Dinheiro fluindo para as commodities

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Por Rodrigo Costa

Rodrigo Correa da Costa - ArcherComo tem acontecido nos últimos oito anos os bancos centrais das principais economias do planeta voltaram a flexionar seus músculos sinalizando aos mercados que injetarão mais dinheiro no sistema para conter potenciais riscos de recessão e deflação, mantendo na mão dos investidores as virtuais puts (opção de venda) que protege a tomada de risco caso algo volte a dar errado.

A semana começou com uma tímida continuação da pressão vendedora iniciada com a decisão dos eleitores do Reino Unido de sair da União Européia, e finalizou com as bolsas de ações e os índices de commodities praticamente apagando as perdas desde a sexta-feira, 24 de junho último.

Quem estava de férias no período e não estava posicionado na libra esterlina ou em papéis britânicos mal vai notar o que aconteceu. Os juros das dívidas de Estados Unidos, Japão, Alemanha e outros países da Europa baixaram ainda mais para novas mínimas, fazendo com que do total de aproximadamente US$ 44 trilhões do mercado de bonds tenha em torno de US$ 13 trilhões com rendimentos negativos – ou seja, o investidor vai receber menos do que investiu nestes papéis.

Juntou-se a isto a opinião de dois CEOs dos maiores fundos de investimentos do mundo dizendo acreditar que o próximo novo ministro da Grã Bretanha conseguirá reverter o desembarque da região da UE e o ânimo dos gestores de fundo foi revigorado para colocar dinheiro em ativos de risco.

Para as commodities a história pode ser positiva caso a maior liquidez venha gerar inflação. Há muitas dúvidas sobre a efetividade do remédio ministrado há anos e que causou menos investimento e consumo direto do que desejado. Sem falar que o infindável afrouxo-monetário em algum momento vai ter de ser revertido, de que forma é outro ponto de interrogação.

Neste cenário as moedas dos emergentes firmaram, em especial o Real que remunera em renda-fixa uma das maiores taxas do mundo. A moeda brasileira negociou a R$ 3.1832, o menor patamar desde julho de 2015 e levou de carona o café e o açúcar para cima, que tem tido uma correlação forte com desvalorização do câmbio local.

Nova Iorque fechou no mais alto nível desde maio de 2015, pontualmente ajudada por um fluxo no físico no mercado interno que tem as indústrias correndo para cobrir suas necessidades, assim como os exportadores que aproveitam para diminuir as perdas de suas posições vendidas em diferencial.

A reposição portanto se mantém firme, não encaixando nos níveis de venda que teimosamente permanecem sendo acordados e ofertados no FOB, uma aposta que só dará certo caso a safra seja maior e principalmente não tão ruim de qualidade como se tem dito, ou caso o contrato “C” mantenha a tendência de alta.

As origens produtoras do arábica não se fizeram de rogadas e aproveitaram para vender o que tem de café disponível – desde as que estão no pico da entressafra até as que estão tentando adiantar suas colheitas para tomar vantagem do rally dos mercados futuros.

Em mais um ano de superávit mundial, ainda que modesto, os importadores/consumidores internacionais relutam em acreditar em um aperto, haja vista a disponibilidade no spot (estoques sentados no destino) e as ofertas do basis (diferencial) que não refletem uma preocupação. Até os spreads da bolsa dizem o contrário, sinais conflitantes e que certamente deixam desconfortáveis os gestores de risco das empresas multinacionais.

A grande questão do quanto que se perdeu de qualidade de café no Brasil paira no ar. De certeza parece só haver as opiniões de uma safra de cereja (semi-washed) bem aquém do que se imaginava antes das chuvas de junho. Já para os cafés finos naturas (fine-cups) há quem diga que o total perdido atinja até 40% da safra-atual, e os mais otimistas estimam em torno de 25%. É importante lembrar que na média em torno de 10% a 15% de café de qualquer safra acaba sendo varrição/grãos menos nobres, portanto deve-se aplicar a diferença para calcular as “perdas” adicionais.

O fechamento das duas bolsas foi tecnicamente positivo, mantendo os altistas no volante. O relatório do CFTC mostrou os fundos comprados em 29 mil contratos até a última terça-feira, estando provavelmente hoje com uma posição ao redor de 34 mil contratos líquido-comprados – já que o mercado subiu ainda mais nas últimas três sessões. A posição é a maior desde 11 de março de 2008, quando então os fundos vinham reduzindo os seus lotes comprados do recorde histórico de 56 mil contratos de 12 de fevereiro do mesmo ano. A máxima do mercado na época foi US$ 171.90, mas o Real negociava abaixo de R$ 1.80 e o Peso Colombiano abaixo de COP 2,000.00. Lá, como acontece hoje, o apetite dos fundos para as commodities estava forte, mas um dos motivos era a queda do índice do dólar, que negociava a 78 pontos – bem mais baixo dos atuais 95 pontos.

Se os fundos resolverem comprar mais, os futuros podem continuar subindo, perigosamente pois os volumes são incompatíveis com o movimento, gerando a volatilidade alta que estamos presenciando no intraday. Apontar onde os preços vão parar é tarefa ingrata no momento, mas aos produtores que já tem uma idéia do que estão colhendo, colocar dinheiro no bolso é uma ótima idéia. Um colaborador confidenciou que está aproveitando para comprar café de até três safras adiante, uma bela oportunidade para os produtores.

A alta recente, US$ 148.00 centavos, precisa ser quebrada e mantida para não atrair liquidação dos comprados, e uma queda abaixo de 141.00 na próxima semana, encurtada pelo feriado de Independência nos Estados Unidos, pode acelerar uma baixa acentuada.

Uma excelente semana e muito bons negócios,

* Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

Fonte: Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda

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