Cresce disputa por café de qualidade

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A Nestlé anunciou esta semana que expandirá para a África um programa de fornecimento de mudas para cafeicultores latino-americanos que vendem a ela seu café. A maior vendedora mundial de café também disponibilizará programas de treinamento e replantio para fazendeiros na Etiópia, Quênia e Sudão do Sul.

"Sempre precisamos de mais café de boa qualidqade", disse Jean-Marc Duvoisin, que chefia a divisão Nespresso da Nestlé.

A empresa suíça não é a única a investir no agricultor. No começo do mês, a Mondelez International Inc., segunda maior fabricante de café do mundo, inaugurou um centro de treinamento para produtores no Vietnã, enquanto a D.E. Master Blenders 1753, a terceira líder mundial, passou a oferecer crédito e fertilizantes para cafeicultores de Honduras.

Por trás dessa corrida está a urgência de obter os grãos de qualidade necessários para as cada vez mais populares máquinas de doses individuais, como a Nespresso, da Nestlé, e a Tassimo, da Mondelez, que em geral custam mais por dose do que a bebida feita em cafeteiras de filtro ou o café instantâneo. Apesar dos preços da commodity terem caído nos últimos meses, as indústrias têm tido dificuldade para comprar grãos de qualidade porque produtores da América Latina e da Ásia — importantes regiões de cultivo de café de qualidade — estão deixando as zonas rurais para viver nas cidades.

"Há uma disputa por recursos", disse Frank Mechielsen, consultor de política agrícola da Oxfam, organização sem fins lucrativos da Inglaterra que busca soluções para o fim da pobreza e da desigualdade.

A escassez de grãos de qualidade foi agravada pela corrida das empresas para entrar no mercado de doses individuais, de maior lucratividade. Até 2015, as vendas no segmento de café para essas máquinas deverão crescer mais de 50%, para US$ 12,58 bilhões, contra US$ 8,03 bihões em 2012, segundo a firma de pesquisa de mercado Euromonitor International.

No Brasil, o mercado de doses individuais tem registrado forte crescimento. Segundo pesquisa da firma Kantar Worldpanel, em 2011 havia 450.000 máquinas de café expresso nos lares brasileiros. No ano passado, esse número saltou para 850.000. A Nespresso não informa quantas máquinas vendeu no país. "O segmento tem tido uma aceitação surpreendente no Brasil", diz Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). "Enquanto o consumo total de café cresceu 3% em 2012, o de monodoses cresceu mais de 20%."

As fabricantes de café também estão mais conscientes sobre a sensibilidade dos consumidores quanto à origem dos alimentos. As empresas também estão ansiosas para dissipar preocupações de que elas poderiam estar explorando trabalhadores, especialmente depois que mais de 1.000 funcionários de confecções morreram em Bangladesh no desabamento de um edifício, há alguns meses.

Mais de 30% dos consumidores da Grã-Bretanha disseram que preferem comprar produtos com o selo Fair Trade (Comércio Justo), segundo estudo feito em julho pela firma de pesquisas IGD, comparado com 6% em 2006. Para receber a certificação, as empresas precisam cumprir metas de desenvolvimento econômico, ambiental e social.

Empresas grandes e pequenas procuram garantir suprimentos de produtores menores. "Grãos de qualidade vêm de pequenos proprietários [de terra], não de grandes plantações", disse Wolfgang Weinmann, encarregado de projetos de sustentabilidade da Cafedirect PLC, torrefadora de cafés especiais de Londres.

A Mondelez, dos EUA, vai treinar cerca de 1.500 produtores em seu centro no Vietnã. Ela espera ajudá-los a melhorar a produtividade e a qualidade do café. A holandesa D.E. Master Blenders 1753 está ampliando seus investimentos em sustentabilidade. Ela pretende comprar 25% de seu café de fontes sustentáveis até 2015, mesmo que isso reduza suas margens de lucro.

A Mondelez está gastando anualmente uma média de US$ 25 milhões durante um período de oito anos em projetos de sustentabilidade. Seu negócio de café gera uma receita anual estimada de US$ 8,3 bilhões. A Nestlé gasta 70 milhões de francos suíços (US$ 74 milhões) por ano em tais projetos para a marca Nescafé e tem um faturamento anual de US$ 17 bilhões com produtos de café.

Duvoisin, o executivo da Nespresso, disse que o programa da empresa na América Latina, que já tem dez anos, vai ajudar a aumentar as vendas no futuro porque ele dá à Nestlé acesso a uma variedade de grãos mais ampla. "Podemos oferecer mais sabores", disse. "Podemos oferecer cafés mais interessantes para nossos consumidores".

The Wall Street Journal
Por John Revill / Colaborou Silvana Mautone

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