Clima, estoques baixos e quebra na Ásia pressionam e preço do café sobe

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Com chuvas e geadas no último mês em São Paulo, Paraná e no Sul de Minas Gerais, estoques de passagem baixos para a entressafra e quebra no mercado asiático, o café brasileiro tem nova alta de preços.

De acordo com relatório do Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada (Cepea), as geadas atingiram lavouras de café arábica em áreas mais baixas, com perdas ainda inexpressivas.

No entanto, a grande preocupação dos produtores é a chuva – justamente no momento da colheita, o que prejudica a qualidade do grão.

“O estrago das chuvas será maior, porque compromete a qualidade e a bebida do café. Ninguém esperava na quantidade que foi. O volume [da produção da safra] deve se manter, mas certamente teremos perda na qualidade”, disse ao DCI o presidente executivo do Conselho Nacional do Café, Silas Brasileiro.

Na avaliação do analista da Markestrat, consultoria especializada em agronegócio, José Carlos de Lima, os problemas climáticos podem fazer com que o preço da saca do café de 60 quilos varie entre R$ 480 a R$ 520.

Para se ter ideia, o preço da saca de café chegou a R$ 509 em 17 de março. Com o início da colheita, esse valor caiu e bateu os R$ 452,57 em 25 de maio. Porém, com a diminuição da oferta por conta das chuvas e a geada, o valor registrado na última sexta-feira (17) foi de R$ 492,90.

“Não sei se os produtores estão segurando o café, esperando uma alta maior de preço, ou se na realidade o que nós temos é um reposicionamento. Vejo o setor trabalhando muito mais focado em resolver o seu estrago no tamanho de produção e na colheita das próprias fazendas”, disse a diretora da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês), Vanusia Nogueira.

Robusta – Os polos de produção do tipo robusta também sofreram com as temperaturas e ajudaram a aumentar o preço do produto. Ao contrário de estados como São Paulo, Paraná e o Sul de Minas Gerais, o Espírito Santo tem sofrido com as secas desde o início deste ano.

Relatório do Cepea indica que, “apesar da colheita ainda estar em andamento, produtores já indicam que o estado dos pés de cafés é preocupante, uma vez que não se verifica volume considerável de chuva há quase seis meses”.

“O preço do robusta foi o que mais reagiu. Quando o valor do arábica estava mais elevado, as indústrias mudaram o blend, passaram a usar mais o robusta e que gerou a valorização”, afirmou Silas Brasileiro, do CNC. Ele estima que as perdas do robusta com os problemas climáticos variam entre dois a três milhões de sacas.

Estoques – Os estoques de passagem, utilizados na entressafra, também devem pressionar os preços e deixar o produtor com maior aporte para financiar sua produção em um período de recursos escassos e com juros mais altos.

Segundo o Cepea, os estoques de passagem devem ser de quatro milhões de sacas até o fim de julho, quando se encerra o ciclo 2015/2016 -os mais baixos desde a safra 2011/2012, quando foram registrados 2,2 milhões de sacas.

O presidente do CNC, Silas Brasileiro, avalia que isso é um reflexo positivo de preços para o produtor. “Foram dois anos consecutivos de estoques baixos. Com a produtividade menor, foi uma oportunidade de vender a reserva. Isso trouxe um equilíbrio entre oferta e demanda, e esse equilíbrio vai ajudar o produtor a ter renda”, pontuou ele.

O analista da Markestrat, José Carlos de Lima, relaciona ainda a quebra de safra em países do mercado asiático, como o Vietnã, o segundo maior produto mundial, para a valorização do grão.

“Quando se pensa em um importante produtor com problemas climáticos, consumo constante e baixo estoque mundial, há uma boa oportunidade de exportação”, disse.

De acordo com dados divulgados ontem pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, a safra prevista para o Vietnã em 16/17 deve ser de 27,3 milhões de sacas, queda de dois milhões ante 15/16, “devido a altas temperaturas e condições secas”.

Fonte: DCI (Fernando Barbosa) via CNC

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