Café brasileiro na Bolsa de Nova York: conjunturas favoráveis à inserção

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Desde que foi anunciada a possibilidade de adicionar o café arábica brasileiro de padrão lavado à lista de origens para entrega do contrato futuro na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), representantes do setor produtivo, lideranças e especialistas têm fomentado o debate como oportunidade para conquistar uma nova imagem no cenário internacional. Discutida há mais de uma década, ainda sem sucesso, a possibilidade de inserção do arábica brasileiro nos contratos de Nova York reflete um momento oportuno e justificado.

A reavaliação respalda-se no aumento do volume do café brasileiro de qualidade e de sua ampla aceitação no mercado. O volume de café brasileiro produzido por via úmida gira em torno de quatro milhões de sacas. Acrescenta-se a este cenário a escassez de lavados dos países da América Central e Colômbia, com risco de haver uma intensa especulação, com volume negociado desproporcional ao café passível de entrega. A escassez se deve tanto pela quebra de safra de tradicionais países produtores, em especial a produção colombiana que impacta o mercado, quanto pela expansão do mercado de cafés especiais, com uma segmentação de canais que progressivamente tem reduzido o volume negociado em bolsa.

Na avaliação do pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), Celso Luis Vegro, essa é uma oportunidade de ‘diamante’. “Talvez seja o fato mais importante para o agronegócio café brasileiro a ocorrer em 2010”, enfatiza, convocando as representações da cafeicultura a se mobilizarem para acelerar o processo e o aceite do café brasileiro para o contrato C em Nova Iorque. “Todo o agronegócio café deveria se mostrar coeso na aceleração desse processo, pois somente gera melhor precificação para essa qualidade que é crescente no Brasil, algo que deve variar entre R$40,00/sc a R$ 50,00/sc”, complementa.

A campanha para inserção dos cafés brasileiros processados por via úmida teve como marco importante um estudo técnico realizado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em 2004, que incluiu uma série de verificações da qualidade do café produzido em diversas regiões. As provas de qualidade, realizadas em Nova York por provadores de diferentes países, resultou na superação das barreiras de natureza técnica. Faltava superar outros fatores de natureza política e burocrática, que afastaram o Brasil por todos estes anos de participar destes contratos. Agora, mais uma vez, está sendo avaliada a oportunidade do Brasil se tornar origem em contratos que hoje já são negociados por 19 países.

Na avaliação do diretor geral do Cecafé, Guilherme Braga Abreu Pires Filho, ter a cotação regida pela Bolsa facilita a formação do preço negociado, resultando em uma melhor precificação para os cafés que se adequem à qualidade exigida pelo contrato. Neste caso, a cotação na bolsa reduziria a volatilidade de preços com base em fatores internos, como o tamanho da safra ou estoques. Para este especialista em mercado de café, a opinião que mais vai pesar nesta consulta da ICE Futures será a dos grandes compradores, que já sinalizaram a necessidade de novos contratos. A mobilização interna também será importante no decorrer deste processo.

Como tradição para novos entrantes, considerando os padrões de qualidade e as cotações nos últimos cinco anos, a ICE Futures avalia que um diferencial de preço apropriado para o arábica do Brasil estaria dentro de um intervalo entre 7 a 9 centavos de dólar abaixo da paridade. De acordo com Guilherme Braga, de modo geral, o café lavado brasileiro já é negociado diretamente a compradores deste nicho, a preços superiores até mesmo ao referencial colombiano. Ele explica ainda que o diferencial do preço do café acompanha a oferta do mercado, sendo maior em anos em que a commodity apresenta qualidade média inferior. “Quando o café brasileiro estiver em NY, a tendência é que haja um diferencial de valorização”, destaca.

Para entender o assunto

Em debate na Comunidade Manejo da Lavoura Cafeeira, da rede virtual Peabirus, onde o tema tem rendido grande participação, o professor de Economia da Universidade Federal de Lavras, Luiz Gonzaga de Castro Júnior, explicou que o contrato de café tipo C é o padrão mundial do café arábica. Os preços dos cafés verdes para a entrega física do produto, a partir dos 19 países de origem, são formados a partir da qualidade do produto perante uma base diferencial, o que resulta em prêmios ou descontos de acordo com os portos de entrega e origens.

Atualmente são 19 países certificados para emissão dos contratos: México, El Salvador, Guatemala, Costa Rica, Nicarágua, Quênia, Nova Guiné, Panamá, Tanzânia, Uganda, Honduras, e Peru, no valor do contrato, Colômbia com prêmio de 200 pontos, Burundi, Venezuela e Índia com100 pontos de desconto, Ruanda com 300 pontos de desconto, e a República Dominicana e o Equador com 400 pontos de desconto. A Bolsa de NY tem armazéns licenciados no porto de Nova York (valor nominal do contrato), no Porto de New Orleans, no Porto de Houston, no porto de Bremen/Hamburgo, no porto de Antuérpia, no Porto de Miami e no porto de Barcelona (com desconto de 1,25 cents/lb).

De acordo com o professor Gonzaga, para o café brasileiro e, consequentemente para o Brasil, é uma das melhores alternativas de marketing do produto. “A inclusão do Brasil como origem para entrega de café na ICE Futures deverá ampliar a visibilidade e a credibilidade do produto e, desta forma, a sua competitividade no mercado externo”, considera.

Fonte: Coffee Break

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