Cafeicultores enfrentam pior crise em 41 anos e perdem espaço para asiáticos

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Os cafeicultores brasileiros enfrentam uma crise apontada por eles como a mais grave desde 1972, quando houve geadas e ferrugens. O cenário ruim, que já está no segundo ano consecutivo, deve-se a dois fatores: redução da compra do grão pelos mercados norte-americano e europeu, principais consumidores do café brasileiro, e a perda de espaço para a produção asiática.

A principal consequência, segundo agricultores do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Sul de Minas, maiores regiões em cultivo do grão no Estado, é o baixo preço de venda da saca de 60 kg. O valor entre R$ 230 e R$ 253, hoje, muitas vezes, não cobre o custo médio de produção, cuja variação é de R$ 240 a R$ 280, conforme a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

O problema visto no país que mais planta café no mundo – agravado por estoques altos do produto e que teve maiores proporções em Minas Gerais, por ser líder em cultivo no país, com 51,4% da produção nacional – também é registrado em outros estados que são grandes produtores, como São Paulo e Paraná.

Sérgio Segantini diz que o café arábica do cerrado mineiro perdeu espaço no mercado externo (Foto: Cleiton Borges)

De acordo com Sérgio Segantini Bronzi, diretor administrativo da Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA), o café arábica do cerrado mineiro ficou em segundo plano no circuito mundial após 2011, ano em que a saca chegou a ser vendida por R$ 570, porque de lá para cá houve um avanço no mercado internacional de outro tipo do grão, o robusta. Também chamado de conilon e quase 30% mais barato, ele teve a plantação ampliada em países como a Indonésia e o Vietnã (ambos na Ásia), segundo e terceiro maiores produtores mundiais de café, respectivamente, depois do Brasil.

“Essa alteração, que levou à redução de nossas vendas e à queda no preço do produto, aliada à falta de políticas governamentais de apoio, levou o agricultor mineiro a essa crise”, disse Bronzi. “E, para piorar, já começamos a ver restrição de crédito ao setor.”

O quadro atual fez o governador de Minas, Antonio Anastasia, pedir um pacote de medidas de apoio para o setor à presidente Dilma Roussef, no fim de outubro, quando ela cumpriu agenda oficial em Belo Horizonte. O governador reforçou as solicitações dos cafeicultores, como a prorrogação por 120 dias das dívidas e a redução da disponibilidade do grão, com a aquisição de 10 milhões de sacas pelo governo federal.

E, segundo o secretário estadual de Agricultura, Elmiro Nascimento, a expectativa é que nos próximos dias essas reivindicações sejam atendidas pela presidente. “A prorrogação serviria para que estudos mais aprofundados fossem feitos e apontassem o tempo adequado para que as parcelas das dívidas pudessem ser pagas”, afirmou.

CORREIO Infografia

Preços são os mais baixos em 11 anos
O preço médio atual da saca de 60 kg de café, de R$ 253, apontado por produtores de Minas Gerais e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, é o menor dos últimos 11 anos. Conforme o levantamento da instituição, em agosto de 2002, o valor ficou em R$ 215 e, desde então, permaneceu acima de R$ 275.

Em 2011, quando a cotação chegou a R$ 570 (veja mais nessa página), os cafeicultores brasileiros viveram o melhor momento em mais de uma década. Para Lázaro Rangel dos Santos, cafeicultor em Araguari, no Triângulo Mineiro, o pico foi resultado de especulação econômica. “Não tinha motivo justificado para subir tanto naquele momento. Assim como agora não houve um fator preponderante para o preço despencar. O que aconteceu em 2013 foi que grandes vendas de café foram feitas na Bolsa de Valores, derrubando o valor do grão.”

Segundo o produtor Helvécio Sebastião Batista, que cultiva café em Serra do Salitre, no Alto Paranaíba, o que agrava as dificuldades dos agricultores, que já enfrentam o baixo preço da saca, é o alto valor dos insumos e, principalmente, dos adubos. “Somente para exemplificar essa situação, em 2004, quando também tivemos uma crise no setor cafeeiro, mas não tão grave quanto a de hoje, a saca era vendida por R$ 280 a R$ 300 e o adubo custava R$ 200. Hoje, enquanto houve queda de 10% a 20% na saca, o adubo teve quase 600% de aumento”, afirmou. Para Batista, o alto valor de produção faz a crise atual ser a pior do setor dos últimos 41 anos, embora seja a cotação mais baixa dos últimos 11 anos.

Fonte: Correio de Uberlândia

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