Cai diferencial entre cafés arábica e robusta

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A redução da oferta de café robusta pelo Vietnã no mercado – que abriu espaço para o produto brasileiro no exterior num momento em que o dólar sobe ante o real – fez cair a diferença entre os preços do robusta e do arábica.

Levantamento da Pharos Commodity Risk Management mostra que o diferencial – a chamada arbitragem – está em R$ 5,00 por saca no mercado físico doméstico e em 48,21 centavos de dólar no mercado internacional. Este último considera a diferença entre as cotações em centavos de dólar dos contratos com maior liquidez nas bolsas de Londres e Nova York.

Há um ano, no dia 15 de setembro de 2014, o diferencial entre o arábica e o robusta era de R$ 58 no front doméstico e de 92,52 centavos de dólar no mercado internacional, conforme o levantamento. Então, o mercado ainda sofria a influência da quebra da safra 2014/15 de arábica no Brasil por conta da seca. O diferencial de preços é usado como parâmetro para substituição de arábica em blends do café torrado e moído.

De acordo com Haroldo Bonfá, diretor da Pharos, o Vietnã, principal produtor global de café robusta "se retraiu e o Brasil tomou a frente" na exportação da espécie. Os vietnamitas estão segurando as vendas há alguns meses à espera de uma melhora nas cotações internacionais, acrescenta Glauco Salinas, da Pharos. Com isso, elevaram seus estoques – que estão na casa dos 3 milhões de sacas – e permitiram que o Brasil ampliasse os embarques de café robusta.

A queda do real ante o dólar também contribuiu já que tornou o robusta brasileiro mais competitivo no mercado internacional comparado ao produto originado no Vietnã. Isso, apesar de o dong, a moeda vietnamita, também ter se desvalorizado em relação ao dólar.

Bonfá observa que as exportações brasileiras de robusta saíram de 1,941 milhão de sacas no ciclo 2013/14 e saltaram para 4,532 milhões de sacas na safra 2014/15. Os últimos dados Conselho do Exportadores de Café (CeCafé) mostram que, entre janeiro e agosto deste ano, as vendas externas da espécie pelo Brasil aumentaram 53% em relação ao mesmo intervalo de 2014, para 3,075 milhões de sacas.

A valorização do dólar sobre a moeda brasileira estimula as exportações, pois o vendedor pode ter maior receita em real a cada dólar negociado. "A remuneração na exportação [de robusta] ficou melhor que vender no mercado interno", afirma Bonfá.

O diretor-geral do CeCafé, Guilherme Braga, considera que a redução no diferencial de preços entre as duas espécies se deve mais "à queda acentuada" das cotações do arábica no mercado internacional, reflexo da valorização do dólar ante o real. "Não que o robusta não tenha caído", diz.

A escalada do dólar pressiona as cotações tanto do arábica quanto do robusta. Mas como o Brasil é o maior produtor global de arábica, a espécie é proporcionalmente mais afetada, explica Glauco Salinas, da Pharos.

Guilherme Braga avalia, ainda, que a maior estabilidade dos preços do robusta – desde o ano passado – e a retração na oferta do Vietnã tornaram o produto brasileiro mais competitivo. E acrescenta que, "do ano passado para cá" houve menor interesse por robusta por parte de torrefadores brasileiros, o que gerou oferta para exportação.

Ao mesmo tempo em que a demanda pelo robusta do Brasil cresce, a produção da espécie está menor na safra 2015/16, que acabou de ser colhida. No Espírito Santo, maior Estado produtor de robusta no país, a produção foi estimada pela Conab em 7,761 milhões de sacas 2015/16, 22% abaixo das 9,949 milhões do ciclo anterior.

A produção menor se reflete nos volumes recebidos pelas cooperativas. Edimilsom Calegari, gerente geral da Cooperativa dos Cafeicultores de São Gabriel, em São Gabriel da Palha (Cooabriel), no norte capixaba, diz que a cooperativa recebeu 20% a menos de café na safra atual. Foram 930 mil sacas entregues pelos cooperados ante 1,170 milhão de saca no ciclo 2014/15.

De acordo com ele, o clima adverso afetou a produtividade do robusta na região. Na ciclo passado, 97% do café colhido era de peneira 12 acima. Na atual safra, essa fatia foi de 90% do total.

Fonte: Valor Econômico (Alda do Amaral Rocha)

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