Cientista busca novas plantas para salvar a cafeicultura

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Tim Schilling marchava através da selva africana seguindo uma nativa chamada Nyameron.

Uma espécie de Indiana Jones do café, Schilling, de 59 anos, estava em busca de um tesouro perdido: versões selvagens de "Coffea arabica", os grãos cheirosos usados para o cafezinho de todo dia. O agrônomo da Universidade Texas A&M dirige a World Coffee Research, uma organização sem fins lucrativos financiada por companhias e instituições de vários países, entre elas a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa.

Empresas e cientistas precisam de novas espécies para ampliar a pequena diversidade de genes do café mundial, a fim de proteger os cafeeiros contra possíveis epidemias e expandir as áreas onde os cobiçados grãos possam ser cultivados. Mas, depois de quatro dias cruzando este platô a oeste da Etiópia, sua expedição de 15 membros — que incluiu um taxonomista de café, um executivo da torrefação americana Green Mountain Coffee Roasters Inc., estudantes de agronomia e ajudantes contratados — ainda não havia achado nenhum espécime que parecesse novo.

Empresas estão se voltando à exploração para assegurar suprimentos futuros de café porque a produção parou de crescer e a demanda cada vez mais forte em países que estão crescendo, como o Brasil, já fez o preço dos grãos de café quadruplicar desde 2001.

O mundo consumiu 7,98 milhões de toneladas de grãos de café em 2012, bem mais que em 1982, quando foram 1,18 milhão de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Mas a produção na Colômbia, país que fornece 10% dos grãos arábica de todo o mundo, caiu 36% desde 2005. No Brasil, maior produtor de arábica do mundo, a produção recentemente atingiu o nível mínimo dos últimos quatro anos.

Muitos fatores estão causando os problemas do café, dizem especialistas, inclusive mudanças climáticas, que estão tornando a produção menos lucrativa em algumas áreas, e o crescimento populacional na América Central, que está aumentando a pressão para transformar lotes produtores de café em projetos habitacionais e shopping centers.

Historiadores do café acreditam que a maioria das plantações de arábica do mundo estão geneticamente ligadas a apenas duas plantas do século XVIII: uma levada da Indonésia para Amsterdã e Paris, e outra tirada do Iêmen e cultivada no Brasil.

É por isso que especialistas defendem a expansão das variedades e o cruzamento de plantas para torná-las mais fortes. "O grande objetivo é uma variedade resistente ao calor que dê café de qualidade", diz Patrick Criteser, diretor-presidente da Coffee Bean International, uma torrefação dos EUA que faz parte da World Coffee Research. "Se a gente conseguir desenvolver isso, resolveria muitos dos nossos problemas."

Mas iniciativas como a World Coffee Research, que tem o objetivo de convencer concorrentes a se unir contra problemas comuns, enfrentam obstáculos. Algumas das maiores empresas de café do mundo estão tocando projetos próprios de pesquisa para expandir a genética cafeeira.

A Nestlé SA tem um projeto que ela chama de plano Nescafé, que envolve o outro tipo principal de grão de café, o robusta, segundo uma porta-voz. A Starbucks Corp. também conduz sua própria pesquisa através de centros de apoio. Estes empregam agrônomos para ajudar agricultores locais a se tornar produtores de longo prazo, diz uma porta-voz.

Empreendimentos como o World Coffee Research também precisam superar atritos com instituições nacionais de pesquisa, as quais geralmente tentam proteger interesses locais, notavelmente na Etiópia, que muitos acreditam ser o berço do arábica.

A Starbucks e a Etiópia chegaram a um acordo jurídico em 2007 depois de se engalfinharem quanto à iniciativa do país de registrar a marca de seus mais conhecidos grãos de café. A Etiópia tentou patentear nos EUA os nomes de três de suas melhores regiões cafeeiras, Yirgacheffe, Harrar e Sidamo, e a Starbucks estava querendo patentear um café com Sidamo no nome.

Alguns acreditam que, sem a cooperação da Etiópia, é pouco provável que esforços como os de Schilling deem certo. "A Etiópia é onde o café começou, e eles têm de longe a maior concentração de material genético", diz Andrea Illy, diretor-presidente da Illycaffè SpA, uma empresa italiana de expresso que entrou recentemente para a World Coffee Research.

Ex-especialista no cruzamento de amendoins, Schilling virou um guru do café depois que o governo americano o recrutou para ajudar a ressuscitar a agricultura em Ruanda, após a guerra civil no país. Ele logo entendeu que a resposta estava no café, e passou a usar métodos científicos para ajudar os pequenos produtores.

Boma parecia um lugar inusitado para sua recente expedição em busca de café selvagem. Mas ele tinha uma espécie de mapa do tesouro: o relato do botânico A.S. Thomas, que descrevia a descoberta de café em 1942 "crescendo de forma selvagem e se reproduzindo sem auxílio humano".

Os expedicionários logo constataram que muito da floresta tropical que teria abrigado os cafezais de Thomas havia sido erradicada.

No último dia da expedição, eles se uniram a Nyameron, que os levou a um rincão da floresta onde encontraram mais plantas do que tinham visto até então.

No caminho de volta, Aaron Davis, um taxonomista britânico, fez o que pode ser a maior descoberta do grupo: um pequeno cafeeiro diferente de todos que já tinham visto. Suas folhas foram adicionadas a cerca de 75 amostras de café selvagem destinadas à análise genética.

Cientistas ainda estão analisando as amostras para ver se a expedição realmente descobriu uma planta arábica esquecida.

Fonte: The Wall Street Journal

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