Cafeicultores se dividem entre arábica ou robusta no México

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O México é um conhecido produtor do arábica, um tipo de café de alta qualidade. Sua reputação de produtor de grãos de alta qualidade lhe permite cobrar, por parte de seu café, preços mais altos do que os do café do Brasil, o maior produtor de arábica do mundo.

Agora a Nestlé SA e o governo mexicano estão gastando milhões de dólares para plantar mais robusta, um tipo de café usado para fabricar pó instantâneo. Eles dizem que as plantas rendem mais grãos que o arábica e podem reduzir o volume de café que o país importa para atender à demanda doméstica, já que a maioria dos mexicanos prefere café instantâneo e as exportações do produto têm crescido.

Mas os cafeicultores de arábica dizem que a iniciativa com o robusta pode arruinar a imagem do México como produtor de cafés de alta qualidade.

O robusta é "um café ruim, que não tem qualidade ou sabor", disse Leonor Fernández, produtora de café do Estado mexicano de Oaxaca. "Não é igual às plantas arábicas nativas que cultivamos."

A Nestlé usa robusta no Nescafé e outros cafés instantâneos. A empresa suíça planeja desenvolver e distribuir 30 milhões de mudas de café no México nos próximos oito anos, cerca de metade delas da variedade robusta. O governo mexicano está subsidiando separadamente 30% do custo das mudas de robusta para os produtores que desejam comprá-las.

Mario Vera, vice-presidente da divisão de café e bebidas da Nestlé México, disse que a empresa está promovendo a produção de arábicas e robustas porque o México, como o Brasil, tem terras compatíveis com as duas variedades.

"É como vinho. Algumas pessoas gostam de Cabernet, outras gostam de Merlot", disse ele. Mais de 60% das mudas distribuídas pela Nestlé no México ano passado são da variedade robusta. Este ano, 60% foram de arábica.

As mudas que a Nestlé está distribuindo são de alta qualidade e rendimento, e geralmente resistentes a doenças, disse Vera, o que aumentará a renda dos cafeicultores locais.

Mas alguns produtores de café arábica argumentam que aumentar o cultivo de robusta no solo mexicano só beneficia as grandes empresas porque os produtores são forçados a vender o arábica a preços menores quando os compradores também têm a opção de adquirir o robusta. "É um café mais barato, então as pessoas compram", disse Fernández, a cafeicultora de Oaxaca.

Grãos de arábica estavam sendo negociados recentemente a US$ 2,151 a libra (454 gramas), ao passo que os de robusta estavam a menos de metade desse preço: US$ 1,85 o quilo.

Fernández disse que a reputação do México de produtor de grãos de qualidade pode ser prejudicada se o país começar a exportar grandes quantidades do robusta, e o valor pode cair mesmo se a demanda pelo arábica subir.

A Nestlé informou que as plantações do robusta também ajudarão a reduzir a importação mexicana de café, que aumentou 30% em 2009, para 308.683 sacas. A maioria do café que a Nestlé importa para o México vem do Brasil, e depois de transformado nos cafés instantâneos da empresa ele é exportado novamente. "Não importaria nenhuma saca de café se pudesse comprá-lo no México", disse Vera.

Mas os cafeicultores continuam rejeitando o novo café. "Por que estamos transformando um país de arábica lavado num país do café que a empresa quer que a gente produza?", disse Fernando Celis Callejas, consultor da Confederação Nacional de Organizações Cafeicultoras.

Fonte: The Wall Street Journal

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