Diversidade ambiental e empenho na produção são ‘chave’ para qualidade do café no Sul de Minas, dizem especialistas

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Na região Sul de Minas são produzidos cafés de alta qualidade que são cada vez mais conhecidos e valorizados no mercado, seja em âmbito nacional quanto internacional. Segundo especialistas e pesquisadores do mercado cafeeiro, o segredo dessa qualidade só é possível devido às características ambientais da região e também ao constante aperfeiçoamento dos produtores.

De acordo com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (Abic), o segredo para o Sul de Minas ser uma região premiada está, principalmente, no clima e relevo favoráveis e também na produção artesanal da bebida.

Condições favoráveis
Com temperatura entre 18 e 20 graus, e altitudes de até 1.400 metros, a região tornou-se uma das principais produtoras de cafés do Brasil e a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2018 é até 16,4 milhões de sacas, o que representa quase 29% da produção nacional.

Segundo Rosemary Gualberto Fonseca Alvarenga Pereira, professora do departamento de Ciência dos Alimentos da Universidade Federal de Lavras (Ufla), o clima e o relevo exercem influência na maioria das etapas do processo produtivo.

Hamilton Torres percorreu 300 km e encontrou no Sul de Minas a qualidade que procurava para produzir café (Foto: Arquivo Pessoal / Hamilton Torres)

“As diversidades ambientas são muito importantes no Sul de Minas. O relevo, com regiões de altitudes variadas, influencia a composição química dos grãos. A elevada umidade do ar pode exercer efeitos sobre fungos, leveduras e bactérias presentes na planta e no ambiente pós-colheita, o que exige cuidados diferenciados no manejo”.

Temperatura, precipitação, altitude e latitude também interferem significativamente na qualidade da produção, segundo a professora. “Conhecer o ambiente no qual a plantação está inserida é fundamental, pois irá possibilitar o planejamento adequado da produção de forma individualizada e contextualizada para a realidade daquele produtor”.

Migração de produtores
A premiada região também chama a atenção de produtores de diversas regiões brasileiras que buscam no Sul de Minas qualidade de produção. Há 27 anos, Hamilton Tadeu Torres deixou São Paulo (SP) e percorreu cerca de 300 km até Machado (MG) para iniciar a produção de café.

O objetivo de Hamilton era encontrar uma boa região para plantação e com custo acessível. “Procurei vários lugares e estados, mas o que mais me atraiu foi o local que estou há 27 anos, o Sul de Minas Gerais e é aqui que quero e vou continuar”.

Há 35 anos, Arthur Moscofian comemora os bons resultados encontrados nas terras de Machado, MG (Foto: Estevão Passamani)

Atualmente o produtor possui 90 hectares de plantação de café e o que antes era somente matagal, hoje se tornou uma produção que tem ficado entre as melhores colocações nos concursos que participa. “Na categoria café despolpado, conseguimos ficar duas vezes entre os dez melhores cafés. Acredito que esse seja um ótimo resultado comparado com a quantidade de produtores que também participa desses concursos”, comemora.

Arthur Moscofian deixou a produção no Paraná (PR) há 35 anos e se estabeleceu no Sul de Minas. Com 100 hectares de plantação de café vendido em grãos, moído e também em cápsulas, o produtor percebe a qualidade no produto produzido.

“Tínhamos produção em Sorocaba (SP) e também no Paraná (PR), mas decidimos vir a Machado porque aqui a qualidade faz com que nosso café fique com mais corpo e também mais doce, fazendo com que o consumidor não precise colocar açúcar na bebida, por exemplo”.

Temperatura, precipitação, altitude e latitude também interferem significativamente na qualidade da produção (Foto: Gary Gananian)

Cafeicultores e pesquisas: união que deu certo
Os cafeicultores buscam adequação e melhoria contínua dos processos produtivos para alcançar qualidade e valorização econômica. Segundo Rosemary, há uma interação intensa entre produtores e aqueles que buscam atender as suas demandas como professores, pesquisadores e extensionistas.

“Isto faz com que diversidades e adversidades climáticas, restrições financeiras, entre outros, sejam alvos de pesquisas para adequação da produção com planejamento, dedicação, eficiência, buscando com persistência a qualidade”.

É comum encontrar na região sul mineira feiras e exposições com produtos e inovações, assim como relevantes trabalhos desenvolvidos por instituições de ensino, associações e cooperativas

Professora da Ufla afirma que ações executadas no Sul de Minas já foram seguidas como exemplo por várias outras regiões (Foto: Gary Gananian)

“Há um estímulo contínuo pela busca da qualidade e sua valorização. Por outro lado, muitos fatores influenciam na qualidade do café, e o número de produtores do Sul de Minas interessados e conscientes da necessidade de conhecer a qualidade do grão que produzem e adotar medidas corretas para obtê-la, é crescente”.

Afinal, qual o segredo?
Definir um único fator como segredo para a qualidade e sucesso do café do Sul de Minas é quase que impossível aos especialistas. Para a professora que, além de estudiosa é apaixonada pelo café, a produção na região alcança dimensões que superam o tradicionalismo.

“Embora muito ainda tenha que ser feito, principalmente em relação à cafeicultura familiar, posso dizer que as ações executadas no Sul de Minas já foram seguidas como exemplo por várias outras. As certificações alcançadas são um bom exemplo disso. No Sul de Minas somos apaixonados pelo café”.

Fonte: G1 Sul de Minas (Por Gustavo Oliva)

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