Dívidas dos cafeicultores sem renda podem prejudicar safra 2010/11
Endividamento e renda são fatores que influenciam diretamente no cultivo do café: se o produtor tem dívidas e não tem renda não consegue recursos financeiros para concluir o cultivo e vender a produção. Por esse motivo, os membros do Conselho Nacional do Café – CNC – se reuniram no fim do mês passado para discutir propostas para elaboração de uma política cafeeira específica para o setor.
Gilson Ximenes, presidente do CNC, explica que o foco é exatamente a geração de renda a todos os produtores e a criação de alternativas que possibilitem a saída do crônico endividamento da classe. “Consolidamos algumas propostas para exatamente pensarmos em uma cafeicultura com rentabilidade e sem passivos financeiros futuros”. A sugestão do Conselho é a conversão das dívidas financeiras em fiscais, transformando-as em Cédulas de Produtor Rural – CPR’s.
De acordo com Ximenes, isso possibilita que o cafeicultor honre seu endividamento com pagamento por meio de sacas de café, ou mesmo com dinheiro. “Isso acontece, à medida que atividade passa a gerar renda e o cafeicultor vá comercializando a preços superiores aos custos de produção”.
Segundo Oswaldo Henrique Paiva Ribeiro, presidente da Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Varginha – Minasul, essa é uma das maneiras para solução da crise cafeeira. “Temos que resolver o passado para o produtor ter tranquilidade em planejar o futuro”. O tempo para implantação dessas medidas gera impactos no resultado da safra deste e do próximo ano.
O produtor de café brasileiro tem dificuldades em acessar o crédito junto aos agentes financeiros, justamente devido à situação de dívidas. “Sem recursos, os trabalhos de cata em 2010 e os investimentos nas lavouras para 2011 ficam completamente comprometidos, impactando direta e negativamente o andamento da colheita, e, subsequente, na qualidade do café”, diz Ximenes.
Para o representante de Varginha na reunião do CNC, a geração de renda pode ser viabilizada a partir de melhores preços para a saca do café. “O produtor precisa ter dinheiro na hora rta para ter condições de recuperar e renovar as lavouras. Isso agrega valor ao produto, uma vez que o cafeicultor não vai entregar a saca a preços mínimos”.
Oswaldo cita também a comercialização de café torrado e moído, gourmet, especiais e certificados nos mercados internos e externos, além de colocar o café brasileiro nas bolsas internacionais, desde que com padrão definido, sem depender do preço dos outros, a fim de valorizar o produto brasileiro. “Tem que haver políticas públicas para tratar do assunto, de forma que sejam mais eficientes, efetivas e dinâmicas, a começar com recursos adequados para distribuir a safra ao longo dos 12 meses”.
A situação econômica é vista como crônica pelos membros do Conselho Nacional do Café. Segundo eles, o fato se deve à inexistência de políticas públicas ao setor e não à má gestão dos cafeicultores. “Esses, por sinal, teem todo o mérito de fazer no Brasil a maior e melhor cafeicultura do mundo”, defende Ximenes.
A possibilidade é colocar o café como parte do plano de governo. O histórico de força financeira da cafeicultura cessou no biênio 1989/1990. Na época, o governo federal optou por uma maior divisão da pauta exportadora, com os produtos industrializados, surgindo como reflexo do dinheiro do café investido nesse setor. “Esse fator é o que nos faz pensar no café como parte do plano de governo e não como plano principal da agricultura, cujas ações governamentais têm focado em outras atividades mais rentáveis atualmente”, esclarece Ximenes.
Ainda segundo ele, a questão não depende do CNC ou do setor privado, mas do governo. “Há tempos encaminhamos pleitos sugerindo melhor renda e a consequente fuga do endividamento, porém elas têm esbarrado no marasmo das áreas agrícola e econômica do governo federal”. Ximenes conta que a expectativa era a de implantação do plano de imediato.
Ele disse também que o CNC está trabalhando as bases para obter maior êxito possível quanto à geração de renda e a retirada dos cafeicultores da situação de devedores. O presidente da Minasul acredita que haja uma visão distorcida do cafeicultor. “Muitos acham que o produtor é barão, rico. Mas a maioria da produtividade de café está nas mãos dos pequenos e médios cafeicultores”. Para ele, atualmente a importância do café é mais social que econômica no contexto do país.
Fonte: Gazeta Rural (suplemento quinzenal da Gazeta de Varginha)