Comércio exterior do país é recorde

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Disparada dos preços de commodities, como o minério de ferro e a soja no mercado internacional, foi o principal motor do comércio exterior brasileiro em 2011. Foi graças a esses produtos que as exportações do país alcançaram o valor recorde de US$256,041 bilhões, alta de 26,8% sobre 2010. Já as importações, que também tiveram o melhor desempenho da história, ficaram em US$226,251 bilhões, avanço de 24,5%. Com isso, a balança comercial fechou 2011 com superávit de US$29,790 bilhões, o melhor dos últimos quatro anos, avançando quase 50%.

Para se ter uma ideia do impulso que a valorização das cotações das commodities deu à balança em 2011, o preço do minério de ferro exportado, principal produto da pauta brasileira, subiu 35,9% no ano passado. Já a quantidade vendida avançou 6,4%. No caso da soja em grão, o preço saltou 31,6%, e a quantidade, 12,3%.

– A balança comercial dependeu basicamente da alta dos preços no mercado externo. Isso é muito ruim, pois é uma variável sobre a qual não se tem controle – disse o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Cai exportação de carros e calçados

Os bons ventos que sopraram para os produtos básicos, que segundo a AEB totalizaram 72% da pauta de exportações em 2011, não se repetiram para os manufaturados, que tiveram um desempenho fraco. O principal, automóveis de passageiros, recuou 1,2% ante 2010. Já os calçados, afetados por câmbio e competição asiática, tiveram queda nas vendas de 13,3%.

O governo, porém, preferiu comemorar os dados de 2011. Segundo o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Alessandro Teixeira, todas as previsões para o comportamento da balança foram superadas. E o Brasil foi o país com o quarto melhor desempenho nas exportações. Com um crescimento de 27% no ano, as vendas do país só tiveram alta menor que as registradas por Índia (45%), Rússia (32%) e Austrália (32%). Com isso, disse o secretário, o Brasil aumenta sua participação no comércio mundial de 1,36% em 2010 para 1,42% em 2011.

Segundo ele, o governo vai lançar no primeiro trimestre um pacote para incentivar a produção, comercialização e exportação de manufaturados. Ele não quis adiantar as ações, mas informou que a ideia é elevar a oferta de crédito aos empresários. Como antecipou o GLOBO, parte da estratégia é aumentar o capital do BNDES para que o banco empreste mais ao setor produtivo.

– Estamos pensando em ações que fortaleçam a produção e a exportação de manufaturados, o que sempre passa por aumento de crédito – disse ele.

Teixeira afirmou que, em 2012, o setor exportador contará não só com mais medidas de incentivo, mas terá câmbio favorável (superior a R$1,80) e um preço elevado para as commodities agrícolas, devido à demanda mundial por alimentos. Para ele, o recrudescimento da crise não deve afetar os bons preços do mercado.

Porém, ele vê como dificuldades a estagnação das economias europeia e americana, a falta de crédito e o acirramento da guerra cambial. Foi essa guerra que acabou resultando, em 2011, num aumento maior das importações de bens de consumo (27,5%) do que de matérias-primas (21,6%) e bens de capital (16,8%).

Para Teixeira, ante as incertezas globais, o governo aguardará para divulgar a meta de exportação. Enquanto o Banco Central (BC) prevê que as exportações subam 4,3%, a AEB estima queda de 7,4%. Entre os bancos privados, as projeções vão desde queda de 7% até alta de 5%. Em 2011, a meta era de US$257 bilhões e foi quase que integralmente cumprida.

– Estamos otimistas em relação a 2012, mas vamos esperar para fazer nossa previsão – disse Teixeira.

Mas o presidente da AEB tem outra explicação para a demora:

– Teriam que admitir que haverá uma queda nas exportações.

Castro lembrou que a cotação do minério de ferro, por exemplo, está em queda no mercado internacional. O produto chegou a ser vendido por US$128 a tonelada em 2011, mas o valor baixou para US$109.

Só em dezembro, as exportações atingiram US$22,1 bilhões, mais 10,6% sobre o mesmo mês em 2010. As importações ficaram em US$18,3 bilhões, avanço de 22,9%. Ambos os valores são recorde para o mês. O saldo do mês ficou em US$3,8 bilhões.

Segundo as últimas projeções do BC, o déficit em transações correntes do país (resultado das operações realizadas com o exterior) deve crescer US$12 bilhões em 2012, passando para US$65 bilhões. O principal responsável pela deterioração nas contas externas deve ser a balança comercial.

Reservas fecham ano em US$352 bi

A Ásia foi o principal destino das exportações brasileiras, totalizando US$76,7 bilhões, dos quais US$44,3 bilhões para a China. Para a América Latina e Caribe o Brasil vendeu US$57,2 bilhões; US$52,9 bilhões foram para a União Europeia; para o Mercosul, US$27,8 bilhões; e para os EUA, US$25,9 bilhões.

Ante a crise internacional, o Brasil intensificou a estratégia de engordar as reservas cambiais como medida preventiva e obteve o maior colchão de recursos em moeda estrangeira de todos os tempos. Segundo o BC, o país fechou 2011 com US$352 bilhões em caixa. Além de um novo recorde, o valor representa uma alta de US$63,44 bilhões, ou 22%, ante 2010. Trata-se da segunda maior alta da história, depois de 2007, quando as reservas cresceram US$94,49 bilhões em um ano.

O aumento, o décimo consecutivo, se deveu à entrada de recursos estrangeiros, sobretudo investimentos diretos, que bateram novo recorde.

– Não houve saídas significativas mesmo com a crise na Europa. A saída só foi acontecer agora, no fim do ano. O Brasil continua recebendo muitos recursos no exterior – disse o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes.

Analistas, porém, criticam o nível elevado das reservas internacionais por considerar alto o custo de manutenção. Enquanto a remuneração destes ativos não passa das aplicações nos bônus do Tesouro americano, o governo paga os altos juros brasileiros para levantar recursos no mercado financeiro. Esses recursos engordam as reservas, compostas por dólares comprados pelo BC diretamente no mercado ou obtidos com a emissão de títulos da dívida pública vendidos aos investidores. Em 2010, a manutenção das reservas internacionais elevadas resultou numa despesa de R$26,6 bilhões para o BC, de acordo com o balanço da autoridade monetária.

Fonte: O Globo

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