Cenário positivo do Copom aponta Selic de um dígito

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A ata da 164ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que imprimiu o quinto corte consecutivo de meio ponto da taxa básica de juros, reduzindo-a de 11% para 10,5% ao ano, na semana passada, exala objetividade em seus 77 parágrafos.

A mensagem mais importante do Copom foi confirmar as previsões de queda da taxa Selic para um dígito neste ano, com uma clareza raramente vista em outros comunicados. Conforme a ata, "o Copom atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares de um dígito", o que não acontece desde junho de 2010. O mercado financeiro trabalha com a previsão de que a taxa básica cairá para 10% na próxima reunião do Copom, em março, e para 9,5% na seguinte, em abril, chegando, portanto, a um dígito. Mas havia quem imaginasse que a Selic estacionaria nos 10%, hipótese levantada depois que o relatório trimestral de inflação sinalizou a alta da inflação em 2013 pelo cenário de mercado.

Para que o juro de um dígito se torne realidade neste ano continuam contribuindo os fatores externos, isto é, a instabilidade financeira global, com seu "viés desinflacionário" e contenção dos preços das commodities, que desencadearam a revisão da política monetária em agosto de 2011. Já na semana passada, o Copom notava a "postergação de uma solução para a crise europeia" e a "persistente deterioração do cenário internacional", que seriam confirmadas nesta semana, inclusive com a redução das previsões de crescimento econômico global pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Não fazia parte do cenário da reunião do Copom a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central americano), anunciada quarta-feira, de manter os juros perto de zero até o fim de 2014 e não mais até meados de 2013, como anunciara antes, o que manterá o mercado internacional irrigado por dólares e a pressão sobre o câmbio.

Mas, a essa altura do campeonato, os fatores domésticos adquiriram mais influência na redução dos juros. Um deles, reconheceu finalmente o Copom, é que "a desaceleração da economia brasileira no segundo semestre do ano passado foi maior do que se antecipava".

Importante também é que a inflação está mais comportada. Neste início de ano, a inflação tende a subir, como já sinalizou o IPCA-15 de janeiro, mas por pressões sazonais dos gastos com educação e transporte. A tendência, porém, é recuar, como já está acontecendo no acumulado em 12 meses. O Copom declarou-se "mais seguro" de que a inflação vai convergir para o centro da meta neste ano, ou seja, para 4,5%. Na previsão do mercado financeiro, porém, a inflação fecha o ano em 5,29%.

O Comitê deixou claro que a queda da inflação pressupõe a manutenção da política fiscal de geração de superávit primário, que contribui para arrefecer a demanda e reduzir a relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB). É o que vem sendo chamado de novo mix da política econômica, em que a produção de superávits primários abre espaço para uma política monetária mais flexível. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já prometeu superávit primário equivalente a 3,1% neste ano, sem descontar os gastos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas ainda não apresentou os cortes que serão feitos no orçamento para obter esse resultado. Esperado para esta semana, após a reunião ministerial, o anúncio dos cortes ficou para fevereiro. A explicação do governo é que espera ter um quadro melhor do comportamento da arrecadação no próximo mês. Em 2011, receitas extraordinárias facilitaram o trabalho.

Sinal inequívoco de que o Copom quer dar ao mercado assunto para debater é o parágrafo em que afirma que o cumprimento da meta de inflação pelo oitavo ano consecutivo, a estabilidade macroeconômica, os avanços institucionais, mudanças no mercado financeiro e de capitais, o desenvolvimento do crédito e a geração de superávits primários consistentes causaram "mudanças estruturais significativas na economia brasileira", que determinaram o recuo das taxas de juros em geral, em particular da taxa neutra, com reflexo na redução dos prêmios de risco e no aumento da oferta de poupança externa a custo mais baixo. Para o Copom, essas são transformações permanentes.

O único problema potencial que o Copom vê nesse cenário positivo é o risco de concessão de aumentos de salários "incompatíveis com o crescimento da produtividade", derivado do aquecimento do mercado de trabalho e suas repercussões negativas na inflação.

Fonte: Valor Econômico

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