantes formulados caíram 30,54%, passando de R$ 1.035,57 a tonelada para R$ 719,29.

No mesmo período, as matéria-primas para fertilizantes registraram redução de preços de 28,68%, caindo de R$ 999,00 a tonelada para R$ 707,63. Mas de janeiro a dezembro de 2009 os custos totais de produção caíram apenas 8,81%, o que demonstra que as reduções foram mais acentuadas nos insumos importados, como resultado da desvalorização do dólar.

Merece destacar que os principais insumos, como sementes, fertilizantes, herbicidas, fungicidas e inseticidas chegam a representar 53% dos custos de produção, no caso do milho, 48% no da soja e 44% no do feijão. O estudo da Faeg conclui que para cada 10% de valorização do real, reduziu-se em 11,64% os custos dos fertilizantes formulados e em 11,12% as matérias-primas para produção dos fertilizantes.

Impacto
Para se ter uma idéia do impacto da desvalorização do dólar nos custos da produção agrícola, basta dizer que os preços médios da tonelada de fertilizante formulado que em 2009 foi de R$ 848,61, sem os efeitos da valorização do real teria chegado a R$ 947,39 a tonelada, ou 11,64% a mais.


Da mesma forma, sem o impacto da valorização do real, o custo médio de produção do arroz de R$ 43,67 a saca em 2010, teria chegado a R$ 45,97; o do algodão, de R$ 46,18 a arroba teria ficado em R$ 81,57e apenas o da soja teria caído de R$ 31,19 a saca para R$ 30,48.

Impacto anula menor custo de produção
Para o presidente da Faeg, José Mário Schreiner, as consequências da desvalorização do dólar sobre os custos da produção agrícola não podem ser consideradas isoladamente. "Do contrário, seremos tentados a considerar o desequilíbrio cambial como um benefício, quando na verdade é fenômeno que trás grandes preocupações para o setor."

Com base em estudo técnico da Faeg, ele cita que em 2009, quando a desvalorização do dólar chegou a 26,24%, os preços dos principais produtos agrícolas caíram acentuadamente em Goiás. O milho caiu 15,03%; soja, 10,75%; arroz, 19,11%; algodão, 2,94%; e feijão, 42,67%. Este ano, até setembro, como o dólar desvalorizou-se em apenas 3,06%, os preços ao produtor reagiram de forma acentuada, com aumento de 24,64% para o milho; 4,43% a soja; algodão 88,79%; arroz 17,49%; e feijão 120,87%.

Variação
Sem o impacto da variação cambial, o preço médio do arroz, que foi de R$ 36,64 em 2009, teria chegado a R$ 39,31; a soja, de R$ 40,44 teria ido para R$ 42,09; o do milho, de R$ 16,05 para R$ 16,94 e a arroba do algodão, de R$ 38,16 para R$ 39,07.


Considerado em cinco principais produtos da agricultura goiana, o Valor Bruto da Produção (VBP) de 2009, que foi de R$ 15,07 bilhões, sem o impacto da desvalorização do dólar poderia ter chegado a R$ 15,39 bilhões, ou mais 2,12%.

O estudo da Faeg explicita, também, as consequências do desequilíbrio cambial sobre as exportações do agronegócio goiano. O economista Edson Novaes, gerente de Estudos Técnicos e Econômicos da entidade, explica que, entre setembro de 2009 e setembro passado, o dólar caiu 5,08%, passando de R$ 1,8087 para R$ 1,7169, período em que também as exportações goianas caíram 8,48%, passando de US$ 272,53 milhões para US$ 249,43 milhões.

Perdas
Conclui o estudo da Faeg que, como para cada 10% de valorização do real observa-se uma queda de 16,7% nas exportações do agronegócio, o valor acumulado das vendas goianas para o exterior de janeiro a setembro de 2009 poderia ter sido US$ 39,6 milhões a mais que os US$ 2,37 bilhões efetivamente faturados.


Em síntese, consideradas as vantagens da desvalorização do dólar sobre os custos de produção e as desvantagens com a redução dos preços dos produtos, apenas o algodão apresenta uma relação favorável ao produtor em 2009. A queda nos custos médios da cotonicultura foi de 4,57%, enquanto a redução de preços ficou em 1,12%. No arroz, a queda dos custos de produção foi de 2,90%, enquanto a dos preços chegou a 7,28%. No feijão, a disparidade foi maior ainda, com redução de 2,03% no custo de produção e queda de 16,26% nos preços ao produtor.

Fonte: Jornal O Popular (GO)  

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