Do plantio à xícara: ex-lavrador ‘vive’ o café no Sul de Minas há 24 anos

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“Se fosse pra viver sem o café minha vida não teria sentido”. Quem diz a frase é Nivaldo Lúcio Figueiredo, de 43 anos. Hoje classificador e degustador de cafés especiais, ele começou sua trajetória com o grão há 24 anos, na mesma fazenda em que trabalha até hoje, em Botelhos (MG), mas de uma maneira bem diferente dos dias atuais.

“Comecei a trabalhar com café eu era bem novo, com 19 anos. Comecei na lavoura plantando, fazendo os cuidados e tratos culturais, adubação, defensivo, colheita e fui subindo”, lembra o classificador.

Além da lavoura, Nivaldo passou também por diversas áreas da produção do café. Foi lavrador, trabalhou na secagem no terreiro, no secador, esteve também no beneficiamento, na classificação do benefício, até receber um convite que fez sua vida ganhar novos ares.

Do plantio à xícara: ex-lavrador “vive” o café no Sul de Minas há 24 anos — Foto: Filipe Martins

“Eu sempre aparava a mesa em dia de prova de café. Um dia, por um acaso, o Zé Renato chegou pra mim e perguntou como estava meu serviço. Respondi que estava tranquilo e ele falou pra eu ficar e provar com ele”, pontuou.

“Duas ou três vezes provando, ele chegou em mim novamente e disse que eu ia pontuar café. Eu disse que não tinha nem noção, mas ele me falou pra não esquentar de falar bobeira. Então eu fui. Ele foi fazendo a prova e anotando as notas dele. No final da rodada ele virou pra mim e disse assim: uma xícara e uma nota. Era diferença de um ponto ou meio ponto das notas dele. Então ele me mandou para fazer o curso”, lembra.

Há um ano e meio trabalhando como classificador e degustador de cafés especiais, Figueiredo conta que todo aprendizado adquirido nos outros setores da fazenda é fundamental para que ele consiga exercer sua função, mas lembra que o trabalho de quem está hoje nas funções que já exerceu tem um peso muito maior na qualidade final do produto.

“Para que eu possa estar aqui fazendo isso, dependo muito de quem está fazendo o trabalho lá fora. É uma cadeia produtiva. Se o cara que tá lá na lavoura não faz os traços culturais e não cuida bem, não tem sentido na xícara. O mesmo acontece com a pessoa que está fazendo uma separação no lavador. Se não faz o serviço como deveria, também não vamos ter um bom resultado”, comentou.

Hoje classificador e degustador de cafés especiais, ele já passou por todas as áreas da produção e ainda quer mais. — Foto: Filipe Martins

E engana-se quem pensa que o ex-lavrador chegou ao ponto máximo de sua carreira. Continuar aprendendo sobre o grão que lhe deu novas oportunidades na vida é um objetivo ainda para ser conquistado.

“São 24 anos onde pude aprender muito, mas sei que tenho muito para aprender ainda. Tem muita gente que teve paciência comigo, que foi me ensinando. Eu fui correndo atrás também. Agora vou ver se eu consigo mais. Quero ver se vai sobrar um tempo pra fazer um curso de torra”, disse.

Classificar café se tornou uma rotina na vida de Nivaldo. Pontuar doçura, acidez, corpo, equilíbrio e aroma, usando toda uma metodologia para chegar à somatória de notas está cada vez mais fácil. Para ele, difícil mesmo é pensar em um dia ter que parar de trabalhar com café.

Sou um apaixonado por café e não me vejo fazendo outra coisa. Se eu parar de trabalhar com café aqui, vou trabalhar com ele em outro lugar. Café na verdade pra mim é vida”, concluiu.

Fonte: G1 Sul de Minas (Por Filipe Martins)

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