Bienalidade e clima deverão afetar colheita de café arábica em 2017/18

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Com a colheita da safra 2016/17 de café arábica se aproximando do fim no país, já começam a surgir incertezas em relação ao próximo ciclo, o 2017/18. A florada da nova temporada se iniciou precocemente em parte dos cafezais do Sudeste – principal região produtora do país – após chuvas em agosto, e as condições das plantas preocupam especialistas e produtores.

Além de o próximo ciclo ter bienalidade negativa – o que já sinaliza menor produção – problemas climáticos afetaram o desenvolvimento vegetativo das plantas, de acordo com a Fundação Procafé. Isso poderia agravar o quadro, levando a uma queda ainda maior da colheita em relação à safra atual, que está estimada em 40,3 milhões de sacas, segundo a última estimativa da Conab.

Embora algumas previsões de queda para a próxima safra já circulem no mercado, mesmo no setor produtivo e entre operadores a avaliação é que é cedo para estimar qual o tamanho da eventual redução. Isso porque o desenvolvimento da safra vai depender, em grande parte, do comportamento das chuvas.

As principais intempéries que afetaram o desenvolvimento das plantas para a próxima safra foram a forte estiagem entre os meses de abril e maio, a geada em junho e o inverno chuvoso. Segundo Marco Antonio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima, o clima “extremamente quente” impactou o desenvolvimento das plantas. As geadas em algumas áreas de cultivo também devem resultar em redução da produção, pois queimaram parte das folhagens das plantas.

Cafeeiros submetidos a esqueletamento em Alfenas, Sul de Minas: produção "zero" em 2016/17 e recuperação em 2017/18. (Foto: Valor Econômico)
Cafeeiros submetidos a esqueletamento em Alfenas, Sul de Minas: produção “zero” em 2016/17 e recuperação em 2017/18. (Foto: Valor Econômico)

Agrônomos da Fundação Procafé afirmam, em nota técnica, que cafezais do Sul de Minas, do Alto Paranaíba e da Mogiana, em São Paulo, apresentam um estado vegetativo desfavorável, com plantas desfolhadas e ramos poucos desenvolvidos.

Entre os problemas que deixaram as plantas nessas condições estão também as fortes chuvas no fim de 2015 e início deste ano, segundo a Procafé. José Braz Matiello, especialista da Procafé, explica que essas precipitações “lavaram” a primeira adubação dos cafezais, afetando a nutrição das plantas. Ele também cita a estiagem entre abril e maio deste ano e o inverno chuvoso, que favoreceu doenças.

Com os ramos dos cafeeiros menos desenvolvidos, há menor área para os frutos do café, explica Santos, da Rural Clima. Além disso, segundo a Procafé, ramos nessas condições “não apresentam boas condições para suportar a floração e a frutificação”. Assim, as floradas – que devem se intensificar entre meados de setembro e meados de novembro, com as chuvas – podem ter “baixo pegamento”.

As condições ruins dos cafezais em algumas regiões têm levado produtores a antecipar podas que fariam no ano que vem, para recuperar os cafeeiros, segundo Matiello. Em muitos casos, têm sido feita a chamada “poda zero”, com o esqueletamento das plantas. Nesse caso, a produção dessas plantas será zero no ciclo 2016/17 e só vai se recuperar na safra seguinte.

Santos, da Rural Clima, pondera que o esqueletamento – que ajuda a reduzir o custo das lavouras – tem sido feito apenas em partes das propriedades, mas tem ocorrido em várias regiões de café do país.

Com as primeiras floradas ocorrendo nos cafezais do Sudeste, a expectativa agora é em relação às chuvas, fundamentais para que as flores vinguem. As previsões atuais indicam que em setembro deve haver menos episódios de chuvas nas regiões de café do país, de acordo com Santos. Esse cenário poderia afetar o pegamento das floradas.

O presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro, diz que é cedo para fazer prognósticos para a próxima safra de arábica. Ele também destaca que o desempenho “vai depender do volume de chuvas”. Afora isso, o dirigente observa que a bienalidade no café é menos acentuada hoje do que era no passado, já que houve incremento nos tratos culturais dos cafezais.

Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooxupé, de Guaxupé (MG), a maior exportadora de café do país, considera que será possível fazer uma avaliação sobre as primeiras floradas quando chover. Segundo ele, o que é certo, até agora, é que as geadas de junho devem provocar uma quebra de 5% na próxima safra na região de atuação da cooperativa, que no ciclo atual colhe 19 milhões de sacas. Agrônomos da Cooxupé chegaram a esse percentual pois foram a campo após as geadas. Mas como houve outros problemas climáticos, como a seca de abril e maio, a queda pode ser maior, diz Costa.

As preocupações com a próxima safra ainda não influenciam o mercado futuro em Nova York. Os baixos estoques brasileiros de café é que têm sido os responsáveis pelas recentes altas na bolsa americana, segundo Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes. Nesse cenário, qualquer receio em relação à produção da próxima safra deixa o mercado ainda mais nervoso. “Não há margem para erro. Tem que chover e ter boas floradas para o Brasil conseguir manter o ritmo de exportação, porque se isso não acontecer nós não vamos conseguir mantê-lo”. (Colaborou Cleyton Vilarino)

Fonte: Valor Econômico (Por Alda do Amaral Rocha)

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