De xícara em xícara, o café fino brasileiro rompe a barreira russa

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Em Moscou, o brasileiro Edgar Bressani costuma apreciar um bom café na Double B Coffee & Tea, Montana Coffee, Coffeemania e Koffein. É bem provável que nos blends servidos nessas redes se encontrem os cafés diferenciados produzidos pela sua empresa, que a partir do segundo semestre pretende entrar nos supermercados com a marca própria O’Coffee.

Algo pouco comum na Rússia há alguns anos – tanto encontrar cafés de qualidade quanto bebê-los em lojas especializadas. Hoje, o lema defendido por vários exportadores brasileiros e, claro, pelos concorrentes internacionais, é “menos chá, mais café”. Parêntese: menos cafés comuns e menos café solúvel também.

Energético por energético, eles querem promover a bebida mais globalizada e que tem a cara do Brasil. Mas, sobretudo o arábica especial – ou gourmet.

O aumento da renda da população foi a largada nesse processo. Associado a essa tendência, também contribuiu a abertura econômica e social pós-soviética, proporcionando uma certa ocidentalização de alguns hábitos e costumes, aproveitada por algumas cafeterias internacionais que romperam o mercado. A americana Starbucks entre elas.

“O café foi crescendo na Rússia e, ultimamente, vemos um amadurecimento para o produto de melhor qualidade, de grãos selecionados”, diz Bressani, o CEO da O’Coffee, companhia que exporta mundialmente 28 mil sacas – de 60 quilos cada – e seis mil aproximadamente para a Rússia. O principal cliente da empresa é a Soyuz Coffee Roasting.

Atento às novas oportunidades de desenvolvimento econômico do país, o governo russo ainda incentivou o desenvolvimento de uma indústria local. Para evitar uma maior saída de dólares com a compra do produto industrializado, pronto para ser bebido, foi zerada a alíquota de importação para o café verde, cujo destino passou a ser as torrefadoras instaladas internamente, entre as quais gigantes com a Nestlé. Isso igualmente derrubou os preços e começou a espalhar a maior aceitação da bebida.

Muito embora os números tivessem ficado mais favoráveis, o campo de exploração consolidado é para longo prazo, reconheceu Ramaz Chanturia, presidente da Associação RusTeaCoffee (Roschaykofe), durante um encontro com empresários do Brasil na World Food Expo, na capital Moscou, em setembro último.

Em 2013, a Rússia comprou ao Brasil 22,5 mil toneladas de café verde em geral (21 mil em 2012), por US$ 58,3 milhões. Do total, calcula-se que 20% foram de grãos diferenciados, índice crescente sobre os anos anteriores. Em relação ao café industrializado igualmente de qualidade superior para ser vendido no varejo, o país não comprou sequer um grão em 2012, já o ano passado foram 57 toneladas, por US$ 388,6 mil, também segundo as estatísticas do governo brasileiro.

O desempenho foi geral, portanto. Grãos verdes comuns, grãos verdes selecionados – nos dois casos para ser beneficiado domesticamente e vendido como marca local –, e café acabado made in Brazil.

É tão sintomático o ganho da tradicional bebida energética não alcoólica que até o consumo de café solúvel, absolutamente rejeitado no Brasil, tem crescido em termos de qualidade na mesa dos russos, nomeadamente o freeze dried, mais encorpado e de sabor mais acentuado. Aliás, o solúvel, respondeu pelo maior volume em valores das exportações brasileiras à Rússia, US$87,7 milhões em 2013, enquanto representou apenas 10 mil toneladas.

Este tipo de produto, na sua maior parte, também é exportado a granel e depois embalado com marca local. A exceção é a latinha ou vidro com o sorriso mundialmente conhecido do Pelé, da Cia. Cacique de Café Solúvel, a pioneira.

Diante do movimento, encontramos a Káff, outra tradicional produtora de cafés especiais brasileira. Como a O’Coffee, também possui suas próprias fazendas e torrefadora em São Paulo. A diferença é que André Galassi, seu presidente, só quer abrir mercado para o produto torrefado, com marca própria.

Ele esteve na feira mundial de alimentos em 2013. E ainda neste início de 2014 não projeta a entrada na Rússia, mas com a experiência de abrir mercados não tradicionais, como Arábia Saudita e China, não descarta o futuro. O preço final, no seu entendimento, ainda é a principal barreira.

Afinal, se o café verde de alta qualidade já tem uma elasticidade de preço bem superior ao verde mais comum – há lotes e microlotes da O’Coffee que podem variar de US$ 300 a US$ 500 a saca de 60 kg, segundo Edgar Bressani –, o já exportado embalado e fracionado para comercialização de varejo alcança patamares que pode assustar. Lembra-se mais uma vez: adiciona-se 10% de imposto de importação.

Novamente aqui Galassi e demais exportadores de marca aguardam o mesmo fenômeno que o café solúvel e comum a granel vivenciaram há alguns anos, roubando um pouco do tradicional espaço do chá (importado da Índia e China). “Essa desvantagem poderá ser atenuada com a maior familiaridade dos russos com o café”, espera o empresário brasileiro.

A identificação do produto com o Brasil é algo notória. Mesmo sendo o Vietnã o primeiro fornecedor, beneficiado pela menor distância, e o país o segundo, poucos consumidores finais sabem disso. A imagem já é apreciada, o que, na visão da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex) e da Roschaykofe já facilita a maior presença.

Seja, portanto, na base da pirâmide social ou nas camadas superiores, é uma questão de tempo. Até 2016, a consultoria internacional de pesquisa de mercado Euromonitor estimou, há dois anos, que o consumo russo crescerá 5% anualmente. Saindo dos 1,5 kg por cabeça estimados em 2013.

Para efeito de comparação, no Brasil chega a quase 7 kg e nos países nórdicos a 8 kg.

Fonte: Voz da Rússia

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