Cooxupé aposta em cosméticos à base de café

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A Cooxupé, maior cooperativa de cafeicultores do mundo e responsável por 3,5% de toda a produção mundial de café, junta suas forças com a empresa brasileira de beleza Aqia para produzir a linha de cosméticos e alimentos funcionais Aqia Coffee, à base do grão. A novidade foi anunciada durante evento em São Paulo nesta terça-feira (25/8).

Na cartela de produtos estão os óleos e biomassa, obtidos a partir da prensagem do fruto a frio. A iniciativa de diversificar os negócios surgiu após uma pesquisa de mercado no exterior: o óleo de café é uma matéria prima requisitada no setor de cosméticos. Porém o preço bem salgado limitava o uso e encarecia bastante os produtos finais.

A Cooxupé fez convênio com as universidades Unesp, de Jaboticabal (SP) e Unicamp , de Campinas (SP), para estudar a produção e os benefícios de derivados do café. Foram investidos R$ 5 milhões em pesquisa, desenvolvimento de produtos e infraestrutura em Guaxupé (MG).

Os resultados positivos dos estudos abriram caminho para esse nicho de mercado, e a cooperativa se viu capaz de fornecer café de qualidade para a produção de cosméticos com a assiduidade que o setor precisa, por um preço mais barato e com certificação socioambiental, controle de origem e da cadeia de produção (como o Rainforest Alliance), aspectos muito valorizados no exterior, especialmente na Europa, que cada vez mais consome produtos naturais, e cadeias de produção sustentáveis.

A fabricação do óleo e da biomassa leva apenas grãos de altíssima qualidade e passam por um rigoroso processo. Tudo começa com a seleção das bagas, feita manualmente. Depois, uma amostra vai para a separação a partir de aspectos visuais e também para degustação. Após passar por todos esses testes, o lote de café segue para ser prensado a frio (e não com solvente, para obter um produto mais puro e sem interferências químicas), tudo automatizado. Por fim, segue para o laboratório da Cooxupé, para controle de qualidade.

Mercado
Segundo o presidente da Cooperativa de Produtores de Guaxupé (Cooxupé), Carlos Alberto Paulino da Costa, o óleo era difícil de vender. “As empresas de cosméticos não compravam o óleo bruto que a gente produzia”, conta. Então surgiu a oportunidade de negociar com a Aqia. “Íamos procurar empresas de ração para cachorro para vender, não havia mercado (para o óleo produzido pela cooperativa). Mas com as pesquisas, começaram a aparecer os benefícios dos produtos e abriu portas. Nós da cooperativa não temos canais de vendas para a indústria de cosméticos, que é sofisticada. Por isso é importante a joint venture com a Aqia”, explica.

O presidente da Cooxupé, Carlos Alberto da Costa, a especialista em cosméticos Sônia Corazza e Alaor Pereira, da presidente da Aqia (Foto: Teresa Raquel Bastos/Ed. Globo)

A quantidade de matéria-prima destinada para a produção de cosméticos deve girar em torno de 100 sacas. No caso da Cooxupé, que produz em média, 9 milhões de sacas por ano, essa quantidade é pequena. Costa afirma que é preciso ir com calma, que “é uma escada subindo, tem que ir degrau por degrau”, e a quantidade deve aumentar de acordo com a demanda .

A iniciativa também não gerará, pelo menos no começo, uma receita tão expressiva: os cosméticos devem gerar para a cooperativa R$ 50 mil mensais. “É um produto que achamos que futuramente terá aceitação grande. Acredito que o desempenho dele será muito maior que o planejado. Quando descobrirem que a biomassa ajuda a emagrecer… vixe! Será um sucesso! Haja café!”, brinca o executivo.

Já para a Aqia – empresa que projeta atingir um faturamento na casa dos R$ 5 milhões em 2016 – o incremento será bastante lucrativo. A expectativa da empresa é chegar em 2018 com faturamento de R$ 15 milhões.

Para quem atua diretamente no setor de cosméticos, a proposta de produtos à base de café brasileiro é bastante interessante. A empresária Cláudia Ribeiro, sócia da Joy Importações, que comercializa produtos de beleza , acredita que o mercado europeu tem demanda para os derivados. “Já falei com algumas empresas parceiras e eles se interessaram, principalmente para atender a Europa, que busca cada vez mais opções de produtos naturais”, conta. “Quero começar a exportar a matéria prima, aproveitando os contatos que já tenho, mas é preciso ainda saber de valores e se é viável. Estamos contando com o dólar bom para exportações”.

Se os produtos à base de café emplacarem, além de rentável, será um marketing positivo para o café brasileiro no mundo. “Produzir algo que vai ser útil, além do retorno financeiro e de criar alternativas de uso (para o café), é gratificante, a gente fica satisfeito. Acaba sendo um marketing para o café. É café de qualidade, não é de fundo de quintal. Em qualquer lugar do mundo, com as certificações que temos, é um bom marketing”, finaliza o presidente da Cooxupé.

Modo de usar
A Cooxupé e a Aqia vão produzir sete matérias primas que serão usadas em cosméticos. São elas dois tipos de óleo de café verde, dois tipos de óleo de café cereja, manteiga de café, e dois tipos de biomassa comestível em forma de pó.

Segundo a especialista em cosméticos Sônia Corazza, o café é rico em aminoácidos, minerais, lipídios, açúcares e vitaminas. Entre as suas propriedades estão a hidratação da pele, ação antioxidante, anti-inflamatória, lipolítica (atua na digestão de gorduras), alimentação funcional, aromatizante e cicatrizante.

Café verde (Green coffee oil) e manteiga de café
Ação tópica: calmante, anti-inflamatório e anti-irritante
Ação oral: Antirradicais livres e prevenção do envelhecimento precoce
Ação cosmética: hidratante e emoliente e prevenção aos danos actínicos

Biomassa integral de café verde (Slim coffee e nutri coffee)
Ação oral: Antioxidante, lipolítico, sacietógeno
Ação tópica: esfoliante

Café cereja (Cherry coffee oil)
Ação oral: Aromatizante 100% natural e ação neuro protetora

Fonte: Redação Globo Rural (Teresa Raquel Bastos)

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