Crise no setor cafeeiro liga sinal de alerta em produtores no Sul de MG

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Mais uma vez a crise no setor cafeeiro preocupa os produtores no Sul de Minas. Os baixos preços praticados no mercado estão fazendo com que as lideranças do setor já se mobilizem para evitar maiores perdas. Os produtores pedem que as dívidas sejam prorrogadas e que o governo dê subsídios para a classe.

Atualmente, a saca de 60 quilos do café arábica, o principal tipo produzido no Sul de Minas e no Brasil, está sendo vendida em média a R$ 235. No entanto, conforme as cooperativas da região, o preço de custo deste mesmo café não sai por menos de R$ 300. A situação é bem diferente do que em maio de 2011, quando o valor da saca chegou ao pico de R$ 542, a maior alta registrada em 34 anos. Neste ano, o maior valor foi de R$ 343, atingido no dia 21 de janeiro, segundo levantamento do Centro do Comércio do Café de Minas Gerais (CCCMG).

No entanto, se o preço para o produtor vem sendo negociado abaixo da média, nas gôndolas, para o consumidor comum, o preço segue o mesmo.

"Na verdade, para o consumidor que compra o café no supermercado essa situação não reflete. Para a indústria está muito bom, porque está comprando café barato e os preços nas gôndolas não abaixaram. Seria um efeito positivo para o consumidor, mas até agora não estou vendo os preços caírem nos supermercados", diz o gerente de vendas da Cooperativa dos Produtores de Café da Zona de Varginha (Minasul), Marco Antônio Bíscaro.

Principais problemas
Segundo especialistas do setor ouvidos pelo G1, a falta de medidas rápidas por parte do governo e o excesso do produto no mercado estariam provocando uma nova crise. Eles pedem um subsídio para que o produto deixe de vender o produto abaixo do preço de custo. Nem a compra de 3 milhões de sacas ao preço de R$ 343 para pagamento em março de 2014, anunciada durante visita da presidente Dilma Rousseff a Varginha (MG) no início de agosto, foi suficiente para aliviar a situação.

Da esquerda para a direita: Archimedes Coli Neto, Marco Antônio Bísicaro e Carlos Alberto Paulino da Costa (Foto: Lucas Soares / Reprodução EPTV)

"A medida não surtiu efeito porque o produtor precisa de dinheiro para agora, e não para março, abril. Não atende à maioria dos produtores. A Conab informa que teremos uma safra de 48 milhões, quando sabemos que temos acima disso. Nós estamos com todos os armazéns lotados, com demanda de 50 milhões de sacas e sobra de café. Na verdade, ninguém sabe ao certo o volume que o Brasil colhe. Se nós tivermos uma margem de erro, nós estamos falando em 10 milhões de sacas, o que é café demais para complicar o mercado", diz Archimedes Coli Neto, presidente do CCCMG.

Um dos defensores da medida que foi adotada pelo governo foi o presidente da Cooperativa dos Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), a maior do setor, Carlos Alberto Paulino da Costa. Segundo ele, caso o governo não tivesse comprado os 3 milhões de sacas, o cenário poderia ser ainda pior.

"A área plantada na nossa região está estagnada há muitos anos. O que tem aumentado é a produção de regiões novas de mecanização intensa. Na nossa região, o que aumentou é a produtividade. O produtor está melhorando os traços culturais, tem uns defensivos melhores, o produtor está melhorando a produtividade. A gente achava que tirando três milhões de sacas do mercado, isso iria fazer com que os preços reagissem. No entanto, não teve efeito. Mas, muitos dizem que se não fosse isso, o café poderia estar ainda mais baixo, poderia ter caído ainda mais", diz Costa.

Outro fator foi o aumento do consumo do café conilon no cenário internacional, o que afetou diretamente o Brasil e os produtores do Sul de Minas, tradicionais na produção e exportação do café do tipo arábica.

"O problema do café é o mercado lá fora. Nós perdemos muito blend (mistura de tipos do produto). O arábica perdeu espaço para o conilon lá fora e isso colaborou para o cenário atual. Nós tivemos duas safras grandes, a safra do ano que vem não deve ser pequena, os estoques estão altos e a demanda lá fora está pequena", diz Marco Antônio Bíscaro.

