Baixistas têm argumentos de sobra contra os surrados altistas

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Por Rodrigo Costa*

Rodrigo Correa da Costa - ArcherO mar de liquidez financeira no qual o mundo continua nadando promovido, entre outras coisas, pelo baixo custo do dinheiro e pelos balanços inchados dos bancos centrais das grandes economias, mantem o apetite dos investidores em alta.

As bolsas de ações americanas acumulam altas de 5% a 6% em três semanas, todas fazendo novas máximas, para variar um pouco. Na Europa os ganhos são de mais de 6%, sendo que apenas no Reino Unido é de 10.75% em menos de vinte dias uteis.

Perspectivas de crescimento econômico nos Estados Unidos, Europa e Japão, o primeiro também atraindo compras de ativo de risco em cima da aposta dos estímulos fiscais promovido por Donald Trump, são outros ingredientes que estimulam a compra de ativos de risco.

Os índices das commodities não ficaram para trás, subindo fortemente como, por exemplo, o CRB que atingiu o mais alto nível desde outubro de 2015 puxado pelos ganhos do suco de laranja, gás-natural, algodão, petróleo e a gasolina. Dos componentes do índice os metais industriais, o café e o açúcar cederam, sendo que o último quase 13% e o penúltimo 4%, em Nova Iorque.

Curiosamente os fundos de índice há um pouco mais de uma semana foram compradores de 50 mil lotes de açúcar e 7 mil lotes de café, e ambas matérias-primas cederam. Em algumas sessões o café seguia a performance do açúcar, talvez em função das chuvas boas caindo nas regiões produtoras do Brasil. Fundamentalmente o demerara teve mais motivos para ceder, pelo menos para quem observa de longe.

A pressão vendedora no arábica pode ter sido influenciada, parcialmente, pela fraqueza do robusta em Londres. A proximidade das comemorações do ano novo lunar no Vietnã trouxe um pouco de venda no mercado, assim como o panorama favorável da safra brasileira de conilon.

Desde meu último comentário, no dia 17 de dezembro de 2017, Nova Iorque ficou dentro do mesmo intervalo de negociação que temos acompanhado de meados de outubro para cá. No primeiro dia útil de 2018 o mercado puxou forte, fechando acima de US$ 130.00 centavos, mas nos dias seguintes não conseguiu sustentar e na última sexta-feira tocou US$ 119.60 centavos por libra.

De novidades tivemos a divulgação da primeira estimativa da safra 2018/2019 brasileira pela CONAB, com a expectativa de uma colheita entre 54.44 e 58.51 milhões de sacas, dividida entre 12.7 a 13.96 milhões de sacas de conilon e 41.74 a 44.55 milhões de sacas de arábica. A parte alta do intervalo está mais alinhada com a percepção do mercado, mais ainda para a arábica do que para o conilon, que muitos acreditam ser acima de 15 milhões de sacas.

Os estoques de café nos Estados Unidos, Europa e Japão caíram nos últimos meses divulgados, tendência que deve ser mantida até a chegada da safra do Brasil. Os certificados da ICE, entretanto, voltaram para cima de 2 milhões de sacas, sinal negativo para os suaves, que devem ter uma utilização menor no próximo ciclo em função da maior oferta dos naturais brasileiros.

A janela de uma possível alta para o terminal deve ficar aberta até provavelmente o começo de abril, quando os preparativos para a colheita na maior origem do mundo devem fazer alguns agentes antecipar uma pressão de vendas, que muitos acreditam acontecerá por parte dos produtores.

Os altistas, cansados de tomar tantas surras, falam em uma retenção natural dos produtores e em uma re-estocagem nas origens devido aos preços estarem longe do desejável por quem está no campo. Os bulls também mantém as apostas na posição grande vendida dos fundos – que convenhamos desde outubro não serviu para nada mais do que puxar as cotações um pouco mais de US$ 10 centavos, quando liquidaram uma parte das vendas, para depois as bolsas voltarem a afundar.

Há ainda os argumentos positivos causados pelo enfraquecimento do dólar-americano, o apetite forte para ativos de riscos, incluindo as commodities, e um possível impedimento da candidatura do Lula para as eleições presidenciais neste ano – que pode fazer o Real disparar.

Os baixistas, estes sim tem acertado desde novembro de 2016, acham que a disponibilidade de café é mais do que suficiente para aguentar a chegada do Brasil, em maio, e continuam não vendo nada que justifique ficar comprado em um mercado de carrego.

Vale lembrar que preços mais baixos em Nova Iorque e Londres não ajudam a ninguém, pois a indústria quer diferenciais mais baratos, assim como qualquer outro participante que esteja vendido no mercado físico – que é o natural para grande parte dos comerciantes que brigam para vender para cada vez menos compradores.

Os diferenciais, por sinal, estão firmes para praticamente todas as origens, e talvez possam ser estes que descontarão uma oferta represada por algum tempo, até voltarmos a ter razões fundamentais que atraia compras suficientes para sustentar as cotações internacionais.

Certeza mesmo (palavra perigosa de ser usada) é que ao menos dentro do Brasil os spreads (diferença de preço entre as qualidades) voltará para próximo do normal em 18/19 se o país produzir mais de 15 milhões de sacas de conilon – o que já é alguma coisa…

Um excelente 2018 para todos nós, com saúde a otimismo!

*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

Fonte: Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda

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