Café para todos os gostos

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Consumindo quase nove vezes a média mundial, o Brasil se torna um mercado cada vez mais relevante para os negócios que envolvem a bebida. Para reduzir custos e diversificar o público, cafeterias apostam no modelo “store in store”

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Distinto: Felipe Braga, 29 anos, na loja da rede Suplicy que custou R$ 850 mil, em São Paulo. Plano é ser a maior rede de cafés especiais do Brasil (Crédito: Rogerio Cassimiro)

Foi em meio aos arranha-céus corporativos da Vila Olímpia, bairro nobre de São Paulo, que a rede Suplicy Cafés encontrou um oásis para seu reposicionamento de marca. Localizada no mezanino do São Paulo Corporate Towers, a cafeteria inaugurada em agosto de 2017, com investimento de R$ 850 mil, foi desenhada para atrair uma clientela de alto poder aquisitivo, que valoriza a essência do café e pode apreciar um cardápio com opções saudáveis e integrais. Mas não foi só o público mais exigente que a unidade conquistou. Em 2018, a empresa conhecida por seus cafés especiais foi convidada para operar espaços em parceria com os bancos Santander e Itaú BBA, com a WeWork, e em pontos históricos de São Paulo, como o Mirante 9 de Julho e o Museu de Arte de São Paulo (MASP). “Gostamos de estar em centros empresarias e culturais. Também temos lojas em aeroportos. Queremos estar com o público em ocasiões distintas”, diz Felipe Braga, CEO do Suplicy Cafés.

O modelo conhecido como store in store, em que um estabelecimento aloca-se dentro de outro, virou um norte para a expansão desse mercado nos últimos anos, já que cafeterias podem muito bem serem inseridas em aeroportos, coworkings, hospitais ou livrarias. A operação compartilhada também é uma forma de reduzir custos de aluguel e buscar mais fluxo de clientes. “É uma relação ganha-ganha. O banco hoje é quase 100% digital. A compra de livros está crescendo muito no on-line. Atrelar esses pontos a uma cafeteria pode incentivar o consumidor a voltar mais vezes às unidades físicas”, afirma Angélica Salado, analista de pesquisas da consultoria Euromonitor. “Isso vai ser cada vez mais comum. O varejo está caminhando para oferecer mais experiência nas lojas. E o café é muito bom para isso”, complementa Braga.

Uma das parcerias estratégicas firmadas pelo Suplicy Cafés foi com o Santander, que resolveu investir em um conceito de cafeterias com coworking próprio, intitulado Work Café Santander. Nesse modelo de negócios, o banco é responsável pelo investimento na operação enquanto o Suplicy Cafés fica a cargo do dia a dia do negócio. O acordo é realizado por meio de white label, conceito em que a marca operadora não aparece. Duas das 32 unidades da rede são Work Café Santander. “É uma operação transparente, mas eu não vejo isso como algo ruim. Temos o papel da hospitalidade lá dentro. A única coisa que eu gostaria de mostrar mais é a qualidade do café que pode ser comprado”, comenta Braga. A companhia também opera uma unidade instalada dentro do Farol Santander, antigo edifício Altino Arantes, no centro de São Paulo, que foi reaberto ao público no início de 2018. Até o fim deste ano, mais quatro lojas serão inauguradas, em um aporte total de R$ 2 milhões.

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Compartilhado: Cafeteria da Havanna instalada em uma agência bancária do Santander, em São Paulo: rede quer ter 100 unidades no País (Crédito:Divulgação)

Quem também firmou parceria com o Santander para ter cafeterias em agências bancárias foi a rede Havanna, que atua no País desde 2006 por meio de seus tradicionais doces argentinos. Em abril de 2018, quando o banco resolveu inaugurar uma agência conceito, voltada a clientes pessoa jurídica, procurou a Havanna para compartilhar o espaço. “Queremos estar em agências do Santander Select, que são frequentadas por consumidores que conversam mais com o nosso DNA”, diz o argentino Diego Schiano, diretor geral da Havanna. Hoje, a empresa conta com 77 lojas. Para alcançar uma receita de R$ 120 milhões este ano, a ideia é terminar a temporada com 100 unidades ativas.

Uma aposta da Havanna em meio ao cenário competitivo foi investir em unidades alocadas em livrarias. Parecia a união perfeita, não fosse a crise do mercado editorial. A empresa chegou a ter seis operações com a rede Saraiva, mas duas foram fechadas por conta da crise enfrentada pela parceira, que se encontra em recuperação judicial. Hoje, cinco unidades da Saraiva e uma loja da Livrarias Curitiba contam com cafeterias Havanna. “Nós aproveitamos o fluxo da loja e ela, por sua vez, se aproveita da experiência que levamos”, afirma Schiano.

Fundada em 2006, a Deltaexpresso cresceu por meio de operações em aeroportos e hospitais. Já são 30 unidades em locais compartilhados. No Aeroporto de Congonhas, São Paulo, a rede divide o espaço com uma unidade da Livraria Leitura. “Também fomos convidados este ano pelo Santander para produzir algumas lojas em áreas de bancos que tem espaços ociosos hoje”, diz o lusitano João José Barbosa, cofundador e diretor de novos negócios da Deltaexpresso. O faturamento da rede deve crescer cerca de 10% este ano, para R$ 81 milhões. Segundo números da Euromonitor, o brasileiro consumiu um total de 7,3 milhões de toneladas de café em 2018, o que o coloca como maior mercado no mundo, à frente dos Estados Unidos. Cada pessoa no País gasta, em média, R$ 113 por ano com café no varejo brasileiro. Os números mostram que o mercado está aquecido e cada vez mais exigente, o que indica uma oportunidade e também um desafio para as redes de cafeterias nacionais.

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Fonte: Istoé Dinheiro, por Felipe Mendes

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