Segundo especialistas, estoques estão cheios e sobra café no mercado (Foto: Reprodução EPTV)

Soluções
Em um cenário onde sobram reclamações e as soluções parecem distantes, as lideranças do café levantam a bandeira de uma maior ajuda aos produtores. Para o presidente da Cooxupé, assim como o Bolsa Família e outros programas assistenciais que já são desenvolvidos, o produtor precisa mesmo é de uma Bolsa Café.

"A solução é não inventar a roda, fazer o que sempre foi feito. Prorrogar a dívida e dar um subsídio para os produtores. Pela Lei do Crédito Agrícola, existe um preço mínimo para o café que é de R$ 307. Por lei, os produtores têm direito que o governo pague a diferença do preço de mercado. O governo tinha que pagar pelo menos esta diferença para os pequenos, que pelo menos daria para ele sobreviver. Nós estamos trabalhando para isso. Tem o Bolsa Família, o Bolsa Presidiário, por que não uma Bolsa Café?", diz Carlos Alberto Paulino Costa.

Já o presidente do CCCMG cobra a liberação por parte do governo de recursos da Contribuição ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) e de créditos de ICMS e Cofins que ainda não foram liberados para os exportadores. Para ele, faltam medidas mais rápidas e pontuais.

"O governo está prestes a deixar uma crise sem precedentes no setor cafeeiro. O governo é lento, não toma as decisões na hora certa. Ele deixa a crise se estender para depois vir apagar o fogo. O produtor deve parar de plantar café até que a coisa se estabilize. Nós não podemos mais plantar café em um momento em que estamos com sobra. É melhor termos 100 mil pés de café ganhando dinheiro, do que ter 200 mil pés perdendo. Nós chegamos a um limite. Amanhã, se houver maior demanda, nós podemos ter um aumento de produção sem plantar café", diz Archimedes Coli Neto.

Enquanto isso, muitos poderiam ser perguntar: se o café está tão ruim, não é melhor deixar a cultura de lado e partir para investir em outro tipo de cultura?

A baixa existe para os produtos, mas não é sentida pelos consumidores (Foto: Reprodução EPTV)

"Nós temos que pensar é na questão social. Na nossa cooperativa, 80% dos cooperados são de pequenas propriedades ou de micro-propriedades, de agricultura familiar. Eles não têm outra opção. Se eles forem sair do café, não tem nada compatível para eles. Só se eles venderem a propriedade e voltarem para a cidade. Ganhando ou perdendo, eles vão ficar naquilo ali. Os grandes ainda plantam milho, gado, mas já investiram muito nas propriedades e se largarem, aquele investimento de R$ 500 mil pra cima não vale mais nada. Assim como o governo tem o Bolsa Família, tem que dar uma ajuda para esses produtores pequenos, porque socialmente, eles são importantes", conclui o presidente da Cooxupé.

Pacto do Café
Para tentar amenizar as dificuldades sofridas nas lavouras da região, cafeicultores de São Sebastião do Paraíso (MG) apresentaram nesta semana um documento com 18 propostas dirigidas ao governo federal para ajudar na recuperação do setor. O “Pacto do Café” aponta os principais problemas da cafeicultura e sugere soluções para diminuir a crise causada pelos baixos preços do produto.

O Pacto do Café trata questões como a compra de insumos e máquinas através das sacas de café, o que já é feito nas cooperativas. O pedido é que o governo financie a troca aceitando a saca como pagamento e que ela seja cotada ao preço de R$ 343, o valor considerado ideal para os produtores para que não haja perdas.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para o produtor não ter prejuízos nesta safra, a saca de 60 quilos do café arábica teria que ser negociada a R$ 343, valor 31% maior do que é praticado hoje.

Segundo o superintendente da Cooparaíso, Francisco Ourique, o Pacto do Café está disponível na internet e já recebeu o apoio de produtores de todo o país e até mesmo do exterior. A cooperativa pretende que o Pacto do Café se torne uma arma importante para mobilizar os produtores e sensibilizar o governo a adotar as medidas urgentes para a cafeicultura.

“Já tem produtores de outros países, como a Colômbia, interessados em nossas propostas. Isso mostra que produtor de lugar nenhum está satisfeito. Só aqui no Brasil o prejuízo foi de cerca de R$ 6 bilhões”, afirma.

O documento será entregue ao Ministério da Agricultura e também vai ser levado a encontros de cafeicultores.

Fonte: G1 Sul de Minas (Lucas Soares)

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