CNC divulga Boletim Conjuntural do Mercado de Café de Abril de 2014

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Grande volatilidade e tendência de valorização marcaram o mercado de café no mês passado.

Em abril, começaram a ser divulgadas estimativas mais concretas do impacto do veranico sobre o volume da safra brasileira 2014/15, as quais repercutiram positivamente sobre os preços do café. Mereceu destaque, por seu embasamento científico, o estudo encomendado pelo Conselho Nacional do Café (CNC) junto à Fundação Procafé, que projeta uma quebra de 6,3 milhões a 6,7 milhões de sacas na temporada 2014/15, com a produção situando-se no intervalo de 40,09 milhões a 43,30 milhões de sacas. Para 2015/16, a Procafé projeta perdas mais acentuadas, com a expectativa inicial de volume a ser colhido no intervalo entre 38,7 e 43,6 milhões de sacas.

Após o anúncio do estudo contratado pelo CNC, diversas tradings e consultorias internacionais revisaram para baixo suas estimativas para a produção do Brasil neste ano, reforçando a percepção dos investidores de aperto de oferta no mercado.

Além das consequências do veranico que predominou sobre as origens brasileiras no primeiro bimestre do ano, mais para o final do mês a atenção dos investidores também se voltou para a maior probabilidade de ocorrência do El Niño em 2014. Esse fenômeno climático aumenta as chances de fortes chuvas durante o inverno brasileiro, com maior concentração na região Sul. O período é coincidente com a colheita do café, gerando a preocupação de maiores perdas devido à redução da qualidade e à queda dos grãos.

Diante desse cenário, os fundos de investimento mantiveram-se fortemente comprados, dando sustentação às cotações do café arábica na Bolsa de Nova York. Em 22 de abril, a Commodity Futures Trading Comission (CTFC) informou que esses grandes players mantinham, no mercado futuro e de opções de café arábica da ICE Futures US, um saldo líquido comprado de 38.863 lotes.

Mas as incertezas geradas pelas condições climáticas resultaram em forte volatilidade nos preços do café arábica em abril. Após atingir o valor mais baixo de fechamento diário de US$ 1,748 no início do mês, o vencimento julho do Contrato C da ICE alcançou US$ 2,148 no encerramento da sessão de 24 de abril, a maior cotação para um segundo vencimento desde fevereiro de 2012. No acumulado do mês, o vencimento julho ganhou 2.585 pontos e encerrou abril cotado a US$ 2,0585 por libra-peso. A valorização mensal dos preços futuros atingiu 14,9%. A cotação média de abril foi de US$ 1,9938 por libra-peso, valor 43,8% superior ao do mesmo período do ano passado.

Os estoques certificados de café da Bolsa de Nova York apresentaram redução de 13,7 mil sacas, encerrando o mês em 2,57 milhões de sacas. Esse volume é 6% inferior ao registrado em abril de 2013, de 2,74 milhões de sacas.

O mercado futuro do café robusta seguiu tendência similar ao da variedade arábica, com significativa volatilidade e tendência de valorização dos preços. No acumulado de abril, as cotações do contrato 409 da Liffe, com vencimento em julho de 2014, apresentaram alta de US$ 84, encerrando o mês a US$ 2.168 por tonelada. A valorização mensal dos preços futuros foi de 83%. A cotação média de abril, de US$ 2.119/t, foi 3,6% superior à do mesmo período do ano passado.

A arbitragem entre as bolsas londrina e nova-iorquina apresentou tendência de alargamento. Esses diferenciais, que eram de US$ 0,86 no início do mês, chegaram a atingir o valor máximo do ano de US$ 1,17 nos últimos dias de abril.

Os estoques certificados monitorados pela Liffe, mesmo com pequena recuperação no final do mês, mantiveram a tendência de redução, encerrando abril em 274 mil sacas, volume 87% menor do que o apurado no mesmo período do ano anterior.

