Chuva na colheita valoriza café de qualidade

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As adversidades climáticas registradas nas principais regiões produtoras de café do Brasil, incluindo o Paraná, comprometeram a qualidade dos primeiros lotes da safra 2012/13. Além de atrasar a colheita, as fortes chuvas de junho e início deste mês levaram parte dos grãos ao chão, deixando-os com características inferiores. O café que permanece no pé está úmido, o que pode elevar o índice de fermentação e dificultar a secagem do produto.

A queda na qualidade do café atinge os preços. Com menor volume de grão para exportação, as cotações subiram 35% nos últimos 30 dias. Na metade de junho, a saca (de 60 quilos) do tipo extra era negociada a R$ 320. Hoje, o produto não é encontrado a menos de R$ 430 a saca.

“O mercado está ansioso por grão de qualidade. Como os primeiros [lotes] estão ruins e a demanda está forte, o produto bom está mais valorizado”, explica Mauricio Muruci, analista da consultoria Safras & Mercado, de Porto Alegre (RS). “Além disso, os compradores estrangeiros não querem saber do produto da safra passada, apenas da atual.”

Como o país está em ano de produção alta – determinado pelo ciclo natural da cultura, em que os cafezais apresentam melhor rendimento a cada dois anos –, a estimativa é de 50,4 milhões de sacas na safra 2012/13. O volume é recorde considerando-se os últimos dez anos e 16% maior em relação à safra anterior, que foi de 43,5 milhões de sacas.

Do total, 38 milhões de sacas serão da variedade arábica e destinadas à exportação. O restante, 12 milhões de toneladas, robusta, voltada para o mercado interno. Maior produtor de café do mundo, o Brasil tradicionalmente exporta 80% da produção.

El Niño

Apesar dos investimentos realizados pelos produtores nos últimos anos em equipamentos para produzir mais e melhor, principalmente focando o mercado internacional, o volume de chuvas nos próximos meses será determinante para a produção. Há previsão de chuvas além do normal também para o segundo semestre.

Segundo Luiz Renato La­­zins­­ki, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a tendência é de clima bom com pouca precipitação, principalmente nos estados de Minas Gerais e São Paulo, dois dos maiores produtores do país. “O risco está a partir de setembro quando está previsto o retorno do El Niño. Isso significa chuvas acima da média”, ressalta.

Aposta reduzida

Na contramão do crescimento nacional, o Paraná registra queda na área destinada ao café e, consequentemente, na produção. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), 69,5 mil hectares são usados atualmente e, um ano atrás, havia 74,8 mil hectares de cafezais. Com diminuição de 7% na extensão cultivada e previsão de queda de 3% na produtividade, a safra deve ser 10% menor, caindo de 1,85 milhão para 1,65 milhão de sacas.

Apesar do descrédito da cultura no estado, muitos produtores apostam no café. O agricultor Elói Ferri, da região de Londrina, Norte do Paraná, cresceu ajudando o pai na cafeicultura e, até hoje, mantém 7 hectares de cafezal. “Eu dei continuidade quando assumi o negócio 20 anos atrás. De dois anos para cá, o mercado deu uma melhorada”, diz.

Na safra passada, Ferri chegou a receber, em média, R$ 460 por cada uma das 150 sacas produzidas. Este ano, o preço caiu para R$ 360, o que fez com que o agricultor optasse por esperar para vender a produção de 200 sacas. “Vou aguardar até o final do ano na expectativa que o preço melhore”, aposta.

Depois de insistir no café por duas décadas, Elói Ferri passa a receber mais pela produção

Paraná
Trauma antigo desencoraja retomada

Em meio à expansão do consumo mundial de café, o Paraná, que já foi o maior produtor nacional, perde área, produção e qualidade do grão. De acordo com especialistas do mercado, o descrédito da cafeicultura ainda está relacionado ao trauma de 37 anos atrás, quando ocorreu a “geada negra” de 1975 . Naquele ano, o evento climático praticamente erradicou as plantações do Paraná.

“A geada daquele ano ficou registrada na memória dos produtores, que até hoje têm medo e resolvem investir em uma cultura mais resistente”, aponta Paulo Fernando de Abreu, técnico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A produção de soja, milho e as pastagens tomaram o lugar dos cafezais.

Segundo Mauricio Muruci, analista da consultoria Safras & Mercado, a posição geográfica deixa o estado exposto a adversidades climáticas que o colocam em desvantagem na produção de café. “A geada estraga a qualidade do produto. E ainda tem a umidade, que pode gerar fungos no grão.”

Ainda de acordo com Murici, para retomada da cultura cafeeira no Paraná, é necessário investir em tecnologias que protejam os cafezais de eventuais eventos climáticos. “Porém, isso poderia encarecer o produto e inviabilizar a venda”, alerta.

Em regiões do Cerrado, nos estados de Minas Gerais e na Bahia, é comum encontrar cafezais com coberturas que garantem isolamento térmico. A tecnologia permite que o grão encontre a temperatura e a umidade ideais durante toda a germinação e garante qualidade ao produto.

Recuo no Paraná

10% de queda na produção de café devem ser registrados neste ano. Houve redução de 7% na área de cultivo e a previsão é que a produtividade dos cafezais também caia, em função do clima.

Expansão nacional

50,4 milhões de sacas de café devem ser produzidas pelo Brasil na colheita atual, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), volume maior que o atingido nas últimas dez safras.

Fonte: Gazeta de Povo

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