Câmbio atrapalha desempenho da indústria de café solúvel, diz Abics

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O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), Roberto Ferreira Paulo, informou hoje que o câmbio, com o real valorizado em relação ao dólar, atrapalha o desempenho do setor, reduzindo a competitividade na exportação. "Não há muito o que fazer para superar esse obstáculo, que não é uma particularidade da indústria de solúvel", diz. Segundo ele, entre 80% e 90% da produção total de solúvel no Brasil é destinada ao mercado externo.

A Abics estima que o volume exportado este ano deve ficar muito próximo do ano passado, em cerca de 3,2 milhões de sacas de 60 kg de café que, se confirmado, "será muito comemorado", comenta Ferreira Paulo. A receita cambial, no entanto, deve crescer perto de 10%, em linha com a elevação dos preços do café no mercado internacional, para US$ 600 milhões.

O diretor-executivo da Abics relata que existe demanda por café solúvel no mundo. O consumo cresce a uma taxa de 3% ao ano, enquanto o setor de torrado e moído avança 1,5% ao ano. O Brasil, no entanto, não consegue ocupar espaço no exterior, por causa do câmbio, entre outros fatores. Ferreira Paulo cita "problemas antigos" que dificultam o avanço do setor, como a sobretaxa de 9% para todo solúvel brasileiro que entra na União Europeia "e que mais nenhum outro país exportador paga, apenas o Brasil".

Ele acrescenta, ainda, que o Brasil também enfrenta concorrência desleal no mercado japonês. Desde o ano passado, o governo do Japão reduz em 25% a cada ano um imposto de importação de 8,8% para o solúvel, em favor de 10 países asiáticos e contrário aos interesses dos demais exportadores, como o Brasil. Para complicar, desde abril foi estabelecido um tributo de 15% sobre o extrato congelado de café que o Brasil exporta para o Japão, o qual é utilizado na produção da bebida em lata, inclusive gelada, muito consumida pelo japoneses.

Diante desse quadro, Ferreira Paulo diz que não é possível vislumbrar um horizonte positivo para a indústria do setor. "Não vemos o mercado progredir. Estamos estagnados no processamento de cerca 3 milhões de sacas há 10 anos", lamenta.

Internamente, a questão do drawback (importação de matéria-prima para posterior exportação de produto com maior valor agregado) não avança. "O setor produtivo alega preocupações, como entrada de pragas e doenças no País, que são infundadas", disse. Enquanto isso, países concorrentes conseguem importar a baixo preço café robusta do Vietnã, principal fornecedor do grão para solúvel, melhorando a competitividade.

O representante da indústria de solúvel elogiou decisão do Ministério da Agricultura e da Fazenda, em relação à criação de linha de crédito de R$ 150 milhões para financiamento de capital de giro para as empresas do setor. O Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou prazo de reembolso em até 24 meses (incluindo seis de carência). "Era uma antiga reivindicação, para oferecer melhores condições de competitividade, em termos de custo do dinheiro", explicou. Atualmente, sete indústrias de café solúvel estão instaladas no País: Nestlé, Cacique, Iguaçu, Real Café, Cocam, Brasília e Companhia Mogi.

Fonte: Agência Estado

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