O maior exportador mundial da variedade robusta tem ofertado mais café na temporada 2013/14, em relação ao período antecedente, a despeito dos preços mais baixos. Segundo informações do Escritório Geral de Estatísticas do Vietnã, de outubro de 2013 a abril de 2014, foram exportadas 18,37 milhões de sacas de café, a um preço médio de US$ 1.941/t. No mesmo período da temporada antecedente, o país asiático exportou 16,37 milhões de sacas, a um valor médio de US$ 2.163/t.

No mercado doméstico brasileiro, os preços do café arábica acumularam valorização, mas a elevada volatilidade inibiu a realização de negócios. Já preços da variedade robusta não apresentaram variação significativa. Os indicadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para as variedades arábica e conilon encerraram o mês com alta de 18% e 0,2%, cotados, respectivamente, a R$ 470,59/sc e a R$ 257,05/sc no último dia de abril. Com a valorização mais acentuada do arábica, o diferencial entre as variedades ampliou-se substancialmente, partindo de R$ 67/sc no início do mês para valores superiores a R$ 200/sc na segunda quinzena de abril.

Pelo terceiro mês consecutivo, a cotação do dólar no Brasil sofreu desvalorização. Em abril, a queda acumulada foi de 1,7%, com a moeda norte-americana encerrando o mês a R$ 2,23. O principal fator que motivou essa tendência foi o fluxo cambial positivo. Maiores quedas foram impedidas pela tensa situação internacional, com a crise na Ucrânia e a redução das intervenções do Banco Central do Brasil no mercado de câmbio.

Em relação à política cafeeira, merece destaque a publicação da Resolução BACEN nº 4.325, de 25 de abril de 2014, que distribui os recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) aprovados para este ano, de acordo com o gráfico abaixo. No total, foram disponibilizados R$ 2,92 bilhões para as operações de custeio, estocagem, aquisição de café, mercados futuros e contratos de opções e recuperação de cafezais danificados.

Para maio, o setor aguarda o anúncio oficial de disponibilização de recursos da ordem de aproximadamente R$ 900 milhões para capital de giro das cooperativas e indústria de café, durante o lançamento do Plano de Safra 2014/15. Com a concretização dessa linha de financiamento, o setor contará com um volume de crédito de aproximadamente R$ 3,8 bilhões, ante os R$ 3,16 bilhões aprovados para o orçamento do Funcafé de 2013.

Também em abril, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento divulgou a revisão do preço mínimo do café conilon de R$ 156,57/sc para R$ 180,80/sc, representando aumento de 15,48%. O CNC entende que essa elevação era necessária, haja vista que a cotação mínima estava congelada desde 2009, quando havia sido reajustada de R$ 124,40 para R$ 156,57, e que os custos de produção da variedade robusta também apresentaram crescimento, conforme análises da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A solicitação do café conilon foi atendida, no entanto, o Governo ainda precisa honrar seu compromisso com a cafeicultura de arábica. Nas reuniões que o CNC coordenou junto aos Ministérios vinculados ao setor, houve comprometimento na elevação dos preços mínimos de ambas as variedades e na mesma proporção. Dessa maneira, seguiremos cobrando os governantes para que a variedade arábica tenha seu preço reajustado, fazendo uma aproximação do valor com o custo real de produção que se encontra defasado.

O atual preço mínimo do arábica é de R$ 307,00 por saca – reajustado no ano passado após congelamento desde 2009, quando equivalia a R$ 261,69 –, bem abaixo dos gastos para se cultivar, levando-se em conta que a tabela de custo médio apresentada à época do reajuste anterior era de R$ 343,00. Como não houve cumprimento por parte dos Ministérios envolvidos com a correção de preços no arábica, os produtores têm convivido com um endividamento crônico, razão pela qual o CNC continuará trabalhando para que este pleito seja atendido.

É de bom alvitre que o Conselho Nacional do Café e a Comissão Nacional do Café da CNA continuam trabalhando exaustivamente junto ao Governo Federal para sensibilizar as autoridades competentes sobre o efeito nefasto do veranico ocorrido no cinturão produtor de café.

* Material elaborado pela assessoria técnica do CNC.

Fonte: Assessoria de Comunicação – Conselho Nacional do Café (CNC) (Paulo André Colucci Kawasaki)

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