CNA defende impeachment de Dilma e critica Katia Abreu

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Após se manifestar recentemente contra o governo, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) decidiu se declarar abertamente favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. E prometeu mobilizar agricultores em manifestações a favor do afastamento da presidente no dia em que o plenário da Câmara votar pelo andamento do processo de impeachment.

 

Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, na companhia de quatro presidentes de federações de agricultura e pecuária, o presidente da CNA, João Martins, fez uma defesa dura do “afastamento da presidente”. E de maneira cautelosa criticou a permanência de Kátia Abreu no Ministério da Agricultura, ao afirmar que ela se distanciou dos produtores rurais quando optou por defender o governo.

O Valor apurou que federações ligadas à CNA cogitam uma grande mobilização com o uso de tratores e produtores rurais em frente ao Congresso na votação do impeachment na Câmara, marcada para o dia 17 de abril.

“Diante das pressões de produtores, suas associações e seus sindicatos rurais, que aumentaram bastante nos últimos dias, a CNA convocou suas federações e quase por unanimidade decidimos apoiar o afastamento da presidente Dilma, porque ela não está se mostrando capaz de tocar um projeto de recuperação da economia brasileira”, disse Martins.

Das 27 federações de agricultura vinculadas à CNA, a única que se mostrou contra o impedimento da presidente Dilma foi a federação de Tocantins, Estado de influência política de Kátia Abreu, por onde ela foi reeleita senadora em 2014. Uma fonte da CNA diz que 21 federações se posicionaram a favor do impeachment, em reunião colegiada ontem – o restante delas se absteve de votar.

Para o presidente da CNA, que assumiu a entidade com a ida de Kátia para o Ministério da Agricultura no ano passado, mesmo que Dilma seja vitoriosa da batalha contra o impeachment, o governo não terá condições de promover as mudanças necessárias na economia. Ele avalia que Dilma contaria com uma base de sustentação em torno de apenas um terço dos parlamentares do Congresso Nacional.

“O Brasil não vai parar, o produtor não vai colocar os tratores dentro das garagens, mas estamos começando a ver que mesmo com a nossa capacidade de disputar nos mercados interno e externo, o mercado consumidor está demandando menos e isso afeta nossa produção”, disse Martins.

Segundo ele, o estopim para que a CNA declarasse apoio ao impeachment deve-se a uma declaração feita no Palácio do Planalto por um dirigente da Contag, entidade sindical que representa os trabalhadores rurais, que defendeu a invasão de propriedades rurais de parlamentares da bancada ruralista em protesto ao processo de impedimento de Dilma no Legislativo.

Em outra frente, Martins também explicou que o setor do agronegócio vem se descolando da ministra Kátia Abreu, que presidiu a CNA por oito anos antes de ingressar no governo. Ele preferiu não comentar a situação política de Kátia, que insiste em permanecer no governo, mesmo após seu partido desembarcar da base governista.

“A ministra optou em ficar do lado do governo, ela é política, a CNA não é política, estamos defendo a posição de produtores”, disse. “Mas ela automaticamente se distanciou do produtor rural, quando optou por defender um governo que cada dia mais está se desintegrando.”

Kátia Abreu

Em resposta à decisão da CNA, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, disse não concordar com a posição da entidade.

Kátia Abreu presidiu a CNA por oito anos antes de se tornar ministra. Com a crise política que assola o país, ela tem enfrentado dificuldade de controlar sua base de sustentação política entre as entidades representativas do agronegócio e as próprias federações de agricultura e pecuária vinculadas à Confederação.

“Embora não concorde, a ministra respeita a posição da CNA, uma entidade de classe independente, e da qual está licenciada da presidência”, disse o ministério em resposta aos questionamentos do Valor. “E portanto, não pode interferir nas decisões da Confederação”, concluiu.

O Valor apurou que, caso decida entregar seu cargo de ministra como recomendou seu partido, o PMDB, Kátia Abreu teria grandes dificuldades de reassumir a presidência da CNA. A grande maioria das federações critica a ministra por continuar defendendo a presidente Dilma, num momento em que praticamente todo o setor do agronegócio se posiciona contrário ao governo da presidente e à sua continuidade.

Reservadamente, porém, Kátia tem dito a pessoas próximas que achou correta a postura da CNA contra as declarações feitas por um dirigente da Contag, entidade sindical que representa os trabalhadores rurais, na semana passada. Em cerimônia no Palácio do Planalto, o representante sindical defendeu a invasão de propriedades rurais de parlamentares da bancada ruralista em protesto ao processo de impedimento de Dilma no Legislativo.

Fonte: Valor Econômico

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