Cecafé: Brasil sente menos desvalorização do café por causa de investimentos
Um diferencial, segundo ele, é o fato de os custos de produção domésticos não estarem diretamente atrelados ao dólar, como ocorre em outros países. Nos últimos cinco anos, de acordo com Carvalhaes, o Brasil exportou para mais de 150 países e hoje detém 40% do mercado mundial de consumo.
“O Brasil tem uma situação diferente da maioria dos demais produtores, pois investe há muitos anos em pesquisa e tem uma produtividade média acima de 30 sacas de café por hectare. É diferente da Colômbia, de Honduras, de El Salvador…”, comparou com países que têm relação de cerca de apenas 10 sacas por hectare. A disponibilidade mensal de produto doméstico, portanto, é de mais de 5 milhões de sacas, de acordo com ele, muito superior aos demais players.
O presidente do Cecafé salientou que, além da maior eficiência em produção e dos bons números de exportação, o aumento do consumo interno tem sido uma boa resposta aos investimentos feitos, com uma demanda de 6 quilos per capita por ano.
O preço do café na Bolsa de Nova York tem sido negociado nos últimos meses na casa de 89 centavos de dólar por libra-peso, atingindo os menores níveis desde setembro de 2005, quando chegou a 88,15 centavos de dólar. O índice composto da Organização Internacional do Café (OIC) também vem registrando quedas sucessivas na última década, interrompidas por alguns momentos de retomada. Em agosto, o preço médio da commodity recuou 6,7% na comparação com julho, para 96,07 centavos de dólar por libra-peso.
Nas primeiras operações do ano, o preço do indicador composto diário cedeu para 99,16 centavos de dólar por libra-peso, mas chegou em 31 de janeiro a 103,58 centavos de dólar por libra-peso. Apesar da alta em relação a dezembro, a OIC identificou que o preço médio foi o menor para janeiro dos últimos cinco anos. No primeiro mês de 2014, o indicador composto estava em 110,75 centavos de dólar por libra-peso. “Os preços continuam sob pressão, com suprimento suficiente na safra 2018/19”, observou a entidade na ocasião.
Por causa do cenário adverso dos preços, foi lançada ontem a “Declaração de Londres”, uma ação inédita por parte de grandes compradores do produto que se articularam para tentar encontrar uma solução para a forte depreciação da commodity. O documento foi apresentado ontem aos membros da OIC e foi por causa dessa reunião que Carvalhaes está em Londres.
“Estamos em um momento em que os preços não estão bons, mas são suportáveis pela produção brasileira. O mundo gerou excesso de oferta nos últimos anos e agora isso está sendo absorvido”, explicou, lembrando que a perspectiva é a de que a safra não seja tão forte no próximo ano no Brasil, o maior produtor e exportador de café.
Outro ponto considerado pelo presidente do Cecafé como fundamental para que os cafeicultores nacionais sentissem menos os efeitos dos baixos preços do que seus pares é o fato de os custos de produção no País não estarem tão atrelado ao dólar como em outros países. “A desvalorização cambial, que subiu demais em relação a várias moedas, é um aspecto muito interessante, pois gerou uma gordura adicional, colaborando para a resistência desse momento de dificuldade de preço”, avaliou. “Isso fez diferença porque nosso custo não é indexado ao dólar, diferente de muitos países da América Central”, continuou.
Ele citou um relatório de um grande banco no Brasil com a análise de que o dólar deveria estar cotado atualmente em cerca de R$ 3,80, e não próximo a R$ 4,20 como está hoje. Se houver uma diminuição dessa relação daqui em diante é possível que a situação dos preços internacionais também melhore. O presidente do Cecafé ressaltou que o Brasil não é uma ilha de prosperidade, que precisa lidar com leis sociais e ambientais severas, mas que tem trilhado um caminho bastante positivo nos últimos anos de dificuldades.
Um dos benefícios dos investimentos feitos recentemente é o de conseguir produzir grãos de mais qualidade, que têm com valor agregado maior no mercado externo. “Temos para todos os gostos”, resumiu, observando que o País exportará este ano mais de 8 milhões de sacas de café diferenciado ante 5,5 milhões de sacas vendidas no ano passado. “Somos também grandes líderes em arábica e tivemos excelente resultado na produção de conilon”, acrescentou.
Fonte: Agência Estado (Por Célia Froufe)