Chuva na colheita vai afetar oferta de cafés especiais para exportação

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Embora a demanda internacional esteja aquecida e seja crescente, as exportações de cafés especiais do Brasil devem ser menores neste ano, depois de terem atingido 6,75 milhões de sacas em 2015. A razão são as chuvas que afetaram os cafezais de importantes regiões de produção desses grãos entre o fim de maio e início de junho, em plena colheita.

Ainda não há estimativas sobre o tamanho do provável recuo das vendas externas. Mas a Brazil Specialty Coffee Association (BSCA) considera que entre 20% e 40% dos grãos da safra 2016/17 de cafés especiais podem ter a qualidade afetada após terem caído dos cafeeiros em decorrência das chuvas.

“Vai haver redução da oferta de cafés especiais porque o Sul de Minas, a Mogiana [paulista] e o Paraná, que são regiões consideráveis em produção de cafés especiais, tiveram um longo período de chuvas com grandes volumes”, observa Adolfo Henrique Vieira, presidente da BSCA, que tem entre seus membros produtores, cooperativas, exportadores e torrefações. Ele acrescenta que, além de terem derrubado grãos, as chuvas afetaram a qualidade, em alguns casos, dos que estão nas árvores, pois os frutos foram atingidos por fungos.

Nas regiões de montanha, onde não é possível fazer varrição dos grãos derrubados pelas chuvas, deve haver também perdas de volume, avalia o presidente da BSCA, sem, no entanto, fazer previsões sobre a eventual redução.

No ano passado, as exportações de cafés especiais cresceram 25% sobre 2014. Ainda que a retração neste ano seja dada como certa em decorrência da menor oferta esperada de cafés de qualidade, Vanusia Nogueira, diretora-executiva da BSCA, nota que é preciso saber o desempenho da safra em outras regiões que cultivam cafés especiais, como a Bahia e a Serra do Caparaó (divisa de Espírito Santo e Minas), que estão começando a colher, antes de fazer estimativas. Isso porque a produção nessas regiões poderia compensar parte da perda de qualidade verificada no Sul de Minas, Mogiana e Paraná.

A estimativa da BSCA é de que a produção brasileira de cafés especiais corresponda a entre 10% e 20% da safra nacional de arábica, que no ciclo atual deve ficar em 40,3 milhões de sacas, segundo a última estimativa da Conab. Isso significa uma produção de até cerca de 8 milhões de sacas de cafés especiais.

Ainda que este ano a conjuntura esteja menos favorável que em 2015 devido à questão da qualidade, a BSCA faz uma análise positiva sobre o mercado para os cafés especiais, que segue crescendo a despeito da crise no Brasil e de incertezas econômicas em outras regiões do mundo.

Adolfo Vieira e Vanusia Nogueira da BSCA (Foto: Luiz Valeriano / Ascom CCCMG)
Adolfo Vieira e Vanusia Nogueira da BSCA (Foto: Luiz Valeriano / Ascom CCCMG)

De acordo com Adolfo Vieira, “o consumo no país não é afetado pela crise. As pessoas não deixam de tomar café, só mudam alguns hábitos”. Vanusia Nogueira observa que as cápsulas – categoria que tem registrado forte crescimento no país – são um exemplo disso, já que, “de forma geral, nesse caso, estamos falando de cafés especiais”. Se na crise, as pessoas vão menos às cafeterias, em contrapartida, podem comprar cápsulas para consumir em casa, afirma.

Pelas projeções da BSCA, o consumo doméstico de cafés especiais é de 1 milhão de sacas por ano. No total, o consumo anual no Brasil soma 20,5 milhões de sacas, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

No mundo, segundo a BSCA, os cafés especiais representam 15% do consumo global, projetado em 150 milhões de sacas pela Organização Internacional do Café (OIC).

O Brasil, ao lado da Colômbia, já atende boa parte dessa demanda, mas tem potencial para ganhar mais espaço no mercado de cafés especiais, avalia a diretora da entidade. A razão não é apenas o maior interesse dos compradores internacionais, mas também o fato de que há mais produtores nacionais investindo para produzir cafés que possam ser classificados como especiais.

“O percentual da safra brasileira que é de qualidade tem potencial para crescer muito”, diz ela. Um efeito desse movimento, acrescenta Vieira, é que os produtores estão melhorando a qualidade do café de uma maneira geral no país.

Um dos atrativos para os produtores, sem dúvida, são os preços mais valorizados dos cafés especiais em comparação aos convencionais. De acordo com a executiva, o prêmio dos cafés especiais em relação ao preço na bolsa de Nova York é de 50%, em média. Ontem, o contrato do arábica com vencimento em setembro fechou a US$ 1,4930 por libra-peso. Mas prêmios muito superiores podem ser registrados em vendas de microlotes. No começo deste mês, por exemplo, um microlote com selo de indicação geográfica da região da Mantiqueira de Minas foi vendido a US$ 3 mil a saca.

Os EUA são o maior mercado para os cafés especiais do Brasil, mas os maiores ágios são obtidos nas vendas para Japão, Coreia, Austrália e Taiwan, diz Vanusia Nogueira. Outro mercado promissor, afirma, é a China, que apesar da pouca tradição no consumo de café tem ampliado as compras de grãos especiais. Entre 2012 e o ano passado, as importações totais de cafés especiais pelo país asiático subiram 29%, para estimadas 1,8 milhão de sacas, segundo a OIC.

Fonte: Valor Econômico (Por Alda do Amaral Rocha) via CNC

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