Café de Minas movimenta R$ 20 bilhões no país este ano

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A exportação de cafés especiais, produzidos com os grãos chamados premium, já representam 20% do total da bebida exportada pelo Brasil. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), o segmento gourmet de café cresceu 13% nos últimos três anos, enquanto o consumo do produto tradicional apenas 3,5% no mesmo período. O sabor diferenciado dos grãos especiais caiu no gosto dos brasileiros e algumas marcas e cooperativas mineiras já vendem suas safras especiais para outros países. Em um mercado que vai movimentar mais de R$ 20 bilhões este ano no país, o crescimento abre oportunidades para milhares de profissionais envolvidos com o café.

Os cafés especiais tiveram grande espaço durante a Semana Internacional do Café (SIC), que ocorre na semana passada em Belo Horizonte e reuniu cafeicultores, torrefadores, exportadores, compradores, empresários, apreciadores e proprietários de cafeterias. A busca por conhecimento e segredos sobre técnicas para se produzir os cafés especiais movimentou centenas de produtores. Mas, afinal, qual o segredo para se produzir grãos com os sabores diferenciados que são disputados em vários cantos do mundo? “O processo vai desde a plantação, passa pelo cuidado na colheita, secagem, transporte e tratamento do grão. É um trabalho meticuloso até a xícara”, conta Breno Mesquita, diretor da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e presidente das comissões do Café da entidade. Segundo ele, o setor dos cafés especiais, que anos atrás era um nicho, se transformou em uma tendência.

Há pouco mais de 10 anos, o casal de produtores de Guaxupé, no Sul de Minas, Juliana Gabriel Pereira Ribeiro e Luiz Fernando Maluf Ribeiro, percebeu o grande filão que despontava no mercado cafeeiro. Apostando na maior qualidade dos grãos, eles passaram a produzir uma linha voltada para o segmento gourmet e lançaram o Jequitibá Café Gourmet, que se transformou no principal produto da fazenda. “O aprendizado se deu com o tempo, com experiência no plantio, na colheita, no processo de secagem e na torrefação. Percebemos que investindo na qualidade do produto conseguiríamos alcançar um mercado em crescimento. As pessoas gostam cada vez mais dos cafés especiais”, conta Juliana.

Filho de produtores de café, Luiz Ribeiro cresceu acompanhando a produção do café tradicional e aprendeu com seu pai todas as etapas da produção. “Antigamente não existia essa demanda pelo grão especial, que passou a ser uma grande demanda dos dias de hoje. Com as novas tecnologias e mais conhecimento conseguimos aumentar significativamente a qualidade do café”, explica. Segundo o produtor, os avanços permitiram até mesmo diminuir a característica de bienalidade do café – um ano de boa safra, outro de colheita ruim. “Hoje temos como garantir que as plantas terão muito vigor todos os anos. Mas claro que a chuva na época certa é fundamental para boas safras”, diz.

O casal Luiz Fernando e Juliana produz o café diferenciado em Guaxupé, no Sul do estado (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

MESTRES Com a demanda crescente dos consumidores pelo café especial, uma profissão se tornou procurada e valorizada por produtores, torrefadores e proprietários de cafeterias: os baristas. Especialistas em café de alta qualidade, eles têm como missão criar sabores, procurar novas técnicas de cultivo, descobrir formas de processamento e, principalmente, dominar os métodos de preparo. O palco da Copa Barista, onde 32 competidores disputaram o título de melhor barista na Semana Internacional do Café, foi um dos mais procurados pelos visitantes da feira no Expominas. Os mineiros Gabriel Guimarães e Ivan Heyden, baristas do Sul de Minas, foram até as finais da competição e comemoram o crescimento da demanda pelos cafés especiais.

“Brinco sempre que estamos vivendo a época da gourmetização. E para as cafeterias isso é ótimo já que aumenta a demandas pelos cafés diferenciados”, conta Gabriel Guimarães, de 25 anos. O barista de Carmo de Minas, participa de competições desde 2013 e se diz privilegiado pela qualidade da produção no Sul de Minas. “Tenho muita coisa acontecendo quase no terreiro de casa. A Região Sul de Minas é mundialmente conhecida pela qualidade do grão. Recebemos visitas de baristas campeões mundiais e provadores que vêm de fora conhecer as plantações”, diz.Continua depois da publicidade

Uma origem misteriosa

Tricampeão brasileiro de barismo, o carioca Léo Moço veio buscar em Carmo de Minas o melhor grão para disputar títulos internacionais. No início do mês que vem, ele vai competir no Campeonato Mundial de Barismo, considerada a Copa do Mundo do segmento, em Seul, na Coreia do Sul. O café que garantiu a posição de melhor barista do Brasil a Moço é rodeado de mistérios e curiosidades. “Os grãos que usei vêm de uma produção de Carmo de Minas. É uma propriedade de uma família de quatro gerações de agricultores. No ano passado, uma égua fugiu do curral. Eles começaram a procurar a égua em todos os lugares e entraram em uma mata nativa, onde ninguém tinha ido antes. Eles sequer conheciam o que tinha dentro da vegetação fechada. O filho da produtora encontrou vários pés de café na mata nativa. Mais de 10 mil pés. Todos enormes. Devem ter mais de 150 anos. E ninguém soube explicar como aqueles pés foram parar ali”, conta Léo.

A notícia correu logo. Algumas teorias já surgiram para explicar a misteriosa plantação que rendeu grãos saborosos de café. “Pode ser ação de pássaros, não tem como saber exatamente. Pelo tamanho dos pés, que são muito antigos, é possível que sejam da época dos escravos. Podem ter criado esse cultivo para consumo próprio, sem que os donos das terras soubessem”, diz o barista. Antes de embarcar para a Ásia, onde tentará o título mundial, ele procurou aprender técnicas com os melhores cafeeiros do mundo e viajou para o Japão para se preparar mentalmente para a disputa. “Participei de um treinamento para encarar a competição, trabalhar a administração do tempo”, explica.

No mundial, cada competidor dos 58 países participantes devem preparar quatro bebidas em 15 minutos. “Os asiáticos investem muito dinheiro no setor. Chineses e japoneses compram cafés caríssimos e investem em equipamentos modernos”, afirma.

Formado em informática e nutrição, há pouco mais de 10 anos Léo Moço sequer gostava da bebida que o tornou campeão nacional. Ele trabalhava em um hotel na área de tecnologia da informação (TI), no Rio de Janeiro, quando teve contato com cafés que agradavam seu paladar. “Gostei de um tipo diferente de café, bebida que nunca tinha consumido durante minha vida. Então, há 12 anos, passei a estudar porque gostava de certo tipo de café e de outros não. Percebi que o mercado dos cafés especiais estava em franco crescimento”, lembra. Hoje ele tem várias cafeterias Brasil afora, sendo sócio de uma usina de torrefação no Paraná.

Fonte: Estado de Minas (Por Marcelo da Fonseca)

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