Café esquenta exportação do agronegócio mineiro

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O café foi o grande responsável pelo recorde histórico de receita das exportações mineiras neste ano. O produto responde por 52% das vendas externas do agronegócio do estado e, com a alta dos preços internacionais, impulsionou toda a balança comercial mineira, levando a um crescimento de 33,97%, na comparação com a receita dos 11 primeiros meses do ano passado. As vendas externas do café chegaram a US$ 3,6 bilhões, um crescimento de 37,97%. A receita das exportações de todos os produtos agropecuários passou de US$ 5,1 bilhões para US$ 6,8 bilhões.

O aumento da cotação internacional do café entre janeiro e novembro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2009, foi de 24,12%, com o preço médio chegando a US$ 2,9 mil a tonelada. Porém, o ano positivo, com a recuperação dos preços internacionais, não é suficiente para o produtor, segundo o analista de agronegócios da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) Caetano Berlatto. Ele avalia que muitos exportadores não pegaram todo o aumento, pois precisaram receber antecipadamente para pagar os custos da colheita. "Fazia muitos anos que não havia lucro com café e o endividamento do setor é muito alto", explica Berlatto.

Uma saída para aumentar valor pode ser a venda para o exterior do café processado. Porém, nos 11 primeiros meses deste ano o café em grão, in natura, teve crescimento de 39%, enquanto o café processado diminuiu nesse período 34,7%. De acordo com Berlatto, o principal problema para a entrada do café industrializado no continente europeu é o imposto cobrado, de 9%, sobre o valor do produto, o que não existe para o café em grão. Berlatto explica que empresas que comercializam um café fino, de alto padrão, conseguem superar essa barreira do imposto com a valorização do produto.

As dificuldades para aumentar o valor agregado do principal item da pauta de exportações do agronegócios são muitas. O presidente do Sindicato da Indústria do Café de Minas Gerais (Sindicafé-MG) e da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Almir Filho, entende que com a atual legislação é impossível exportar café solúvel. "Ninguém vai colocar uma planta de café solúvel em Minas. O principal entrave é a legislação, pois aqui não tem a matéria-prima, o café conilon, que precisa ser misturado. Quando o conilon chega ao estado paga o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), que encarece demais a produção", explica Almir. Ele completa: "A agregação de valor é uma coisa muito distante para nós em Minas. Não temos capacidade de vender café com alto valor agregado".

Para o secretário da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Gilman Viana, o maior desafio para manter o patamar é superar os problemas estruturais, como os de infraestrutura, principalmente os relacionado ao transporte. "Agora há o componente do câmbio. Quando o dólar estava mais elevado facilitava as exportações. Sem esse conforto é preciso resolver as questões internas com mais urgência", entende Viana.
BARREIRA Sobre o café, o secretário observa um problema grave. "Parte do café mineiro sai daqui para ser processado em São Paulo e, inclusive, é exportado como industrializado pelas empresas paulistas", reclama o secretário. Segundo Viana, está em maturação uma "provocação", um fundo de defesa da cafeicultura. "Não é preciso programar uma guerra fiscal, mas não podemos fugir dela", afirma Viana. "Sempre quando transformamos o produto primário em secundário aumentamos a mão de obra", destaca.

O secretário cita o exemplo da medida tomada pelo governo estadual em relação ao leite, quando o governador Antonio Anastasia assinou decreto no início deste mês que derrubou a isenção do ICMS sobre o leite e derivados produzidos fora de Minas. A taxação passou a ser de 12% e 18%, respectivamente. Ainda dentro do pacote de proteção do setor, o governo mineiro manteve a isenção do tributo sobre a comercialização no varejo de leite pasteurizado, leite UHT (processado em altas temperaturas) e os derivados produzidos no estado, além de conceder o benefício ao segmento da distribuição do leite em Minas. A medida garantiu a construção de uma fábrica da Itambé, em Pará de Minas, com investimento previsto de R$ 100 milhões e que deve gerar 300 empregos diretos. 

Fonte: Jornal Estado de Minas

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