BRADESCO ANALISA MUDANÇAS ESTRUTURAIS DO MERCADO DE CAFÉ

O problema da volatilidade de preços do café, que é uma das principais fontes de preocupação do governo em relação ao setor, pois implica uso de políticas públicas para assegurar a renda dos cafeicultores nos momento de baixa das cotações, parece que será equacionado pela própria dinâmica do mercado. A economista Regina Helena Couto Silva, do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos (Depec) do Bradesco, aborda a questão das mudanças estruturais no mercado de café, que devem favorecer fluxos mais equilibrados de oferta e de demanda, implicando menores níveis de volatilidade das cotações.

Regina Helena observa que três dinâmicas distintas já podem ser identificadas no mercado mundial de café, que devem trazer melhor ajuste tanto pelo lado da oferta quanto pelo lado da demanda, suavizando a volatilidade das cotações internacionais: a expansão do consumo de café nos países emergentes; o avanço da fronteira agrícola para o oeste baiano, com investimentos em agricultura tecnificada; e a correção da bienalidade da lavoura no Brasil.

Ao analisar os números, a economista nota que nos últimos dez anos o consumo global de café cresceu a uma taxa média de 2,3% ao ano, com expansão mais robusta nos países emergentes (elevação média anual de 4% entre 2003 e 2012), enquanto nos tradicionais consumidores, os países desenvolvidos, onde a bebida já faz parte da cesta básica, o aumento foi de em média 1,4% ao ano. Segundo ela, a participação dos desenvolvidos no consumo global caiu de 64% em 2002 para 59% em 2012, ao passo que a dos emergentes cresceu de 36% para 41%. No período, os emergentes responderam por 66% da expansão global de consumo de café, enquanto os desenvolvidos responderam por 34%.

Outro aspecto observado pela economista é a correção da bienalidade, alternância entre safras de alta e baixa produtividade, das lavouras de café no Brasil. Ela nota que nos últimos dez anos a diferença da produção entre safras cheias e de baixa produtividade vem se reduzindo, por causa de uma combinação de fatores: tratos culturais mais adequados e maior uso de irrigação; poda dos cafeeiros; adensamento das lavouras; investimento na renovação dos cafezais; e a inversão da bienalidade na Zona da Mata em Minas Gerais.

Regina Helena lembra que normalmente a variação de uma safra para outra gira entre 20% e 30% para mais, em ano de bienalidade alta, ou para menos, em ano de bienalidade baixa. A variação vem diminuindo para intervalos de 15% e deve chegar a apenas 5,5% (para menos) na atual safra 2013/14, conforme estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Além dos investimentos nos cafezais, propiciados pelo bom nível de rentabilidade registrado nos últimos três anos, outro fator que contribui para atenuar a bienalidade, segundo a economista, é a mudança regional na produção. Cultura tradicional das regiões Sul e Sudeste, aos poucos o café avança para o cerrado baiano. Regina Helena observa que nas novas áreas a agricultura é tecnificada, irrigada e mecanizada, o que se traduz em menor custo com mão de obra.

Ela cita dados da Conab, que mostram que a participação da mão de obra na lavoura de café na Bahia é de 4%, enquanto que no Sul de Minas é de 40% e em São Paulo é de quase 60%. Segundo ela, o sistema de produção garante, além do menor custo de produção comparativamente às demais regiões, um maior nível de produtividade. No cerrado baiano a produtividade chega a pouco mais de 40 sacas por hectare, sendo a média nacional de 23 sacas por hectare. "Com os investimentos realizados nos últimos anos a participação da Bahia na produção nacional passou de 3,4% nos anos 1980 para 6% na média dos três últimos anos. Ao mesmo tempo a participação do Sul caiu de 14% para 4,4%, enquanto a participação do Sudeste subiu de 78,4% para 84,1%."

Regina Helena observa que a volatilidade deve ser suavizada, mas as intempéries climáticas continuarão provocando oscilações nas cotações tanto do café quanto de qualquer outra commodity. No curto prazo ela acredita que as cotações devem seguir movimento de elevação, refletindo a safra de baixa bienalidade no Brasil. "O piso para as cotações será dado pelos estoques globais que estão baixos, mas que devem girar em torno deste novo patamar, algo entre 15% e 20% do consumo global, lembrando que historicamente eram mais de 30%".

* Venilson Ferreira é jornalista da Agência Estado e publica semanalmente sua coluna no AE Agronegócios.

Fonte: Agência Estado

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